9 de dezembro de 2025
Como o Telescópio Subaru revelou mundos escondidos – e ajudou
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A equipe do Telescópio Subaru, no Havaí, fez suas primeiras descobertas dentro do programa OASIS: um planeta gigante (HIP 54515 b) e uma anã marrom (HIP 71618 B), ambos escondidos no brilho de suas respectivas estrelas. Os objetos, localizados a centenas de anos-luz da Terra, aparecem tão próximos das estrelas no céu que só o sistema de óptica adaptativa do observatório conseguiu enxergá-los.

Essas detecções inauguram uma etapa para a busca de mundos raros. O OASIS combina dados de satélites que medem com precisão o movimento das estrelas com imagens de altíssimo contraste para identificar companheiros antes invisíveis. 

Um desses achados (a anã marrom HIP 71618 B) se tornou exatamente o alvo que a NASA precisava para testar tecnologias essenciais do Telescópio Espacial Roman, que vai mirar planetas parecidos com a Terra.

Vale explicar:

  • O Telescópio Subaru é operado pelo Observatório Astronômico Nacional do Japão (NAOJ, na sigla em inglês). Embora ele esteja nos EUA (fica no topo do Mauna Kea, no Havaí), não é um telescópio americano – é japonês;
  • O OASIS é, basicamente, um programa de caça a mundos escondidos. O nome completo dele é Observing Accelerators with SCExAO Imaging Survey. É um programa científico que usa o Telescópio Subaru para buscar objetos que não aparecem em levantamentos tradicionais.

Programa OASIS descobre mundos por meio de astrometria e imagem direta

O OASIS parte de uma pergunta simples, mas difícil de resolver na prática: onde procurar objetos que quase não aparecem?

Frame de time-lapse com imagens do Telescópio Subaru que levaram à descoberta de HIP 54515 b (indicado pela seta); a estrela hospedeira (indicada pelo ícone de estrela) foi ocultada nesta imagem (Imagem: T. Currie/Telescópio Subaru, UTSA)

Ele cruza medidas de movimento estelar de missões como Hipparcos e Gaia com imagens obtidas pelo sistema SCExAO, capaz de bloquear o brilho das estrelas e enxergar objetos mais discretos ao redor. Essa combinação reduz o risco de “varrer o céu às cegas” e concentra o esforço em alvos promissores.

Essa estratégia é crucial porque só aproximadamente 1% das estrelas têm planetas ou anãs marrons possíveis de serem fotografados diretamente. Mesmo quando jovens (ainda brilhando com o calor deixado pela formação, portanto), eles continuam ofuscados por suas estrelas. O OASIS surge exatamente para romper essa barreira.

O primeiro desses achados é o planeta HIP 54515 b, com quase 18 vezes a massa de Júpiter. Ele orbita uma estrela com o dobro da massa do Sol, a cerca de 271 a 275 anos-luz da Terra, na constelação de Leão. 

A distância entre planeta e estrela lembra a órbita de Netuno. Mas, visto daqui, a separação é tão minúscula quanto tentar enxergar uma bola de beisebol colocada a 100 quilômetros de você. Foi um desafio de precisão que o SCExAO conseguiu superar.

A equipe também observou que esse planeta segue uma tendência curiosa. Superjupíteres (planetas muito maiores que Júpiter) costumam ter órbitas um pouco menos circulares do que gigantes gasosos mais leves. Isso sugere histórias de formação diferentes.

O segundo alvo, HIP 71618 B, é uma anã marrom com 60 vezes a massa de Júpiter, a cerca de 169 anos-luz da Terra, na constelação de Bootes. 

Anãs marrons surgem como estrelas, mas não acumulam massa suficiente para acender reações nucleares. Por isso, são chamadas de “estrelas fracassadas”. Ela orbita uma estrela com o dobro da massa do nosso Sol numa trajetória longa e excêntrica, um pouco maior que a de Saturno. Imagens adicionais do observatório Keck ajudaram a confirmar a presença da anã marrom.

Descoberta oferece alvo para testar tecnologia do Telescópio Roman

A descoberta da anã marrom resolveu um problema que os astrônomos tinham há anos: encontrar um alvo real que cumprisse os requisitos para o teste do coronógrafo do Telescópio Espacial Roman, previsto para ocorrer em 2027.

Ilustração do Telescópio Roman, da NASA, nas profundezas do espaço
A descoberta da anã marrom por meio do Telescópio Subaru, do Japão, vai ajudar a testar tecnologia do Telescópio Roman, dos EUA (Imagem: NASA)

Para quem não sabe: um coronógrafo é, essencialmente, um bloqueador de luz de estrela. Instalado num telescópio, ele bloqueia luz, reduz reflexos (e padrões de brilho) e amplifica o contraste entre estrela e objetos ao redor. Assim, deixa mais visível os mais discretos.

O instrumento precisa de um sistema onde a estrela seja brilhante, o objeto próximo esteja na posição ideal do campo de visão e o contraste entre ambos seja adequado para validar a tecnologia. Nenhum candidato confirmado atendia a tudo isso. Pelo menos, até agora.

O Roman vai demonstrar técnicas capazes de suprimir o brilho de estrelas parecidas com o Sol para revelar planetas que emitem luz dez bilhões de vezes mais fracas

“Ok, mas e daí?”, você talvez tenha pensado. Bem, este é um passo essencial para o futuro da busca por mundos potencialmente habitáveis. E só pode ser feito com um alvo que tenha as características oferecidas pela HIP 71618 B.

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As descobertas do OASIS mostram o potencial de unir astrometria espacial com imagem direta para revelar objetos antes invisíveis. 

O programa já analisa dezenas de outros sistemas. E a expectativa é que novos achados aprofundem o entendimento sobre como planetas e anãs marrons se formam e evoluem. 

Elas também reforçam o papel do Subaru como um dos observatórios mais importantes da próxima década, mesmo com novos telescópios entrando em operação.

(Essa matéria usou informações do NAOJ e do Telescópio Subaru.)

O post Como o Telescópio Subaru revelou mundos escondidos – e ajudou a NASA sem querer apareceu primeiro em Olhar Digital.

Fonte: https://olhardigital.com.br/2025/12/09/ciencia-e-espaco/como-o-telescopio-subaru-revelou-mundos-escondidos-e-ajudou-a-nasa-sem-querer/