Nos últimos dias um estudo de 2020 citado em uma matéria da NASA ganhou repercussão no Brasil. A pesquisa fala sobre áreas do mundo que podem ficar inabitáveis até o ano de 2070 devido ao aumento do calor extremo, como noticiado pelo Olhar Digital.
Apesar do Brasil não ser citado na pesquisa de Colin Raymond, a matéria da NASA cita o nosso país, avaliando as regiões vulneráveis analisadas no estudo. Os dados mostram que, daqui a 50 anos, as ocorrências de morte por calor extremo no mundo podem aumentar drasticamente devido à alta umidade.
No entanto, especialistas afirmam que não necessariamente o Brasil é mais vulnerável do que outras partes do mundo. Além disso, o estudo não é uma previsão, e sim um indicativo de tendência climática.
Em entrevista à Agência Brasil, o cientista Fernando Cesario, Soluções Climáticas Naturais da The Nature Conservancy (TNC), disse que esse estudo, junto com outros, mostram como o mundo está mais perto de atingir um clima insustentável.
“Os estudos antigos mostravam que a gente só ia atingir esses níveis daqui a 100 anos, daqui a 200 anos. E o que ele mostra é que essa probabilidade, essa janela de perigo, de ter áreas muito quentes e úmidas, está mais próxima do que a gente imaginava”, afirmou.
Nesse sentido, algumas áreas do Brasil podem ser bastante vulneráveis, como grandes centros urbanos como São Paulo e Rio de Janeiro, áreas costeiras com lagos ou baias e a região próxima ao Rio Amazonas, onde a umidade é maior. Essas regiões, no entanto, não são exclusividade do Brasil.
“Achei as notícias muito alarmantes. Essas ocorrências que ele mediu são localizadas, não pega o Brasil inteiro, pega algumas faixas dentro do território e duram menos de duas horas, porque o clima é muito dinâmico. Isso não invalida a emergência climática que estamos vivendo”, explicou.
Isso não significa que o Brasil não está em emergência climática
O estudo menciona o Oriente Médio, o sudoeste da América do Norte e o Paquistão como zonas mais vulneráveis a mortes por calor extremo nas próximas décadas. Ou seja, os dados não indicam que o Brasil irá sofrer de forma especial com o calor. Mas isso não significa que estamos seguros.
Conforme o especialista, a pesquisa “mapeou eventos pontuais e de menos de duas horas. Mas se a gente continuar jogando CO2 para atmosfera e o planeta aquecendo, é muito provável que aumente a frequência desses eventos e seu tempo de duração. Isso traz risco para a saúde humana”, completou.
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Segundo o climatologista Carlos Nobre, uma das fontes mais respeitadas sobre o tema no Brasil, também à Agência Brasil, se o ritmo atual continuar e as emissões de gases não diminuírem, a temperatura poderia ficar cerca de 8 °C acima dos níveis pré-industriais a partir de 2010. “Com isso, praticamente o planeta todo se torna inabitável. Os únicos lugares habitáveis para o corpo humano serão o topo de montanhas como os Alpes, a Antártica e o Ártico”, disse Nobre.
O climatologista diz ainda que a situação pode ser revertida se a humanidade se comprometer com o controle de gases do efeito estufa.
Nós temos que torcer muito para que os países assumam a responsabilidade de começar rapidamente a reduzir as emissões de gases do efeito estufa. Em 2023, as emissões subiram em relação a 2022. Em 2024, elas continuam altas. Talvez a maior emissão seja em 2025. Depois, a previsão é estabilizar e começar a reduzir, mas a velocidade de redução tem que ser gigantesca
Carlos Nobre à Agência Brasil
Estudos já mostram problemas climáticos no Brasil
A única área verde do Nordeste pode virar deserto. O agreste, vegetação semiárida característica de alguns estados da região, está sendo engolido pelas áreas desérticas ao redor e já diminuiu em mais de 50% só no ano passado. O motivo são as secas-relâmpago que, apesar de rápidas, podem ser mortais.
O agreste é uma vegetação semi-árida que fica entre a zona da mata litorânea e as terras mais áridas do Nordeste, como a Caatinga e o sertão. Ele inclui 11 estados brasileiros, mas está diminuindo.
As informações estão presentes em um estudo da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), via Laboratório de Processamento de Imagens de Satélites (LAPIS). Os dados mostram que 55% já foi perdido devido às secas-relâmpago, fenômeno que dura de uma semana a um mês, mas costuma ser mortal. Com isso, a região pode ir de semiárida para deserto.
Cerrado também está em risco no Brasil
O Cerrado brasileiro está em seu pior momento em sete séculos, mostrou estudo publicado na Nature Communications. O aquecimento global é tão intenso na região central do Brasil que, quando a chuva cai, a água evapora sem sequer se infiltrar no terreno. E a temperatura ainda não atingiu seu máximo. O trabalho foi conduzido por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP).
Os cientistas destacaram que o Cerrado brasileiro, o segundo maior bioma da América do Sul, localizado principalmente na região centro-oeste, está vivendo uma seca sem precedentes em pelo menos 700 anos.
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