O Brasil está coberto por fumaça. Em relação ao que conseguimos ver, céus ficaram cinzentos, horizontes ficaram embaçados, o Sol ficou estranhamente laranja. Sobre o que conseguimos sentir, o ar ficou seco. E quente. No noticiário, fogo e queimadas para todo lado. Como isso tudo afeta nossa saúde?
A pesquisadora Mellanie Fontes-Dutra publicou um “fio” (“thread”, em inglês) na rede social Bluesky sobre como a fumaça das queimadas afeta nosso sistema nervoso.
A postagem da pesquisadora é de segunda-feira (09), quando São Paulo (SP) encabeçou o ranking internacional de cidades com ar mais poluído do mundo. No mesmo dia, o podcast “Durma com Essa”, do Nexo Jornal, explorou os efeitos para a saúde de respirar um ar tão ruim.
Queimadas enchem ar de fuligem, que se mistura a outros poluentes e entra em você
A fuligem gerada pelas queimadas se mistura à poluição atmosférica emitida por automóveis e indústrias, principalmente em grandes cidades. É essa mistura que (provavelmente) entra em você, por meio das suas vias respiratórias, e causa irritação.
Quando se respira um ar assim – seco, poluído, carregado de fuligem – a pessoa pode enfrentar problemas como tosse, bronquite e asma. Em casos mais graves, podem ocorrer alterações funcionais, como perda de função pulmonar.
Esse combo de poluição com fuligem no ar também pode afetar outras partes do seu organismo. Isso porque pode provocar disfunção cognitiva, irritabilidade, conjuntivite, vermelhidão, alergia na pele e alterações no controle cardíaco (responsabilidade do sistema nervoso).
Como queimadas afetam seu sistema nervoso
Segundo a pesquisadora Mellanie, um estudo apontou que “a exposição prolongada ao ar poluído pode levar a alterações estruturais no cérebro, alterações nos neurotransmissores e aumento da inflamação, contribuindo para vários distúrbios neurológicos, incluindo transtornos de ansiedade”.
Outro estudo aponta que “a exposição individual e conjunta de longo prazo a múltiplos poluentes atmosféricos está associada a um risco aumentado de enxaqueca de início recente”, destacou Mellanie.
Entre outros impactos, estão (conforme destacado no “fio” publicado pela pesquisadora):
- Comunicação de redes neurais muda com a exposição ao ar poluído (diminuição de dopamina e serotonina em regiões de processamento de recompensas e controle motor, por exemplo);
- Redução de GABA, principal neurotransmissor inibitório do sistema nervoso, o que pode prejudicar cognição e processamento emocional;
- Neuroinflamação, aumento de estresse oxidativo e ativação da microglia (célula imunológica do cérebro).
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Ressalvas
Na sequência de postagens, a pesquisadora faz a seguinte ressalva: “De forma geral, os estudos precisam ainda de maior robustez e até mesmo ensaios clínicos maiores para bater o martelo em termos de estabelecimento de relação causal com os poluentes.”
No entanto, ela diz: “Há grandes indicativos de ‘lesões no sistema nervoso central que alteram o neurodesenvolvimento, anatomia, fisiologia, resposta imune, entre outros, que estão relacionados à exposição a partículas e associados a prejuízos’. E isso pode estar relacionado a transtornos neuropsiquiátricos.”
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Fonte: https://olhardigital.com.br/2024/09/10/medicina-e-saude/como-fumaca-das-queimadas-te-afeta-por-dentro/