25 de fevereiro de 2025
Descoberta revela quando a Lua virou sólida
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Apesar do vasto conhecimento acumulado sobre a Lua, os cientistas ainda desvendam detalhes de seus primórdios. Novas análises em rochas coletadas pelas missões Apollo indicam que nosso satélite natual se solidificou há cerca de 4,43 bilhões de anos – período que coincide com a formação da Terra como um planeta habitável.

O estudo, liderado pelo pesquisador Nicolas Dauphas, da Universidade de Chicago (EUA), e sua equipe, envolveu a análise das proporções de elementos presentes em amostras lunares. Segundo os pesquisadores, essas medições fornecem vislumbre das primeiras fases da Lua, que teria se formado a partir de imensa massa de magma, resultado da colisão entre dois corpos primitivos do Sistema Solar.

Acredita-se que uma colisão há bilhões de anos tenha criado nossa Lua (Imagem: ESA/Medialab)

À medida que a proto-Lua resfriava e se cristalizava, suas camadas se separaram. Aproximadamente 99% do oceano de magma lunar solidificou, restando líquido um residual singular denominado KREEP – sigla para potássio (K), elementos de terras raras (REE) e fósforo (P), explica o Universe Today.

Dauphas e sua equipe determinaram que esse KREEP se formou cerca de 140 milhões de anos após o surgimento do Sistema Solar. Embora já identificado nas rochas das missões Apollo, os pesquisadores esperam encontrar vestígios desse reservatório também em amostras da bacia Polo Sul-Aitken, região que, futuramente, será explorada pelos astronautas da missão Artemis. A confirmação dessa hipótese poderá indicar distribuição uniforme do KREEP por toda a superfície lunar.

Decifrando o passado com rochas advindas da Lua

  • As pistas para o período final de resfriamento da Lua estão em elemento de terras raras levemente radioativo: o lutécio;
  • Ao decair, o lutécio se transforma em háfnio, e essa transformação ocorre em ritmo constante;
  • No início do Sistema Solar, todas as rochas possuíam quantidades semelhantes de lutécio, tornando seu decaimento ferramenta valiosa para datação;
  • Entretanto, a formação dos reservatórios de KREEP não incorporou quantidades significativas de lutécio, se comparada a outras rochas da mesma época;
  • Para determinar com maior precisão o momento em que o KREEP se formou, os cientistas mediram as proporções de lutécio e háfnio em amostras lunares, comparando os resultados com dados obtidos em meteoritos e outros corpos primitivos;
  • Analisando minúsculas amostras e a relação de háfnio presente em zircões embutidos nas rochas, a equipe constatou que as idades das amostras corroboram a formação dos reservatórios de KREEP cerca de 140 milhões de anos após a criação do Sistema Solar.

“Demoramos anos para desenvolver essas técnicas, mas obtivemos resposta extremamente precisa para uma questão que gerava controvérsia há muito tempo”, destacou Dauphas.

KREEP no contexto da formação lunar

Os resultados da pesquisa também revelaram que a cristalização do oceano de magma lunar ocorreu enquanto a Lua era bombardeada por embriões planetários e planetesimais remanescentes – as “sementes” da formação dos planetas, surgidas logo após a consolidação do Sol, há cerca de 4,6 bilhões de anos. Esse bombardeio persistiu mesmo após a formação inicial dos corpos celestes.

A própria formação da Lua começou aproximadamente 60 milhões de anos depois do nascimento do Sistema Solar, provavelmente, decorrente da colisão entre um corpo do tamanho de Marte, chamado Theia, e a Terra primitiva.

Essa colisão teria lançado detritos incandescentes ao Espaço, que, ao se aglutinarem, deram origem à Lua. “Devemos imaginar uma enorme bola de magma flutuando ao redor da Terra“, explicou Dauphas. Com o tempo, essa massa começou a esfriar, culminando na formação das distintas camadas de KREEP.

Concentrações de tório na Lua
Concentrações de tório na Lua, conforme mapeado pelo Lunar Prospector; o tório se correlaciona com a localização do KREEP (NASA)

Além disso, o estudo do decaimento do lutécio em amostras de KREEP representa avanço significativo na compreensão da época mais remota da história lunar. Amostras adicionais, especialmente aquelas coletadas na bacia Polo Sul-Aitken, poderão preencher lacunas remanescentes e esclarecer a cronologia do resfriamento das rochas lunares e da formação de depósitos, como os basaltos mare.

Esses depósitos, originados de fluxos de lava que preencheram bacias de impacto – responsáveis pela formação dos mares lunares –, ocorreram cerca de 240 milhões de anos após o nascimento do Sistema Solar, cobrindo menos de 20% da superfície lunar.

Implicações da origem da Lua para a história da Terra

Determinar com precisão o período de resfriamento da Lua não apenas elucida seu passado, mas, também, fornece pistas sobre a evolução da Terra. O impacto que originou a Lua pode ter sido o último grande choque que nosso planeta sofreu, marcando o início de sua transformação em planeta estável e habitável.

“Essa descoberta se alinha muito bem com outras evidênciasé excelente ponto de partida enquanto nos preparamos para obter mais informações sobre a Lua por meio das missões Chang’e e Artemis”, afirmou Dauphas. “Ainda temos diversas outras questões aguardando respostas.

Com novas missões planejadas e tecnologias cada vez mais precisas, o futuro promete desvendar outros segredos dos primórdios da Lua – e, por consequência, da própria Terra.

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Fonte: https://olhardigital.com.br/2025/02/25/ciencia-e-espaco/descoberta-revela-quando-a-lua-virou-solida/