4 de maio de 2025
Computadores, comunicação, chips, IA e…? A próxima revolução vai te
Compartilhe:

O IEEE (Institute of Electrical and Electronics Engineers, ou Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos) é a maior organização técnico-profissional do mundo, dedicada ao avanço da tecnologia para o bem da humanidade.

Fundado em 1963 pela fusão do American Institute of Electrical Engineers (AIEE) e do Institute of Radio Engineers (IRE), o IEEE reúne engenheiros, cientistas e profissionais de diversas áreas, incluindo engenharia elétrica, eletrônica, computação, telecomunicações e outras disciplinas correlatas.

Com mais de 500 mil membros em mais de 190 países, a organização promove a inovação tecnológica por meio de publicações, conferências, desenvolvimento de padrões técnicos e programas educacionais.

Pode parecer distante de você, mas não é! O IEEE foi responsável por padronizar, por exemplo, o Wi-Fi e o Bluetooth que usamos hoje. Além de desenhar os pilares a serem seguidos na indústria, a padronização do IEEE também garante que sucessivas gerações das diferentes tecnologias sejam compatíveis entre si.

O Wi-Fi do seu notebook não precisa ser da mesma geração que o do seu roteador para que eles se conectem. (Imagem por ParinPix – Shutterstock)

As origens do IEEE remontam a 1884, quando um grupo de profissionais da emergente engenharia elétrica se reuniu em Nova York para formar o AIEE.

Naquela época, tecnologias como o telégrafo elétrico, desenvolvido na década de 1840, já conectavam o mundo com um sistema de comunicação de dados mais rápido que o transporte físico. Indústrias de telefonia, energia elétrica e iluminação estavam apenas começando, e o AIEE desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento dessas áreas.

Com o tempo, o IEEE expandiu seu escopo para abranger uma ampla gama de tecnologias, consolidando-se como uma referência global em inovação e padronização técnica.

Entrevista com Kathleen Kramer, presidente e CEO do IEEE

O Olhar Digital conversou com exclusividade com Kathleen Kramer, presidente e CEO do IEEE. É a primeira vez que um veículo brasileiro entrevista um CEO da instituição. Acompanhe!

Olhar Digital: Para quem não conhece o IEEE, conte um pouco da história do instituto.

Kathleen: Estamos há 141 anos em atividade. Temos 500 mil membros em 190 países. Somos um dos maiores publicadores do mundo e organizadores de eventos. Nosso foco é promover a tecnologia para a humanidade – em muitas formas. Preferimos ser chamados de IEEE porque, na época, computadores nem existiam. Eles pensavam em energia e comunicação para as pessoas. Por isso, evitamos usar algo como “e computação” – e juntamos tudo sob IEEE. Muitas pessoas não técnicas nos conhecem por nossos padrões técnicos. Se você está conectado à rede elétrica ou usa um celular, o IEEE impacta sua vida.

Olhar Digital: quando falamos sobre tecnologia em 2025, inevitavelmente falamos de inteligência artificial. Ela está presente em todas as áreas do setor. Vivemos um momento em que a IA está em todos os lugares. Gostaria de te perguntar: estamos vivendo uma revolução agora? O IEEE já presenciou muitas revoluções tecnológicas. Estamos diante da maior de todas, você acredita?

Kethleen: Acho que é uma pergunta justa. Em muitos aspectos, por vários anos foi algo superestimado, eu diria. Se olhássemos dois anos atrás, havia muito alarde, mas pouca substância. Hoje, especialmente graças aos veículos autônomos e aos modelos de linguagem, que atingem mais o público comum, estamos vendo aplicações que ampliam o acesso das pessoas a novas capacidades. Eu costumo olhar sob a perspectiva das pessoas como nós, membros do IEEE ou interessados em avançar o futuro da tecnologia, não apenas como consumidores. Sobre os modelos de linguagem, entramos num território mais perigoso: eles imitam muito bem a compreensão do mundo, sem realmente entender. Alguns estudantes usam isso como forma de evitar fazer suas próprias pesquisas. E essas ferramentas não conseguem diferenciar bem o que é informação falsa ou obsoleta do que é correto e atual. Vejo uma verdadeira revolução nos veículos autônomos. E há um grande deslocamento de profissionais da engenharia de hardware para o software. Mas essa corrida por uma nova carreira rápida está chegando ao fim. Coisas que você aprende em um vídeo de 20 minutos ou com o ChatGPT em 5 minutos não sustentam uma carreira. Aí está a frustração de muitos: expectativas ingênuas.

Olhar Digital: Muito interessante. Bem, eu nasci em 1994, então tenho 30 anos. Vivi a revolução digital ainda criança. Você compara a ascensão da IA à revolução digital? Ou vai além?

Kathleen: Definitivamente é diferente. Eu sou uma filha da revolução digital, confesso. Ela explodiu com a união entre o poder dos computadores e a comunicação. Houve um avanço em direção ao “melhor, mais rápido, menor e mais inteligente”. Isso levou ao domínio do software sobre o hardware nas grandes empresas de tecnologia. Mas vejo que a próxima revolução, surpreendendo muitos, trará novamente o hardware para o centro, em união com o software. Por isso, digo aos estudantes: o melhor caminho é a engenharia da computação, e não apenas software ou apenas hardware.

Olhar Digital: E como podemos conciliar a IA com o mercado de trabalho? Você vê a IA como uma ameaça aos empregos? Estamos em risco ou podemos conviver com a tecnologia e usá-la para evoluir em nossos trabalhos?

Kathleen: Acho que as duas coisas são verdadeiras. A diferença entre um engenheiro da computação e um programador, para mim, é entender tanto de software quanto de hardware. Isso é uma mudança em relação a cinco anos atrás, quando tudo era “software, software, software”. A IA tende a substituir tarefas simples de software, o que afeta os profissionais menos qualificados. É necessário trazer um nível de especialização mais difícil de ser automatizado. Não dá mais para pensar em aprender algo em 20 minutos e fazer carreira com isso. A educação técnica mudou: as pessoas querem aprender “na hora”. Você é valorizado por sua expertise — mas o que é essa expertise? É algo que você construiu ao longo do tempo ou aprendeu agora? A IA facilita aprender coisas novas, mas essas coisas são cada vez menos valiosas como carreira. Por isso, é preciso trazer mais conhecimento, e não menos.

Olhar Digital: E para quem já está no mercado, mas não tem conhecimento técnico, é urgente se adaptar? Você acredita que a tecnologia vai dominar a maioria das profissões num futuro próximo?

Kathleen: Não sei exatamente. Quando alguém me diz que “não quer trabalhar com computadores”, acho isso um erro. Está se fechando para grandes oportunidades. Sempre dissemos que a educação é aprender a aprender. E, no momento em que a IA avança, vivemos uma crise na capacidade de aprender — no mundo todo. A COVID acelerou isso, tirando alunos da escola. E muitas universidades reduziram exigências, apenas querendo formar alunos. Há uma crise na educação técnica. Existe um conflito entre o curto e o longo prazo. Para quem dou conselhos, digo: invista no longo prazo. O que se aprende em 20 minutos não vale tanto — a IA pode entregar isso de graça. Você precisa se tornar alguém insubstituível. Isso exige mais.

Olhar Digital: Sei que o nosso tempo está acabando, mas gostaria de fazer mais duas perguntas. Se tivermos essa mesma conversa daqui a 10 anos, sobre o que você acha que estaremos falando?

Kathleen: Hmm… nunca pensei nessa pergunta. Pessoalmente, adoro aprender. Sou otimista e vejo um futuro brilhante. A tecnologia, no fim, nos conecta como comunidade global. Qual será a próxima revolução depois da IA? A revolução digital foi: computadores > comunicação > dados > IA. Tenho receio de inventar algo aqui. Talvez… energia. Aposto em energia.

Olhar Digital: Minha última pergunta. Sabemos que o IEEE tem uma Medalha de Honra. Gostaria de saber qual a importância dela — e como eu consigo a minha?

Kathleen: Ah, a Medalha de Honra é o maior prêmio do IEEE. Existe há mais de 100 anos. Recentemente, no mais alto nível da organização, decidimos que ela precisava refletir essa importância. E uma das formas foi aumentar o valor do prêmio. A partir deste ano, ele será de 2 milhões de dólares. Essa mudança é permanente. Queremos colocá-lo entre os maiores prêmios do mundo. A cerimônia de premiação — que tive o prazer de participar nos últimos anos — sempre foi nos EUA. No passado remoto, houve uma edição fora do país. Mas, este ano, é no Japão. Estou muito feliz com o impacto do ganhador deste ano: Henry Samueli, cofundador da Broadcom, que revolucionou as comunicações globais. Queremos que isso inspire as futuras gerações e cumpra nossa missão: promover a tecnologia para a humanidade.

O post Computadores, comunicação, chips, IA e…? A próxima revolução vai te surpreender apareceu primeiro em Olhar Digital.

Fonte: https://olhardigital.com.br/2025/05/04/pro/computadores-comunicacao-chips-ia-e-a-proxima-revolucao-vai-te-surpreender/