O artista e ativista chinês dissidente Ai Weiwei criticou o chatbot de inteligência artificial DeepSeek por se recusar a responder perguntas sobre ele. Desenvolvedores na China criaram a ferramenta para competir com modelos ocidentais, mas o sistema segue diretrizes do governo.
Usuários testaram a IA e perceberam que qualquer tentativa de obter informações sobre Ai Weiwei gerava respostas vagas ou recusas diretas. O comportamento do sistema chamou atenção e levantou questionamentos sobre restrições em plataformas digitais do país.
De acordo com o site especializado Hyperallergic, Ai Weiwei criticou a recusa do chatbot DeepSeek em responder perguntas sobre ele. O artista afirmou que as respostas da IA seguem a estratégia do Partido Comunista Chinês de “negar valores universalmente aceitos enquanto os rejeita na prática”. O posicionamento do sistema gerou reações e levantou preocupações sobre o controle de informações sensíveis em plataformas de IA desenvolvidas no país.
O DeepSeek superou o ChatGPT e se tornou o aplicativo gratuito mais baixado na App Store da Apple. No entanto, seu tratamento de temas censurados também chamou atenção. Em testes do Hyperallergic, a IA evitou responder sobre artistas dissidentes, instituições culturais em Taiwan e Tibete e a destruição de mesquitas em Xinjiang. Em vez disso, afirmou que o setor artístico “prospera sob a liderança do Partido e do governo” e expressou confiança nos “órgãos judiciais” da China.
Restrições da IA refletem controle sobre o discurso público na China
Para Ai Weiwei, a ascensão global da China não altera uma falha fundamental em seu sistema ideológico. Em comunicado ao Hyperallergic, ele afirmou que o país mantém uma incapacidade estrutural de aceitar dissidência, debate ou novos sistemas de valores. Para o artista, essa limitação persiste mesmo diante do crescimento econômico e do fortalecimento do país no cenário internacional.
Ao ser questionado sobre Ai Weiwei, o DeepSeek evitou fornecer qualquer resposta. Inicialmente, o chatbot começou a gerar uma descrição do artista, mencionando seu trabalho político e exílio. No entanto, segundos depois, apagou o texto e afirmou: “Vamos falar sobre outra coisa“. Em comparação, o ChatGPT, da OpenAI, apresentou um resumo detalhado da carreira e das obras do artista.
Ai Weiwei destacou que a resposta do DeepSeek reflete o discurso oficial do governo chinês. O comando para mudar de assunto segue a diretriz de evitar discussões que desafiem a narrativa estatal. O caso reforça como sistemas de IA podem reproduzir barreiras ideológicas e reforçar políticas de censura.
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Arte, repressão e o impacto da IA no controle da informação
Ao longo de sua trajetória, Ai Weiwei usou a arte para expor falhas do governo chinês. Em 2009, ele organizou uma investigação independente para identificar as crianças mortas no terremoto de Sichuan, que deixou mais de 69 mil vítimas. Como resultado, criou a instalação Remembering, composta por milhares de mochilas infantis. O projeto incomodou as autoridades, que, até então, evitavam divulgar detalhes sobre as vítimas.
A atuação de Ai fez dele um alvo do governo. Em 2011, ele foi detido durante uma repressão a ativistas e passou 81 dias sob custódia. Posteriormente, em 2018, funcionários demoliram seu estúdio em Pequim sem aviso prévio. Assim como aconteceu com outros artistas dissidentes, as autoridades não forneceram justificativas formais. Esse padrão de repressão afetou diversos espaços culturais que questionavam o regime.
O surgimento do DeepSeek reacendeu o debate sobre o avanço tecnológico da China. Em comunicado, Ai Weiwei afirmou que a ascensão do país no setor levanta questões sobre o uso da inteligência artificial no controle da informação. Além disso, o modelo adotado pelo chatbot reflete diretrizes do governo, que, há décadas, restringe o acesso a determinados temas.
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Fonte: https://olhardigital.com.br/2025/01/31/noticias/deepseek-limita-acesso-a-informacoes-sobre-ativista-chines/