16 de julho de 2025
Como a 1ª explosão nuclear criou tipo raro de matéria
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O Exército dos Estados Unidos detonou um dispositivo no primeiro teste de uma bomba nuclear do mundo, conhecido como Teste Trinity, em 16 de julho de 1945. A explosão criou um mineral: a trinitita. Décadas depois, cientistas descobriram que esse mineral tem uma forma rara de matéria conhecida como quasicristal.

A raridade é porque quasicristal quebra a regra obedecida por cristais “normais”, desde o sal de cozinha até diamantes. A regra é: átomos são organizados numa estrutura de rede que se repete no espaço tridimensional. Já em quasicristais, o padrão no qual seus átomos são organizados não se repete.

Em suma, cristais são ordenados ou desordenados. Mas quasicristais são um meio-termo. Um artigo sobre a pesquisa que os identificou na trinitita foi publicado na revista científica PNAS.

Teste Trinity: bola de fogo vaporizou e misturou tanta coisa que criou um mineral com tipo de cristal raro dentro

No Teste Trinity, a liberação de energia, equivalente a 21 quilotons de TNT, vaporizou a torre de testes de 30 metros e quilômetros de fios de cobre que a conectavam aos equipamentos de medição.

A bola de fogo (um dos momentos mais impactantes, num sentido quase literal, do filme Oppenheimer, diga-se) fundiu a torre e o cobre com o asfalto e a areia do deserto. Isso formou um vidro verde: a trinitita, com quasicristais nela.

Explosão do Teste Trinity vaporizou torre de 30 metros e quilômetros de fios de cobre (Imagem: Reprodução/YouTube)

“Quasicristais se formam em ambientes extremos que raramente existem na Terra”, explicou o geofísico Terry Wallace, do Laboratório Nacional de Los Alamos, em 2021. “Eles exigem um evento traumático com choque, temperatura e pressão extremos.”

“Normalmente, não vemos isso, exceto em algo tão dramático quanto uma explosão nuclear”, acrescentou Wallace.

Sabendo disso, uma equipe de cientistas, liderada pelo geólogo Luca Bindi, da Universidade de Florença (Itália), decidiu analisar a trinitita mais de perto. Não o vidro verde. Um tipo mais raro ainda – a trinitita vermelha. Sua coloração é por conta da incorporação de fios de cobre vaporizados.

Pedra de trinitita vermelha
Trinitita vermelha tem essa cor por conta da incorporação de fios de cobre vaporizados (Imagem: Luca Bindi e Paul J. Steinhardt/PNAS)

Eles analisaram seis amostras do mineral usando técnicas como microscopia eletrônica de varredura e difração de raios-X. Então, eles encontraram algo. Um grão de 20 lados composto de silício, cobre, cálcio e ferro. E com simetria rotacional de cinco vezes, algo impossível em cristais convencionais.

“Esse quasicristal é magnífico em sua complexidade, mas ninguém ainda consegue nos dizer por que ele se formou dessa maneira”, disse Wallace. “Um dia, um cientista ou engenheiro vai descobrir isso e teremos uma explicação termodinâmica para sua criação.”

Pesquisas deste tipo podem ajudar a ciência a entender melhor testes nucleares ilícitos. E, quem sabe, conter a proliferação de armamentos nucleares.

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Quais as chances de sobreviver a uma explosão nuclear em diferentes distâncias?

Até hoje, os únicos ataques nucleares realizados em situação de guerra aconteceram em 1945, durante a Segunda Guerra Mundial, quando os EUA lançaram duas bombas sobre o Japão com o objetivo de forçar a rendição do país e pôr fim ao conflito que já durava seis anos.

Explosões nucleares em Hiroshima (esquerda) e Nagasaki (direita) (Imagem: George R. Caron e Carlos Levy – Creative Commons)

Atualmente, o planeta ainda abriga cerca de 12,7 mil ogivas nucleares, mantidas por algumas potências militares, como Rússia (que lidera o ranking), EUA, França, Reino Unido e China, com a Coreia do Norte por último.

Diante do clima de tensão internacional, cresce o interesse público por uma pergunta que parece saída de um filme de ficção científica: o que aconteceria se uma bomba nuclear fosse detonada hoje? Saiba (e entenda) a resposta nesta matéria do Olhar Digital.

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Fonte: https://olhardigital.com.br/2025/07/16/ciencia-e-espaco/como-a-1a-explosao-nuclear-criou-tipo-raro-de-materia-80-anos-atras/