
Quando pensamos em dinossauros, podemos logo imaginar criaturas gigantescas e temíveis (ou deslumbrantes, caso você seja fã de Jurassic Park). Ou esqueletos enormes e fósseis em museus. Mas esses seres pré-históricos vão muito além da curiosidade sobre o passado da Terra: eles também podem ajudar a desvendar os mistérios do câncer.
Normalmente, as pesquisas sobre dinossauros se concentram no estudo dos ossos, que fornecem pistas sobre seu tamanho, estrutura, aparência e até hábitos de vida e alimentação. Um artigo escrito por Justin Stebbing, professor de Ciências Biomédicas da Universidade de Cambridge, e publicado no The Conversation chamou atenção para outro tipo de pesquisa, que se concentra na análise dos tecidos moles presentes nos fósseis.
Isso porque, enquanto o DNA se desgasta com o tempo, as proteínas desses tecidos são preservadas por milhões de anos e podem fornecer informações sobre o câncer nos dinossauros. E isso tem consequências para nós, humanos modernos.
Qual a relação dos dinossauros com o câncer?
Vamos por partes. No artigo no The Conversation, Stebbing explica que, apesar de muitas pessoas acreditarem que o câncer é uma doença moderna, não é bem assim.
Em teoria, animais grandes e de vida longa, como baleias e elefantes, deveriam ser mais propensos ao câncer, mas muitos deles desenvolveram mecanismos de defesa. Os dinossauros poderiam seguir a mesma lógica.
Os elefantes, por exemplo, carregam cópias extras do gene TP53, um supressor de tumores. As baleias da espécie Bowhead, que podem viver mais de 200 anos, têm mecanismos ultraeficientes de reparo do DNA, e os danos ao DNA são a causa principal do câncer. Os dinossauros, como alguns dos maiores animais que já existiram, provavelmente enfrentaram problemas semelhantes.
Justin Stebbing
Mas tem um detalhe. Escavações anteriores já encontraram tumores fossilizados em espécies de Tyrannosaurus rex e Telmatosaurus, indicando que esses gigantes podem não ser imunes ao câncer.
Stebbing e sua equipe resolveram mergulhar nesse estudo.

Um fóssil com tumor
Stebbing contou que, em 2016, leu um artigo sobre a descoberta de um fóssil de Telmatosaurus transsylvanicus na Romênia – e ele tinha um tumor na mandíbula. Ele ficou fascinado.
Fiquei fascinado com o que poderíamos aprender com isso. Embora houvesse alguns relatos anteriores de cânceres em outros ossos de dinossauros e descobertas anteriores de tecidos moles como vasos sanguíneos em fósseis, ninguém jamais havia descrito tecidos moles em um tumor antigo.
Justin Stebbing
O pesquisador e sua equipe foram até a Romênia e coletaram o espécime. Eles fizeram um pequeno furo, do tamanho de um fio de cabelo, na peça para coletar uma amostra do tumor. Então, usaram um microscópio potente para analisar células sanguíneas, que contém proteínas em seu interior.
Mas como isso é possível?
- Stebbing explicou que um novo ramo da paleontologia tem se popularizado: a paleoproteômica, o estudo de proteínas antigas.
- Isso tem motivo: enquanto o DNA dos dinossauros se decompõem com o tempo, as proteínas podem se manter preservadas, servindo como verdadeiras cápsulas do tempo;
- O estudo dessas proteínas pode ajudar a reconstruir a biologia dos animais, incluindo doenças antigas, como o câncer;
- O artigo ainda chama atenção para a necessidade de preservar os tecidos modelos dos fósseis, não apenas os esqueletos.

Como dinossauros podem ajudar a entender o câncer?
Agora sim chegamos ao ponto central. A análise das proteínas dos dinossauros pode ajudar a entender como esses gigantes pré-históricos possivelmente se defendiam contra a doença.
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O estudo ainda tem um caminho longo pela frente, mas pode encontrar pistas importantes não apenas para desvendar os mecanismos evolutivos da doença, mas também uma forma de proteção natural. E quem sabe ela não possa ser replicada?
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Fonte: https://olhardigital.com.br/2025/06/17/ciencia-e-espaco/como-dinossauros-podem-ajudar-a-desvendar-o-cancer/