10 de agosto de 2025
Corte de Trump ameaça vacinas mRNA contra câncer e HIV
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O governo dos Estados Unidos anunciou o encerramento de 22 contratos federais para o desenvolvimento de vacinas de RNA mensageiro (mRNA ou RNAm), medida que representa quase US$ 500 milhões em investimentos. A decisão foi confirmada pelo Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS, na sigla em inglês), chefiado por Robert F. Kennedy Jr., e faz parte de uma revisão das ações adotadas durante a emergência de saúde pública da pandemia de Covid-19.

A decisão afeta iniciativas de desenvolvimento contra diferentes doenças, incluindo pesquisas voltadas para vacinas experimentais contra câncer e HIV.

Decisão afeta pesquisas que buscam uma vacina contra doenças como o câncer (Imagem: :aprott / iStock)

Segundo o HHS, o processo envolve o cancelamento ou redimensionamento de projetos sob responsabilidade da Biomedical Advanced Research and Development Authority (BARDA), órgão responsável por apoiar contramedidas médicas contra emergências de saúde pública. Ainda de acordo com o departamento, contratos em fase final poderão ser concluídos para preservar recursos já investidos, mas nenhum novo projeto com mRNA será iniciado.

Impacto sobre vacinas contra câncer e HIV

  • O mRNA, além de ter sido fundamental no desenvolvimento rápido das vacinas contra a Covid-19, vem sendo aplicado em pesquisas para prevenção e tratamento de doenças complexas, como câncer e HIV.
  • Essas vacinas experimentais usam instruções genéticas para treinar o sistema imunológico a atacar células tumorais ou combater o vírus da imunodeficiência humana.
  • Com a decisão do governo norte-americano, projetos nessa área financiados pela BARDA serão interrompidos ou redimensionados.
  • Isto pode atrasar cronogramas de estudos clínicos e a chegada dessas tecnologias ao mercado.

Importância das vacinas mRNA na Covid-19 e impacto em futuras pandemias

Durante a pandemia de Covid-19, as vacinas de mRNA — como as produzidas pela Pfizer e Moderna — foram decisivas para conter a crise sanitária global. Desenvolvidas em tempo recorde, elas apresentaram alta eficácia, ajudaram a reduzir hospitalizações e mortes e permitiram uma resposta rápida a uma ameaça sem precedentes.

A capacidade dessa tecnologia de ser adaptada rapidamente para novos patógenos é vista por especialistas como uma das principais ferramentas para enfrentar pandemias futuras. Com os cortes anunciados pelo governo norte-americano, o risco é perder essa agilidade, atrasando o desenvolvimento de vacinas em situações de emergência e deixando populações mais vulneráveis a novos surtos globais.

Corte atinge Moderna, Pfizer e outros laboratórios

Entre os contratos encerrados está um acordo com a Moderna para o desenvolvimento de uma vacina contra a gripe aviária H5N1. O HHS também rejeitou ou cancelou propostas de empresas como Pfizer, Sanofi Pasteur, CSL Seqirus e Gritstone, que faziam parte de parcerias de resposta rápida da BARDA.

A agência informou que a prioridade agora será investir em plataformas de vacinas com histórico de segurança mais longo, como os imunizantes de vírus inativado, além de novas tecnologias consideradas mais amplas e estáveis diante de mutações virais.

Justificativa e repercussão internacional

Kennedy afirmou que a decisão foi tomada após revisão que concluiu que vacinas mRNA “falham em proteger de forma eficaz contra infecções respiratórias superiores como Covid e gripe”. Ele não apresentou evidências científicas para sustentar a alegação.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou o corte como “um golpe significativo” para uma tecnologia considerada estratégica no combate a ameaças emergentes e pandemias, destacando a capacidade da plataforma mRNA de ser rapidamente adaptada para novos patógenos.

Placa com o logo da OMS
OMS considera o corte um golpe para a tecnologia de vacinas mRNA, considerada estratégica no combate a pandemias (Imagem: Elenarts / Shutterstock.com)

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Continuidade em outras áreas e mudanças na política de imunização

O HHS informou que a decisão não afeta outros usos da tecnologia mRNA dentro do departamento. Desde que assumiu o cargo em fevereiro, Kennedy tem promovido alterações amplas na política de imunização do país, incluindo mudanças na composição do comitê consultivo do Centers for Disease Control and Prevention (CDC) e a suspensão da recomendação de vacinas anuais contra a Covid-19 para a maior parte da população.

As mudanças seguem uma ordem executiva assinada pelo presidente Donald Trump, que direciona o governo a priorizar plataformas de vacinas consideradas “mais seguras e amplas” e a reduzir investimentos iniciados durante a pandemia.

Donald Trump com a mão erguida enquanto anda
Decisão de Donald Trump com justificativa de priorizar plataformas mais seguras se alinha ao movimento anti-vacina (Imagem: Rawpixel.com / Shutterstock.com)

Alinhamento a movimentos contrários à vacinação

A decisão de encerrar o financiamento para novos projetos de vacinas de mRNA ocorre no contexto de mudanças mais amplas na política de imunização conduzida por Robert F. Kennedy Jr., secretário de Saúde dos EUA e crítico de longa data de vacinas.

Desde sua nomeação, o departamento adotou medidas que se aproximam de pautas defendidas por grupos contrários à vacinação, como a suspensão da recomendação anual de imunização contra a Covid-19 para a maior parte da população e a substituição de integrantes de comitês consultivos sobre vacinas.

Essas ações, somadas ao corte nos investimentos, são vistas por organizações de saúde pública como sinais de um realinhamento estratégico que pode enfraquecer programas de imunização e reduzir a confiança em campanhas de vacinação, especialmente diante de novas ameaças sanitárias.

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Fonte: https://olhardigital.com.br/2025/08/10/medicina-e-saude/corte-de-trump-ameaca-vacinas-mrna-contra-cancer-e-hiv/