9 de outubro de 2025
Colapso dos insetos: declínio de formigas indica tendência alarmante
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Um estudo publicado na revista Science revela uma crise ecológica de proporções alarmantes no arquipélago de Fiji. De acordo com a pesquisa, pelo menos 79% das espécies de formigas nativas e exclusivas da região estão enfrentando um declínio populacional severo. Esta decadência, que começou com a chegada dos primeiros humanos há aproximadamente 3.000 anos, intensificou-se dramaticamente nos últimos séculos, paralelamente à colonização e modernização das ilhas do Pacífico Sul.

A pesquisa, conduzida por uma equipe internacional do Instituto de Ciência e Tecnologia de Okinawa, do Museu de Zoologia Comparativa de Harvard e da Universidade de Maryland, serve como um alerta para um fenômeno que pode estar se repetindo com insetos endêmicos em diversas partes do globo.

Em ilhas, mudanças ambientais e biológicas acontecem em ritmo acelerado. Por serem ecossistemas isolados, as perturbações trazidas por humanos, como desmatamento, novas formas de cultivo e a chegada de espécies exóticas, têm efeitos rápidos e profundos.

Imagem: dr.salama.photography/Shutterstock

Formigas desempenham papel importante

A importância dessas formigas vai muito além de seu tamanho. Elas são peças fundamentais para a manutenção de ecossistemas saudáveis, atuando na polinização, na decomposição de matéria orgânica e no ciclo de nutrientes. Em Fiji, sua função é ainda mais peculiar: espécies nativas são conhecidas por cultivar pés de café na casca de árvores para, posteriormente, colher seu néctar.

A queda na população começou com a chegada dos primeiros humanos, há cerca de 3 mil anos, e se intensificou nos últimos séculos, em paralelo à colonização, à modernização das ilhas e à expansão de espécies invasoras. O trabalho usa uma abordagem inédita para reconstruir a história das populações e aponta um alerta que pode valer para outros insetos no mundo.

Planta Vincetoxicum nakaianum imita odor de formigas feridas. (Imagem: Mochizuki 2025)

Isso foi necessário já que entender o declínio de insetos globalmente é um desafio, principalmente pela escassez de dados de longo prazo. Muitos estudos focam apenas em tendências recentes. Para contornar essa limitação, a equipe de cientistas empregou a análise genômica comunitária de amostras históricas de museus. Isso permitiu aos pesquisadores reconstruir o passado genético das formigas, desvendando suas relações evolutivas e as flutuações de suas populações ao longo de milênios.

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Os resultados foram descritos como alarmantes pela Universidade de Maryland. “O fato de as espécies endêmicas estarem em declínio é motivo de grande preocupação, tanto para o futuro dessas espécies em Fiji quanto pela possibilidade de que seja um fenômeno muito mais generalizado”, afirma o entomologista Evan Economo, um dos autores do estudo. A pesquisa mostra que a fase mais crítica coincide com o período de colonização europeia e a introdução de práticas agrícolas intensivas.

O que se vê em Fiji pode ajudar a antecipar o que ocorre — ou está prestes a ocorrer — em outros ambientes. A equipe pretende aplicar a mesma abordagem genômica a amostras de museus de diferentes regiões do mundo, numa tentativa de entender se o “apagão” das formigas de Fiji seria apenas a ponta do iceberg. 

Na prática, as conclusões apontam para prioridades claras: controlar espécies invasoras, restaurar habitats, reduzir perturbações em áreas sensíveis e valorizar coleções científicas como ferramenta de conservação. Proteger as formigas endêmicas de Fiji não é um objetivo isolado; é um passo para manter funções ecológicas que sustentam florestas, agricultura e, em última instância, a qualidade de vida humana.

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Fonte: https://olhardigital.com.br/2025/10/09/ciencia-e-espaco/colapso-dos-insetos-declinio-de-formigas-indica-tendencia-alarmante/