
Desextinção – ou “ressurreição” de espécies extintas – não é uma ideia nova. Nos últimos anos, no entanto, esse conceito ganhou um fôlego com o avanço da biotecnologia e da engenharia genética.
Empresas como a Colossal Biosciences, com sede no Texas, EUA, têm se destacado nesse campo. Seus projetos focam em usar tecnologias como a edição de genes para tentar trazer de volta animais como o mamute lanoso, o lobo terrível e o tilacino (tigre da Tasmânia), além de outras espécies.
Em poucas palavras:
- Desextinção é o nome dado à proposta de usar engenharia genética e parentes vivos para recriar espécies que já não existem mais;
- Empresas como a norte-americana Colossal Biosciences produzem versões modernas de animais como mamutes e lobos terríveis, com traços dos originais;
- Esses animais são híbridos e não réplicas fiéis, pois o DNA antigo disponível é incompleto;
- Isso levanta a dúvida: estamos revivendo espécies extintas ou criando algo novo?
- Mesmo sem cópias exatas, os cientistas esperam restaurar funções ecológicas e ajudar na conservação.
Essas tentativas recentes ganharam grande visibilidade – e não é difícil entender por quê. O público imediatamente associa a ideia de “desextinção” a imagens de criaturas como o mamute ou até mesmo ao famoso filme Jurassic Park, com seus dinossauros ressuscitados por engenharia genética. No entanto, a realidade científica é um pouco mais complexa do que simplesmente trazer de volta animais que já não existem mais.
Mamute lanoso pode ser realmente trazido de volta à vida?
Para “ressuscitar” o mamute lanoso, os cientistas da Colossal estão utilizando o genoma de elefantes asiáticos como base, com o objetivo de criar um animal que compartilhe algumas das características dos mamutes, como pelagem espessa, resistência ao frio e adaptação ao ambiente da tundra.
O projeto não se baseia em um processo de clonagem do mamute em si, mas na edição genética do genoma de elefantes modernos para incorporar os genes específicos que conferem as características da espécie pré-histórica.
Conforme destaca Timothy Hearn, professor sênior de Bioinformática na Universidade de Anglia Ruskin, Reino Unido, em um artigo publicado no site The Conversation, a dificuldade em ressuscitar espécies extintas vai além do simples fato de obter amostras de DNA antigo.

Hearn explica que o genoma de muitas dessas espécies extintas está fragmentado, o que significa que, para preencher as lacunas genéticas, os cientistas precisam recorrer a parentes vivos das criaturas originais, como o elefante asiático, por exemplo. Isso resulta na criação de um organismo híbrido, que pode se assemelhar fisicamente a um mamute, mas não é uma cópia exata da espécie extinta.
A “ressurreição” do lobo-terrível e o tigre da Tasmânia
Em um dos projetos mais notáveis da Colossal, o lobo terrível (Canis dirus) foi “ressuscitado” com base no lobo cinzento. Os cientistas inseriram 20 edições genéticas no genoma de um lobo moderno para imitar características-chave do lobo terrível, como o tamanho maior e a estrutura física adaptada para o frio.
No entanto, a quantidade de modificações genéticas necessárias para recriar um lobo terrível genuíno é imensa. Com apenas 20 edições, os animais resultantes ainda são muito mais próximos dos lobos modernos do que de seus ancestrais extintos. Isso levanta a pergunta: estamos criando uma cópia exata de um animal extinto ou apenas uma espécie moderna com traços de uma antiga?
Além do mamute e do lobo terrível, a Colossal Biosciences está trabalhando para “ressuscitar” o tilacino, o famoso tigre da Tasmânia, e o dodô, uma ave extinta que viveu nas Ilhas Maurício até o século XVII.

O projeto do tilacino envolve o uso de um parente próximo – o dunnart de cauda gorda, um pequeno marsupial – para criar um organismo com características do tilacino. Segundo Hearn, embora o conceito de trazer essas espécies de volta à vida seja empolgante, o que se está criando não são cópias perfeitas, mas sim versões modernas modificadas geneticamente para se assemelhar aos animais extintos.
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Por que “ressuscitar” animais extintos?
Esses projetos são exemplos de biologia sintética, um campo científico que envolve o redesenho de organismos existentes para realizar funções específicas. O objetivo dessas iniciativas, de acordo com Hearn, não é criar cópias exatas de animais extintos, mas sim restaurar características funcionais ou ecológicas desses animais – como o impacto que o mamute tinha sobre os ecossistemas da tundra.
A ideia é reintroduzir esses animais no ambiente, mesmo que não sejam geneticamente idênticos às suas versões antigas, para desempenharem papéis ecológicos perdidos ao longo do tempo.
Além disso, é importante entender que, ao trabalhar com o DNA fragmentado de espécies extintas, estamos lidando com um processo que não é uma “ressurreição” genuína. O DNA preservado dessas espécies é incompleto, o que significa que a ciência não pode simplesmente replicá-las de forma precisa. As modificações genéticas, portanto, são inevitáveis, e o que resulta são criaturas que podem se assemelhar aos antigos animais, mas não são cópias exatas deles.
Por outro lado, há iniciativas científicas que visam a preservação de espécies ameaçadas, como o caso do rinoceronte branco do norte. Com apenas duas fêmeas restantes, ambas inférteis, os cientistas estão utilizando técnicas como clonagem e reprodução assistida para tentar restaurar a população dessa espécie.
Este é um exemplo de um esforço mais próximo da verdadeira “preservação” de uma espécie, pois as células de rinocerontes brancos do norte ainda existem e estão sendo usadas para criar embriões viáveis. Isso difere dos projetos de desextinção, que lidam com espécies já desaparecidas.
Cientistas também estão considerando usar a biotecnologia para aumentar a diversidade genética de populações ameaçadas ou para tornar as espécies mais resistentes a doenças e mudanças climáticas. Nesse contexto, as técnicas de desextinção podem se transformar em uma ferramenta para preservar a biodiversidade, em vez de trazer de volta animais do passado.
Conforme explica Hearn, a palavra “desextinção” sugere um retorno do passado, mas na prática estamos criando novos organismos, com características de espécies extintas, mas geneticamente diferentes. O que estamos testemunhando não é uma verdadeira ressurreição, mas uma reinterpretação do passado por meio de tecnologias avançadas.
Em resumo, embora a ciência de desextinção tenha feito grandes avanços, os animais que estão sendo criados não são recriações exatas de suas versões extintas. Eles são, na melhor das hipóteses, versões modernizadas, adaptadas para preencher lacunas ecológicas e restaurar funções que foram perdidas com o desaparecimento dessas espécies.
Ou seja, em vez de ressurreição, estamos lidando com um processo de “reimaginação” da natureza. E, no final, isso pode ser tão valioso quanto (ou até mais) para a conservação da biodiversidade e o equilíbrio dos ecossistemas.
O post Animais extintos estão retornando? Descubra a verdade por trás da desextinção apareceu primeiro em Olhar Digital.
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