
Em 2018, a morte de Sudan, último rinoceronte-branco-do-norte macho existente no mundo, colocou a subespécie em uma situação crítica. Hoje, apenas duas fêmeas permanecem vivas: Najin e Fatu, mãe e filha, que recebem proteção armada 24 horas por dia em uma reserva no Quênia.
Najin engravidou de forma natural e deu à luz Fatu em 2000, quando vivia no zoológico de Dvůr Králové, na República Tcheca. Mas, aos 35 anos, já está em idade avançada para a espécie, além de ter desenvolvido problemas reprodutivos. Fatu, mesmo ainda jovem, com 25 anos, também não pode gerar filhotes naturalmente, devido a uma doença degenerativa no útero.
Esse cenário poderia representar o fim inevitável do rinoceronte-branco-do-norte. No entanto, os avanços na reprodução assistida trouxeram uma nova esperança. Fatu, apesar da doença, continua produzindo óvulos viáveis, que são coletados e fertilizados com espermatozoides de machos já falecidos. Os embriões criados são congelados e destinados à implantação em rinocerontes-brancos-do-sul fêmeas, que servirão como barrigas de aluguel – trabalho liderado pelo consórcio internacional BioRescue, com apoio do governo alemão.
Técnica já se mostrou funcional em rinocerontes-brancos-do-sul
Em setembro de 2023, a equipe conseguiu transferir dois embriões de rinoceronte-branco-do-sul para fêmeas na Reserva Ol Pejeta, no Quênia. A experiência resultou em uma gestação bem-sucedida, algo inédito para a espécie.
Infelizmente, o macho usado na reprodução morreu em decorrência de uma infecção bacteriana rara. O mesmo aconteceu com a fêmea, com 70 dias de gravidez. Nenhum dos casos teve ligação com a fertilização artificial. Apesar desse desfecho triste, os cientistas afirmam que o experimento teve um lado positivo, já que comprovou a viabilidade da técnica.

Thomas Hildebrandt, líder do BioRescue e professor do Instituto Leibniz, destacou a complexidade do trabalho. “Humanos são simples. Aqui, lidamos com um mamífero de 2,5 toneladas. A injeção de esperma, a fertilização e o congelamento nunca haviam sido feitos antes com rinocerontes”, disse em entrevista ao jornal The Guardian no ano passado.
Outras espécies de rinocerontes também podem ser salvas
Atualmente, de acordo com a agência de notícias AFP, 36 embriões de rinoceronte-branco-do-norte estão congelados a -196°C, armazenados na Alemanha e na Itália. Eles foram produzidos a partir de óvulos de Fatu e esperma de dois machos já falecidos. A equipe pretende realizar o primeiro implante em uma fêmea de rinoceronte-branco-do-sul ainda este ano, no Quênia.

O procedimento consiste em inserir o embrião pelo reto da fêmea, iniciando uma gestação que dura cerca de 16 meses. Se tudo der certo, será o primeiro nascimento de um rinoceronte-branco-do-norte desde 2000. O sucesso pode abrir caminho para salvar outras espécies ameaçadas, como o rinoceronte-de-sumatra, que tem apenas cerca de 40 indivíduos na natureza.
Caso a primeira gestação evolua positivamente, mais embriões serão transferidos em sequência. Os pesquisadores planejam o nascimento de até seis filhotes nos próximos anos. A ideia é que eles convivam com Najin e Fatu, aprendendo comportamentos naturais dos rinocerontes-brancos-do-norte.
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Mais do que um experimento científico
Apesar da expectativa, a baixa diversidade genética é um desafio. Segundo Hildebrandt, a solução pode ser usar edição genética com DNA coletado de indivíduos preservados em museus. “Depois, usaríamos a edição genética para inserir o material na população. Planejamos visitar todos os museus com espécimes de rinoceronte-branco-do-norte. Não é apenas um experimento científico, queremos realmente trazê-los de volta.”
Enquanto isso, a população de rinocerontes-brancos-do-sul dá sinais de recuperação. Em 2022, o número de indivíduos aumentou pela primeira vez em uma década, passando de 15.942 para 16.803. Ainda assim, a espécie continua ameaçada pela caça ilegal e perda de habitat.
Erustus Kanga, diretor do Serviço de Vida Selvagem do Quênia, celebrou os avanços. “Estamos orgulhosos de fazer parte dessa jornada desde 2009, quando os rinocerontes-brancos-do-norte chegaram ao Quênia. O trabalho com o BioRescue nos últimos anos tem sido inspirador”.
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