29 de outubro de 2025
Cientistas acham mais de mil “covas” no fundo do mar
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Em uma expedição para localizar o navio Endurance, de Ernest Shackleton, cientistas acabaram fazendo uma descoberta inesperada: mais de mil cavidades organizadas no leito marinho da Antártida. A equipe acreditava estar prestes a encontrar o lendário navio perdido, mas, ao enviar um veículo subaquático remoto em 2019, identificou um padrão curioso no solo oceânico — pequenas depressões limpas e circulares, em contraste com o tapete verde de fitoplâncton ao redor.

Essas marcas foram localizadas na região do mar de Weddell, uma área de difícil acesso que só pôde ser explorada depois que o iceberg A68, de 5,8 mil quilômetros quadrados, se desprendeu da plataforma de gelo Larsen C em 2017. A separação desse gigantesco bloco de gelo abriu caminho para investigações sem precedentes sob as camadas congeladas.

Descoberta subaquática inusitada

No início, a equipe ficou intrigada com o que via. “Ficamos realmente perplexos”, contou Russ Connelly, da Universidade de Essex, ao site IFLScience. “As depressões eram tão nítidas e regulares que se destacavam totalmente do fundo coberto de fitoplâncton.”

Padrões de ninhos de peixes-do-gelo, de cima à esquerda para baixo à direita: aglomerado, crescente, linha, oval, acentuado em U e ninhos isolados (Imagem: Connelly et al. / Frontiers in Marine Science)

Após análises mais detalhadas, os cientistas concluíram que não se tratava de formações aleatórias. As covas estavam organizadas em padrões geométricos, o que levantou a hipótese de comportamento animal. Logo ficou claro que eram ninhos de peixes-do-gelo, conhecidos como bacalhau-amarelo (Lindbergichthys nudifrons), uma espécie de bacalhau antártico.

Segundo Connelly, a disposição dos ninhos segue uma espécie de “teoria do rebanho egoísta”: os ninhos centrais ficam mais protegidos de predadores, enquanto os periféricos pertencem aos peixes maiores e mais fortes, capazes de se defender melhor. “Chegamos a considerar que fossem marcas de forrageamento”, explicou o pesquisador, “mas o formato uniforme e a presença dos peixes próximos mostraram que eram ninhos mantidos ativamente.”

O estudo sobre os ninhos dos peixes-do-gelo foi publicado na revista científica Frontiers in Marine Science.

bacalhau amarelo
Lindbergichthys nudifrons, uma espécie de bacalhau da Antártica, é responsável pelas “covas” no fundo do oceano (Imagem: GeSHaFish / Wikimedia Commons)

Impacto na pesquisa e na conservação

A descoberta reforça a importância ecológica do mar de Weddell, que cientistas e ambientalistas tentam transformar em uma área marinha protegida. O local abriga uma biodiversidade significativa, mesmo sob temperaturas extremas.

“A mudança climática está alterando rapidamente o mar de Weddell”, afirma a Antarctic and Southern Ocean Coalition. “O aumento dos ventos e das temperaturas está afetando o gelo marinho e pressionando ecossistemas frágeis a se adaptarem. Ainda assim, essa região não é totalmente protegida.”

Em 2018, a Alemanha propôs oficialmente a criação de uma área de proteção marinha (MPA) de mais de 2 milhões de quilômetros quadrados, abrangendo habitats polares raros e vulneráveis.

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A busca pelo Endurance

Enquanto os cientistas observavam os ninhos dos peixes-do-gelo, a expedição principal seguia em busca do Endurance, naufragado em 1915 durante a famosa expedição de Shackleton. O navio foi finalmente localizado em excelente estado de preservação, a cerca de 3 mil metros de profundidade, um século após o desaparecimento do explorador.

Imagens divulgadas mostraram o casco do navio ainda intacto, coberto por anêmonas, estrelas-do-mar e crinóides, agora parte do ecossistema local.

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Fonte: https://olhardigital.com.br/2025/10/29/ciencia-e-espaco/cientistas-acham-mais-de-mil-covas-no-fundo-do-mar-da-antartida/