25 de setembro de 2025
De terras-raras a data centers: o que pode entrar na
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O encontro breve entre o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e dos EUA, Donald Trump, nos corredores da ONU na quarta-feira (24) abriu espaço para algo improvável até poucas semanas atrás: uma negociação direta entre os líderes.

Em meio ao tarifaço imposto por Washington e a sanções contra autoridades brasileiras, os dois falaram em “química excelente” e acenaram com a possibilidade de uma reunião em breve.

No horizonte dessa aproximação política, surgem temas de peso econômico e tecnológico. O Brasil estuda colocar na mesa minerais críticos como lítio e terras-raras, além de atrair investimentos em data centers e projetos de energia renovável.

De terras-raras a data centers: como aproximação política abre espaço para agenda econômica

A possível reaproximação entre Brasil e Estados Unidos não se limita ao gesto diplomático. Por trás da troca de acenos entre Lula e Trump, há uma pauta econômica robusta que envolve desde o acesso a minerais estratégicos até a expansão da infraestrutura digital.

São setores que interessam diretamente às economias de ambos os países. E que podem transformar o encontro político numa negociação com impactos duradouros para tecnologia e energia.

Minerais críticos e terras-raras

Minerais críticos e terras-raras seriam um dos principais trunfos do Brasil na possível mesa de negociação. Recursos como lítio, nióbio, cobalto, cobre e terras-raras são estratégicos para a produção de baterias, semicondutores e tecnologias ligadas à transição energética — áreas de interesse dos EUA.

Terras-raras são essenciais para baterias de carros elétricos e turbinas, por exemplo (Imagem: Fellipe Abreu/iStock)

O governo americano já indicou que quer ampliar o acesso a esses insumos, enquanto Lula deixou claro que eles estão em pauta não apenas com Washington, mas também com Europa e Ásia.

O presidente brasileiro, no entanto, tem reforçado que o país não quer repetir a lógica de ser apenas exportador de matérias-primas. A ideia é condicionar qualquer acordo a contrapartidas concretas, como investimentos em território nacional e transferência de tecnologia.

Em seu discurso na ONU, Lula também alertou para os riscos da corrida global por minerais críticos seguir o mesmo modelo predatório de exploração do passado. O político defendeu critérios de sustentabilidade e respeito às comunidades que vivem em regiões ricas nesses recursos.

Data centers

Outro setor que seria peça estratégica nas conversas é o de data centers. O Brasil aprovou recentemente a medida provisória que criou o Redata, regime tributário especial para estimular o segmento, que deve atingir US$ 1,9 bilhão em receita até 2027.

data centers no Brasil
Na ONU, Lula destacou o objetivo de incentivar a instalação de data centers sustentáveis (Imagem: AlexLMX/Shutterstock)

Os Estados Unidos têm papel central nessa equação. Além de serem os principais fornecedores de hardware para os data centers instalados no Brasil, boa parte do capital que sustenta essas operações vem de companhias americanas.

Para o setor privado, o Redata pode ajudar a reforçar a ideia de o Brasil oferecer vantagens competitivas que interessam diretamente aos EUA. Isso abriria espaço para uma cooperação numa seara além do comércio tradicional.

Na ONU, Lula também destacou o objetivo de incentivar a instalação de data centers sustentáveis, alinhando expansão tecnológica a critérios de eficiência energética e redução de impacto ambiental.

A proposta conecta a pauta digital à agenda climática e reforça a ideia de que o Brasil não quer apenas atrair investimento, mas também orientar o setor para um crescimento que dialogue com metas globais de sustentabilidade.

Leia mais:

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Energia renovável e clima

A transição energética também deve entrar no radar da negociação com Washington. Em missão recente da Confederação Nacional da Indústria aos EUA, energia renovável foi listada como setor estratégico ao lado de minerais e data centers.

Lula, por sua vez, usou a tribuna da ONU para reforçar o papel do Brasil nesse campo. O presidente lembrou que o país assumiu a meta de reduzir entre 59% e 67% das emissões de gases de efeito estufa até 2030.

Além disso, o político afirmou que a COP30, em Belém, será o “momento da verdade” para cobrar maior responsabilidade dos países ricos – inclusive com transferência de tecnologia para viabilizar a transição sustentável.

IA e regulação digital no pano de fundo

Embora a possível negociação com os EUA vá girar principalmente em torno de comércio e investimentos, o discurso de Lula na ONU mostra que a pauta digital está no horizonte.

inteligencia artificial
O presidente do Brasil defendeu, na ONU, a criação de uma governança multilateral para mitigar riscos da IA (Imagem: tadamichi/Shutterstock)

O presidente defendeu a criação de uma governança multilateral para mitigar riscos da inteligência artificial (IA), em linha com o Pacto Digital Global aprovado em 2024. E destacou que o Brasil busca padrões éticos e cooperação internacional para que a tecnologia não seja usada com fins criminosos ou antidemocráticos.

Além disso, Lula disse que “a internet não pode ser terra sem lei”, defendendo a regulação das plataformas digitais. O presidente ressaltou que crimes como fraude, tráfico de pessoas e pedofilia devem ser combatidos no ambiente virtual da mesma forma que no mundo real.

Ele lembrou ainda das leis aprovadas recentemente no Brasil para proteger crianças e adolescentes no espaço digital. E dos projetos enviados ao Congresso para incentivar a instalação de data centers sustentáveis.

Contexto diplomático e político

O gesto de aproximação começou na Assembleia Geral da ONU, em Nova York, onde Lula e Trump se encontraram rapidamente, trocaram abraços e acenaram com a possibilidade de uma reunião formal.

O “clima” surpreendeu, já que os EUA haviam ampliado sanções contra autoridades brasileiras e mantido um tarifaço de 50% sobre produtos do Brasil.

Lula disse estar otimista, defendeu uma conversa “civilizada” e afirmou que tratará Trump com o respeito devido a um presidente dos Estados Unidos, esperando a mesma postura em relação ao Brasil.

(Essa matéria usou informações do jornal O Globo e do site CNN Brasil – aqui e aqui.)

O post De terras-raras a data centers: o que pode entrar na conversa entre Trump e Lula apareceu primeiro em Olhar Digital.

Fonte: https://olhardigital.com.br/2025/09/25/pro/de-terras-raras-a-data-centers-o-que-pode-entrar-na-conversa-entre-trump-e-lula/