Um novo livro, “Limite de Caracteres: Como Elon Musk Destruiu o Twitter”, dos jornalistas estadunidenses Ryan Mac e Kate Conger, publicado pela editora Todavia, mostra os bastidores da vida de um dos personagens mais peculiares do setor de tecnologia.
Entre várias polêmicas que o bilionário já causou, a obra fala da conturbada compra do antigo Twitter (atual X) há dois anos e suas mudanças internas, que causaram queda livre no valor de mercado da empresa.
Obra sobre Elon Musk revela pormenores de suas polêmicas
- O prejuízo que Musk causou ao X fica em segundo plano, já que seu poder na Tesla e SpaceX o deixa tranquilo para lidar com governantes e rombos causados em suas outras empresas;
- Ao UOL, Mac disse que “Ele chegou a um ponto em que é tão poderoso que não liga mais”
- Os autores apontam, ainda, que o sul-africano tem o Brasil como uma de suas obsessões, tendo agido diretamente para impedir a deleção de publicações mentirosas no X;
- Mas sua atual vontade é a de eleger Donald Trump como presidente dos Estados Unidos. É só lembrarmos do sorteio que ele está promovendo entre os eleitores de Trump, que já foi questionado pela Justiça local, ignorada por Musk;
- Ao portal Mac também frisou que “as coisas ficam loucas a cada dia”.
Em entrevista ao UOL, o autor alega que a afirmação de que Musk destruiu o Twitter se dá porque “ele comprou [o Twitter] por US$ 44 bilhões [R$ 258,27 bilhões, na conversão direta] e a empresa hoje é avaliada entre US$ 8 bilhões e US$ 9 bilhões [46,95 bilhões e 52,82 bilhões]. É uma destruição de valor incrível”.
“Ele eliminou muitos empregos e deu espaço para contas que promovem ódio. No Brasil, ele deixou de existir por muitos dias. Não digo que ele destruiu tudo, mas mudou dramaticamente, degradou e tornou efetivamente pior”, prosseguiu.
Quando perguntado sobre se os princípios de liberdade de expressão existentes no Twitter foram destruídos no X, Mac relembra que a empresa sempre enfrentou dificuldades com o tema, além de que vários temas, como racismo, abuso e ódio, não são coisas que as pessoas querem ver, afastando-as da rede social.
“Então, eles se mexeram para moderar o conteúdo. Claro que não era um ambiente perfeito, mas eles tinham conseguido algo importante para uma rede baseada em publicidade”, disse o autor.
“Quando Elon Musk veio com essa ideia de liberdade total, pareceu boa. Quem não apoia liberdade de expressão? Mas sua aplicação às vezes não é possível. Você não pode ter pessoas gritando umas com as outras, usando insultos raciais. Foi uma mistura de ingenuidade, equívoco e inexperiência.”
O que derrubou de vez o Twitter?
Para o jornalista, o “golpe fatal” que ratificou a destruição da plataforma foi o primeiro dia da rodada de fortes demissões que Musk realizou logo que assumiu o então Twitter. “Musk chegou à sede da empresa e garantiu aos funcionários que não haveria grandes mudanças ou demissões. Nos bastidores, porém, já planejava os cortes”, contou.
“Quando as pessoas começaram a ser desconectadas de computadores e seus crachás pararam de funcionar, a ficha caiu. Ele prometeu proteger os funcionários, mas agiu como um açougueiro que tranquiliza a vaca antes de abatê-la. E sabia o que faria desde o início”, enfatizou Mac.
A inconstância do empresário em suas decisões também é debatida, especificamente, sobre seu objetivo de suas demissões. Na opinião do autor, “é interessante esse vaivém e nem ele parece saber a resposta. No início, ele faz uma nota simpática para os anunciantes. Diz que não vai fazer do Twitter um ‘esgoto’, vai ser responsável e continuar a ter moderação, pois os anunciantes são importantes para ele”.
“Nas semanas seguintes, ele deixou entrar defensores de Hitler, supremacistas brancos, teóricos da conspiração. Não sabemos se ele queria acabar com a ‘censura’ do antigo Twitter, como dizia, ou só cortar custos. No fim, ele fazia o que era conveniente.”
Mac também contou que o livro, que possui tons de humor, é uma “comédia sombria, “afinal, as pessoas perderam seus empregos e seus planos de saúde. Mas tinha mesmo esse clima de ‘o que está acontecendo aqui?’. Era tudo muito louco”.
Foram mais de 100 pessoas entrevistadas, além de acessoo a gravações internas, documentos, menagens, etc. “Algumas histórias eram tão absurdas que precisávamos de muita confirmação”, relembrou o jornalista.
“Por exemplo, Musk pediu uma auditoria de todos os empregados, pois achava que o Twitter tinha contratado funcionários falsos ou fantasmas. Ele fez o RH confirmar se todos existiam. Isso é simplesmente ridículo. Tivemos que verificar essa história com várias fontes.”
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Musk, Bolsonaro e a “guerra” contra a Justiça brasileira
Ao ser abordado sobre a queda de braço entre o empresário e o governo brasileiro, Mac acredita que o resultado da “contenda” foi tanto uma derrota completa para Musk, como uma comprovação do ponto que ele defendia: que o Brasil estaria, supostamente, sensurando o X.
“Musk se alinhou a Bolsonaro e nutriu um relacionamento com ele, e a situação permitiu que ele levantasse a bandeira da liberdade de expressão. Mas, ao ceder à pressão, Musk passou um recado contraditório. Demonstrou que, sob pressão, está disposto a ceder”, explanou.
E prosseguiu: “Por outro lado, a empresa precisa muito de anunciantes e o negócio está afundando. O Brasil é importante, o quarto maior mercado deles. A receita no País é crucial para o X. Tanto que ele não falou nada sobre o Brasil após o retorno.”
Como Mac relatou acima, Musk começou a se interessar cada vez mais por Bolsonaro, algo que, como afirmou o autor, começou antes da compra do Twitter. “Ele queria expandir a Starlink para a Amazônia. Bolsonaro, por sua vez, via vantagem em se ligar a um empresário de renome como Musk. Esses interesses mútuos levaram à vinda dele ao Brasil em maio de 2022”, explicou.
“Após comprar o Twitter, Musk notou que muitos criadores de desinformação eleitoral eram apoiadores de Bolsonaro. Essa percepção parece ter solidificado a aliança e levado Musk a se envolver diretamente na moderação relacionada à eleição e aos atos antidemocráticos.”
Os estadunidenses também tratam das brigas que o bilionário arranja e que acabam prejudicando seus negócios. “Ele diz que segue princípios que vão além de seus interesses comerciais. E vai continuar fazendo. Do ponto de vista empresarial, a maioria das pessoas não faria isso. Se você apoia um governo ou um partido e um novo entra, sua situação fica difícil em qualquer país”, pontuou Mac.
Ele chegou a um ponto em que é tão poderoso que não liga mais. A Starlink é muito funcional. Talvez ele saiba que, não importa o que diga, os países ainda dependerão dele na tecnologia, porque ele é o único que pode fornecer.
Pense na Ucrânia, onde a Starlink é fundamental na guerra contra a Rússia. Mesmo assim, Musk está dizendo coisas boas da Rússia, repetindo falas do Putin. A Ucrânia não gosta, mas tem que tolerar, porque ele fornece uma tecnologia indispensável. Ele percebe isso.
Ryan Mac, jornalista e coautor do livro, em entrevista ao UOL
E o X, vai virar o novo Truth Social, rede de Trump que tem baixa relevância? Para Mac, “em certo sentido, o X já é o Truth Social do Elon Musk”.
“É a plataforma que ele quer. Ele virou o usuário mais seguido, mais de 200 milhões de seguidores. Se você vai na aba “For You” [recomendações], só dá ele. É o megafone de Musk, mesmo que você não o siga”, disse.
Redes sociais dependem de inovação e aumento de usuários. Nesse sentido, não vejo o X crescer. Aqui nos EUA nós temos o Yahoo, uma empresa antiga. Mas muita gente acaba ficando lá porque já tem um Yahoo Mail.
O X pode virar algo assim. Um grupo de pessoas que já usa, vê algum valor e continua lá. Mas aquele plano de virar uma plataforma de massa, um ponto de encontro onde pessoas de todo tipo vão se juntar e debater, aquilo já era.
Ryan Mac, jornalista e coautor do livro, em entrevista ao UOL
Pretensões do empresário com Trump e o governo dos EUA
Outro ponto abordado na obra é a obsessão de Musk por Trump e o quão longe ele pode ir pelo ex-presidente. Mac é enfático: “Ele já foi muito longe e está testando os limites das leis eleitorais nos EUA. A gente nunca viu uma coisa como esse sorteio antes neste país. Ele está subindo no palco para Trump”.
“Ele já doou US$ 75 milhões [R$ 440,24 milhões, mas o valor subiu para US$ 118 milhões, ou R$ 692,64 milhões, após a entrevista; menos de 0,05% de sua fortuna]. Ainda temos alguns dias para ele fazer de tudo”, prosseguiu.
Por fim, ao responder sobre se Musk teria interesse em entrar para o governo dos EUA, Mac entende que não é o caso. “Ele já é uma pessoa com poder imenso sobre o governo dos EUA, seja ou não membro de um gabinete. Entendemos isso quando fizemos o livro, por isso, não imaginamos que ele fosse pedir para trabalhar num governo Trump dessa forma.”
“Mas as coisas ficam mais loucas a cada dia. Não está claro o que isso significa até agora, eles estão só falando sobre essa tal ‘comissão de eficiência’ de um eventual governo”, concluiu.
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