Localizado no sopé dos Himalaias, o Vale do Caxemira tem uma paisagem deslumbrante marcada por uma “nuvem de neblina” que muitas vezes preenche o espaço outrora ocupado por um vasto lago de água doce. Entretanto, o que parece ser um fenômeno natural tem, na verdade, uma origem mais preocupante: a atividade humana.
O Vale do Caxemira é uma depressão em forma de tigela, com cerca de 135 km de extensão e 32 km de largura, cercado por montanhas, incluindo os Himalaias ao norte, sul e oeste. O fundo do vale está a aproximadamente 1.800 metros acima do nível do mar, enquanto alguns picos ao redor chegam a até 1.200 metros acima da base do vale.
Segundo o Observatório da Terra da NASA, esse vale era um enorme lago de água doce há cerca de 4,5 milhões de anos. Hoje, o formato de bacia e os sedimentos arenosos no fundo do vale são as únicas evidências desse antigo lago.
Formação da neblina no Vale do Caxemira
- Nuvens gigantes de neblina podem se formar no vale sob certas condições, preenchendo o espaço outrora ocupado pelas águas.
- Normalmente, a neblina é composta por névoa e nevoeiro, que surgem quando o ar quente passa sobre o solo frio, formando o que é conhecido como inversão térmica.
- Nesse fenômeno, o vapor de água fica preso entre o solo frio e o ar mais quente, criando uma camada de névoa que pode permanecer presa no vale por dias, contida pelas altas montanhas.
- As inversões térmicas são comuns no inverno, quando o solo está mais frio e a neve cobre parte da paisagem, como é possível ver em algumas imagens do vale.
- Contudo, a neblina que preenche o Vale do Caxemira não é composta apenas de umidade natural.
Poluição e atividade humana
A maior parte da neblina observada no vale hoje é causada por poluição. Imagens de satélite capturadas pelo Observatório da Terra mostram altos níveis de poluição no ar, com a principal fonte sendo fábricas de produção de carvão e usinas de biomassa que geram eletricidade para a região. Esses poluentes são responsáveis pela maior parte da nuvem de neblina visível no vale, exacerbando os efeitos da inversão térmica e prejudicando a qualidade do ar.
Impactos nos lagos do vale
Apesar de o Vale do Caxemira não ser mais o enorme lago que foi milhões de anos atrás, ele ainda abriga pequenos lagos espalhados pelo seu chão rochoso. Entretanto, essas formações aquáticas estão sofrendo com estressores causados pela ação humana. Imagens de satélite recentes mostram que muitos dos lagos do vale estão passando por um processo chamado eutrofização.
Esse fenômeno ocorre quando há um excesso de nutrientes nas vias fluviais, geralmente como resultado da urbanização. O excesso de nutrientes estimula o crescimento de algas e plantas na superfície dos lagos, o que acaba por sufocar as águas abaixo, privando-as de oxigênio e tornando-as tóxicas para a vida aquática.
O maior corpo de água do vale, o Lago Wular, já teve mais da metade de suas águas afetadas pela eutrofização ao longo da última década, o que resultou em uma drástica redução da biodiversidade local.
Causas da eutrofização
A principal causa desse desequilíbrio ecológico é a remoção das florestas ao redor do vale, que foram substituídas por estradas, casas e áreas agrícolas. Isso facilita a entrada de nutrientes excessivos nos lagos, intensificando o processo de eutrofização e colocando em risco os ecossistemas aquáticos da região.
O Vale do Caxemira, apesar de sua beleza natural e importância ecológica, está cada vez mais ameaçado pela interferência humana, que tem transformado um cenário paradisíaco em um exemplo de como a poluição e a urbanização podem impactar negativamente o meio ambiente.
O post Beleza natural ou poluição? O segredo por trás de neblina no Himalaia apareceu primeiro em Olhar Digital.
Fonte: https://olhardigital.com.br/2024/10/08/ciencia-e-espaco/beleza-natural-ou-poluicao-o-segredo-por-tras-de-neblina-no-himalaia/