
O império empresarial de Elon Musk enfrenta uma onda de saídas de executivos seniores, motivadas por esgotamento, divergências estratégicas e desconforto com o ativismo político do bilionário.
O movimento, que se intensificou no último ano, atingiu diversas frentes de seu conglomerado, que inclui cinco companhias e mais de 140 mil funcionários, como a Tesla, a SpaceX e a startup de inteligência artificial (IA) xAI.
Na Tesla, deixaram a empresa nomes importantes das áreas de vendas, baterias, trem de força, assuntos públicos e tecnologia da informação (TI). Também saíram líderes de equipes estratégicas de robótica e inteligência artificial, setores vistos por Musk como o futuro da companhia.
Entre os que se desligaram estão Rohan Patel e Hasan Nazar, de políticas públicas; Drew Baglino, chefe das divisões de energia e trem de força; Rebecca Tinucci, que comandava a rede de supercarregadores; David Zhang, responsável pelos lançamentos do Model Y e do Cybertruck; além do diretor de informação Nagesh Saldi.
Em abril, renunciou Vineet Mehta, veterano de 18 anos ligado ao setor de baterias. Em junho, deixou o posto Milan Kovac, chefe do programa de robótica humanoide Optimus. Em julho, Ashish Kumar, da equipe de IA do Optimus, migrou para a Meta, apesar de afirmar que a remuneração na Tesla era maior. Outros executivos de peso, como Daniel Ho, responsável pelo projeto do carro elétrico de baixo custo NV-91 (internamente chamado de Model 2), também pediram demissão.
Outras empresas de Musk também estão desfalcadas
- A xAI, startup de IA fundada por Musk há dois anos e fundida com a rede social X em março, registrou ainda maior rotatividade;
- O diretor financeiro, Mike Liberatore, ficou apenas três meses no cargo antes de migrar para a OpenAI, de Sam Altman, rival histórico de Musk. “102 dias — sete dias por semana no escritório; mais de 120 horas semanais; eu amo trabalhar duro”, escreveu Liberatore no LinkedIn;
- O diretor jurídico Robert Keele também saiu, após 16 meses, dizendo que queria mais tempo com a família;
- Em julho, Linda Yaccarino deixou o comando do X e, no mês seguinte, Igor Babuschkin, cofundador da xAI, pediu demissão para fundar sua própria empresa de pesquisa em segurança de IA.
Outros nomes ligados às operações do X também abandonaram seus postos, incluindo engenheiros e líderes de produto, como Haofei Wang, Patrick Traughber, Uday Ruddarraju e Michael Dalton, estes últimos contratados pela OpenAI. Dave Heinzinger e John Stoll, da equipe de comunicação, voltaram a antigos empregadores.

De acordo com fontes ouvidas pelo Financial Times, parte dos desligamentos se deve ao ritmo intenso de trabalho imposto por Musk, descrito por um de seus conselheiros como “uma ética de campanha, 24 horas por dia, sete dias por semana”.
A pressão teria se acentuado após o lançamento do ChatGPT, em 2022, intensificando a rivalidade com Sam Altman. “Elon tem uma obsessão desde o ChatGPT e passa cada minuto acordado tentando derrubar Sam do mercado”, relatou um ex-funcionário.
A guinada estratégica da Tesla também contribuiu para a saída de executivos. Em 2024, a empresa cortou 14 mil empregos e Musk cancelou o projeto de um carro elétrico popular, priorizando investimentos em robótica, IA e robotáxis autônomos. A decisão gerou frustração em profissionais que viam nos veículos e baterias a missão central da companhia de reduzir emissões.
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Comportamento do executivo também desagrada
As posições políticas de Musk, incluindo apoio a Donald Trump e a figuras da extrema-direita, também criaram desconforto. Alguns ex-colaboradores afirmaram temer até conversas em família sobre o tema.
“O comportamento de Elon está afetando a moral, a retenção e a atração de talentos”, disse um ex-executivo de confiança. Giorgio Balestrieri, que trabalhou oito anos na Tesla, declarou publicamente que saiu por acreditar que Musk provocou “um enorme dano à missão da Tesla e à saúde das instituições democráticas”.
Apesar do cenário, a presidente da Tesla, Robyn Denholm, defendeu a companhia: “Sempre há manchetes sobre pessoas saindo, mas não vejo as manchetes sobre pessoas entrando. Nossa base de talentos é excepcional… na Tesla, desenvolvemos as pessoas muito bem e continuamos sendo um ímã para talentos.”

Na xAI, divergências sobre segurança e liberdade de expressão também alimentaram atritos. O chatbot Grok, integrado ao X, gerou controvérsia ao elogiar Adolf Hitler após mudanças ordenadas por Musk para torná-lo menos “politicamente correto”. O “Ani bot”, outro recurso da empresa, foi criticado por interações sexualmente explícitas com adolescentes, mas Musk chegou a instalar um holograma da personagem na sede da companhia.
Um ex-executivo da Tesla resumiu: “Ele é o chefe, o alfa, e quem não o trata assim, ele encontra uma forma de eliminar. Ele não enxerga tons de cinza, é extremamente calculista e focado… isso o torna difícil de lidar. Mas, se você estiver alinhado com o objetivo final e aguentar firme, dá para trabalhar. Muita gente consegue.”
Musk, a Tesla e a xAI se recusaram a comentar as saídas ao periódico estadunidense.
O post Crise de liderança: por que “braços direitos” de Elon Musk estão “fugindo”? apareceu primeiro em Olhar Digital.
Fonte: https://olhardigital.com.br/2025/09/30/pro/crise-de-lideranca-por-que-bracos-direitos-de-elon-musk-estao-fugindo/