*Por Eric Garmes, CEO da Paschoalotto
A gestão de dívidas e a recuperação de crédito sempre foram áreas sensíveis, onde o equilíbrio entre eficiência operacional e a experiência do cliente é um desafio constante. Historicamente, a abordagem era reativa, com processos altamente manuais e, muitas vezes, desgastantes para todas as partes envolvidas. Contudo, com a ascensão da Inteligência Artificial (IA), essa realidade está mudando rapidamente. Mais do que um conjunto de algoritmos, a IA tem o potencial de transformar essa indústria ao trazer previsibilidade, personalização e agilidade — mas até que ponto estamos prontos para essa revolução?
Primeiramente, precisamos entender que o coração da transformação na recuperação de crédito por meio da IA está nos dados. Não é apenas uma questão de coletar informações, o valor real está na capacidade de analisá-las de maneira preditiva e prescritiva. Ferramentas de IA podem vasculhar montanhas de dados para identificar padrões que um ser humano jamais poderia detectar. Com isso, elas podem prever com maior precisão quais clientes têm mais chance de inadimplir e quais métodos de abordagem terão maior eficácia. Isso significa que empresas conseguem tomar decisões melhores e mais rápidas, reduzindo riscos de inadimplência e maximizando as chances de recuperação.
Imagine o seguinte cenário: um cliente que está a apenas dois meses de atraso pode receber uma proposta personalizada, que considere seu histórico de comportamento financeiro e suas preferências. Enquanto isso, outro cliente, em uma situação similar, pode ter um perfil que sugira uma abordagem completamente diferente.
A personalização que a IA oferece não só melhora os resultados para as empresas, como também diminui o desgaste emocional para o cliente, que muitas vezes vê no processo de cobrança um confronto agressivo e impessoal.
Mas a IA não para na análise de dados. Ela é também uma força motriz na automação de processos de cobrança. Tradicionalmente, as equipes de cobrança precisavam gerenciar listas infindáveis de clientes, priorizando com base em regras rígidas e inflexíveis. A IA, no entanto, consegue segmentar de forma dinâmica e automatizada, ajustando as estratégias de cobrança quase em tempo real, de acordo com o comportamento do cliente. Isso permite que as empresas sejam mais ágeis e responsivas.
Além disso, os chatbots inteligentes, alimentados por IA, têm desempenhado um papel crucial nesse contexto. Ao invés de um contato humano imediato, o cliente pode interagir com uma IA que compreende o seu histórico, preferências e contexto financeiro. Esses bots podem negociar prazos, oferecer condições de pagamento personalizadas e até detectar sinais de stress ou frustração, transferindo o atendimento para um agente humano no momento certo. É uma interface que suaviza o processo e torna a experiência mais fluida e menos invasiva.
O desafio da empatia em um mundo automatizado
A grande questão que surge com essa automação toda é: como manter a empatia em um processo tão delicado quanto a cobrança? A cobrança de dívidas é, por natureza, um tema emocionalmente carregado. Para muitas pessoas, estar em débito é fonte de vergonha, stress e ansiedade. A IA, apesar de extremamente eficiente, não é capaz de “sentir”. E, nesse ponto, muitas empresas precisam equilibrar a eficiência proporcionada pela IA com a necessidade de humanização.
Um dos caminhos para isso é o uso da IA como suporte e não como substituta dos humanos. Por mais que um sistema automatizado possa sugerir soluções, há momentos em que um toque humano é essencial. O ideal é que a IA faça o trabalho braçal — coletando dados, analisando comportamentos e automatizando processos — e os agentes humanos intervenham onde a empatia e a conexão são necessárias.
Aqui, a Inteligência Artificial pode, inclusive, ajudar a identificar esses momentos. A análise de linguagem natural pode detectar, em um e-mail ou conversa, palavras que sugerem frustração ou medo. A partir disso, a IA pode alertar um agente para intervir e conduzir a situação de forma mais sensível. É uma colaboração entre humano e máquina que resulta em uma experiência mais equilibrada e eficiente para ambas as partes.
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O Futuro da Recuperação de Crédito com IA
A cada avanço na tecnologia de IA, novas oportunidades surgem para tornar o processo de recuperação de crédito mais eficiente e menos doloroso. Já podemos vislumbrar um futuro em que os sistemas de IA, ao lado de dados cada vez mais ricos e precisos, possam prever crises financeiras antes que elas aconteçam, permitindo que as empresas ajustem suas abordagens de maneira proativa.
No entanto, a adoção dessas tecnologias exige que as empresas de recuperação de crédito evoluam também no campo ético. O uso intensivo de dados pessoais precisa ser balanceado com uma responsabilidade crescente em proteger a privacidade e o bem-estar emocional dos consumidores. A automação, por mais eficaz que seja, não pode se tornar um processo frio e impessoal, especialmente em um setor onde a relação com o cliente é tão sensível.
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Fonte: https://olhardigital.com.br/2024/10/15/colunistas/como-a-ia-esta-transformando-a-gestao-de-dividas/