
A startup norte-americana Reliable Robotics vem chamando atenção por apostar em aviões capazes de voar sem piloto a bordo, um conceito que há anos desperta interesse e ceticismo na aviação. A empresa realiza testes na Califórnia com um modelo Cessna Caravan totalmente automatizado, acompanhado apenas por um piloto e um engenheiro de segurança.
O projeto faz parte de uma tendência crescente no setor aéreo, que busca ampliar a autonomia das aeronaves para aplicações militares, de carga e, futuramente, de transporte de passageiros.
Enquanto gigantes como Boeing e Airbus trabalham para incorporar mais automação nos cockpits, startups como a Reliable querem eliminar completamente a necessidade de humanos nos comandos. O avanço, no entanto, ainda depende de fatores técnicos, regulatórios e, sobretudo, da aceitação do público em embarcar em aviões sem pilotos.
Testes e parcerias com o setor militar
A Reliable Robotics assinou recentemente um contrato de US$ 17 milhões com a Força Aérea dos Estados Unidos para desenvolver e testar voos de carga autônomos. Em um experimento recente, a empresa monitorou em tempo real um Cessna voando de forma independente sobre o norte da Califórnia, testando novos sistemas de radar e prevenção de colisões.

Outras empresas também estão investindo nesse tipo de tecnologia. A Joby Aviation, fabricante de táxis aéreos elétricos, conduziu testes semelhantes sobre o oceano Pacífico, com aeronaves sem piloto controladas remotamente.
De acordo com o CEO da Reliable, Robert Rose, o objetivo é conseguir a certificação da Administração Federal de Aviação (FAA) para operar aviões totalmente controlados do solo até 2028. “A questão principal não é mais a tecnologia, mas sim a aceitação dos passageiros”, afirmou ao Wall Street Journal.
Automação crescente em voos comerciais
A automação já faz parte do cotidiano da aviação comercial. Em condições normais, aviões modernos conseguem decolar, voar e pousar praticamente sozinhos, com o piloto monitorando e inserindo comandos no sistema. Essa evolução reduziu a necessidade de tripulações maiores, que no passado incluíam navegadores e engenheiros de voo.
Mesmo assim, sindicatos de pilotos, como a Air Line Pilots Association, defendem que a presença de dois profissionais bem treinados continua essencial para garantir a segurança, especialmente em emergências.

A Airbus trabalha em um projeto chamado eMCO (Extended Minimum Crew Operations), que pretende permitir apenas um piloto no cockpit durante parte dos voos de longa duração. O sistema utiliza recursos de “automação inteligente”, já presentes no Airbus A350, que executam ações automáticas em situações de risco — como uma despressurização —, enviando alertas e ajustando a altitude sem intervenção humana imediata.
Boeing aposta em automação com supervisão humana
A Boeing também revisou sua abordagem em relação à automação após os acidentes fatais envolvendo o 737 MAX, entre 2018 e 2019. Desde então, a empresa vem priorizando sistemas mais inteligentes e menos dependentes da reação humana.
Um dos principais projetos é o Wisk, um táxi aéreo elétrico totalmente autônomo, supervisionado por controladores em terra. O piloto-chefe comercial da Boeing, Jim Webb, afirmou ao WSJ que essas tecnologias devem “melhorar a tomada de decisão” e reduzir a carga de trabalho dos pilotos, sem removê-los completamente da cabine.
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Desafios técnicos e de confiança pública da aviação autônoma
Embora o voo autônomo já seja tecnicamente viável, autoridades regulatórias ainda exigem comprovação de segurança antes de liberar operações em larga escala. A Agência Europeia de Segurança da Aviação (EASA), por exemplo, mantém a exigência de dois pilotos em voos comerciais e afirma que novas tecnologias só poderão ser aprovadas após comprovarem benefícios reais em segurança.
Além disso, há o desafio de convencer o público. Pilotos representam, para muitos passageiros, um símbolo de segurança e controle — especialmente em momentos de turbulência ou falhas técnicas. “Não acredito que veremos operações totalmente autônomas com passageiros tão cedo”, declarou Rose.
O executivo afirma que os primeiros voos comerciais autônomos da Reliable devem ocorrer em Albuquerque, no Novo México, com aeronaves projetadas para operar em áreas urbanas e próximas a aeroportos movimentados. A empresa também trabalha em radares embarcados e atuadores reforçados, que substituem os movimentos físicos dos pilotos sobre os comandos do avião.
O futuro da aviação
Especialistas preveem que a autonomia aérea seguirá o mesmo caminho dos carros autônomos: uma adoção gradual, começando por usos restritos, como transporte de carga, até chegar ao transporte de passageiros.
Eric Allison, diretor de produto da Joby Aviation, explicou ao WSJ que a convivência com “robôs do cotidiano” — sejam carros, drones domésticos ou aviões — tende a se tornar algo natural com o tempo.
O post Aviões autônomos avançam e prometem mudar o transporte aéreo apareceu primeiro em Olhar Digital.
Fonte: https://olhardigital.com.br/2025/10/10/carros-e-tecnologia/avioes-autonomos-avancam-e-prometem-mudar-o-transporte-aereo/