Os restos mortais de um meteorologista de 25 anos foram encontrados por uma equipe polonesa na Antártida após 66 anos de sua morte. Dennis “Tink” Bell morreu na fenda de uma geleira na Baía do Almirantado, na Ilha Rei George, em 26 de julho de 1959. Seu corpo nunca foi recuperado.
A descoberta foi feita em 19 de janeiro deste ano entre as rochas expostas pelo recuo na geleira Ecology. Em fevereiro, uma equipe polonesa multidisciplinar, incluindo um arqueólogo, um geomorfólogo, um antropólogo e um glaciologista decidiu realizar um levantamento arqueológico mais abrangente no mesmo local.
Como resultado, mais de 200 itens pessoais foram encontrados, incluindo restos de equipamento de rádio, uma lanterna, bastões de esqui, um relógio de pulso Erguel com inscrição, uma faca sueca Mora, bastões de esqui e uma haste de cachimbo de ebonite.
Depois de coletados, os restos mortais foram levados para as Ilhas Malvinas no navio de pesquisa real do Serviço Britânico de Pesquisa Antártica (BAS) e, com apoio da Força Aérea Real, levados a Londres. A identidade foi confirmada por testes de DNA realizados no King’s College London.
“Quando minha irmã Valerie e eu fomos notificadas de que nosso irmão Dennis havia sido encontrado após 66 anos, ficamos chocadas e maravilhadas. O British Antarctic Survey e o British Antarctic Monument Trust nos deram um apoio tremendo e, juntamente com a sensibilidade da equipe polonesa em trazê-lo de volta, nos ajudaram a lidar com a trágica perda do nosso brilhante irmão”, disse David Bell.
O acidente
Em julho de 1959, no auge do inverno austral, Dennis Bell e o agrimensor Jeff Stokes partiram em um trenó puxado por cães para escalar uma geleira como parte de um trabalho geológico. A neve fofa e espessa, no entanto, dificultou a subida e os cães mostraram sinais de cansaço.
Para encorajá-los, Bell foi à frente e os incitou a continuar, mas sem seus esquis. De repente, ele desapareceu, deixando um buraco enorme na ponte da fenda por onde havia caído. A tentativa de resgate foi relatada pelo ex-diretor da BAS Sir Vivian Fuchs no livro “Of Ice and Men”:
“Olhando para as profundezas, Stokes chamou repetidamente e ficou muito aliviado ao ser atendido. Baixando uma corda a quase trinta metros de distância, ordenou a Bell que se amarrasse. Como não conseguia içar o peso, amarrou sua ponta da corda à parelha. Os cães suportaram a pressão e começaram a puxar. Agora era fácil e tudo corria bem. Mas Bell havia amarrado a corda no cinto em vez de em volta do corpo, talvez devido ao ângulo em que se encontrava na fenda. Ao chegar ao topo, seu corpo se pressionou contra a borda, o cinto se rompeu e ele caiu novamente. Desta vez, não houve resposta aos chamados de Stoke. Foi uma fatalidade particularmente trágica, que realmente se sentia que nunca deveria ter acontecido, e, portanto, duplamente grave.”
Também faziam parte da equipe o meteorologista Ken Gibson e o geólogo Colin Barton, que partiram da base em um trenó cerca de meia hora após Bell e Stokes. A dupla encontrou Stokes descendo a geleira quando soprava uma nevasca. “Provavelmente se passaram doze horas até encontrarmos o local e não havia como ele ter sobrevivido”, lembra Gibson.
“Dennis foi um dos muitos corajosos membros do Serviço de Dependências das Ilhas Malvinas que contribuíram para a ciência e a exploração inicial da Antártida sob condições extraordinariamente adversas. Sua memória perdura no legado da pesquisa polar. Esta descoberta encerra um mistério de décadas e nos lembra das histórias humanas incrustadas na história da ciência antártica”, disse Dame Jane Francis, diretora da BAS.
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Irmão “herói”
Dennis Bell foi criado em Harrow, noroeste de Londres, onde estudou na Harrow County School for Boys, hoje Harrow High School. Após deixar a escola e um breve período na área de seguros, ele ingressou na Força Aérea Real para o Serviço Nacional, onde treinou como operador de rádio.
“Dennis era o mais velho de três irmãos e era meu herói, pois parecia capaz de fazer qualquer coisa, desde consertar motores a gasolina, fotografar, incluindo revelar seus próprios filmes. Ele construiu um rádio do zero, passando horas decifrando código Morse”, comentou o irmão David.
Em 1958, juntou-se ao Serviço de Dependências das Ilhas Malvinas como meteorologista e foi designado para uma missão de dois anos em Admiralty Bay, uma pequena base britânica com meia dúzia de homens, na Ilha Rei George. A família agora decidirá como pretende homenageá-lo.
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