23 de dezembro de 2025
Lançamento de foguete brasileiro em Alcântara tem problemas
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Após a explosão do foguete da Innospace na noite desta segunda-feira (22) e a forte reação negativa do mercado mesmo com uma carta oficial do CEO, Kim Soo-jon, a empresa já começa a pensar em voos futuros.

Na mesma carta, Soo-jon afirma que a Innospace quer voltar aos céus com voos comerciais no primeiro semestre do ano que vem.

“Com base nos dados e análises obtidos neste lançamento, a empresa dará início rapidamente às correções técnicas necessárias e a verificações adicionais, passando por um processo adequado de melhorias. Nosso objetivo é retomar os lançamentos comerciais no primeiro semestre do próximo ano”, disse o CEO.

Foguete Hanbit-Nano posicionado na plataforma de lançamento da Base de Alcântara, no Maranhão (Imagem: Innospace)

O executivo prossegue ao comparar a situação atual com semelhantes, vividas por empresas, como a SpaceX, que demorou um pouco até chegar aos lançamentos sem maiores intercorrências.

“Assim como ocorreu com outras grandes empresas globais de lançadores, que aumentaram a maturidade tecnológica acumulando dados reais nas fases iniciais de seus lançamentos comerciais, acreditamos que esta experiência será uma base fundamental para elevar a probabilidade de sucesso dos próximos lançamentos”, prossegue.

Na carta, não fica claro se os próximos lançamentos serão no Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), mas a Agência espacial Brasileira (AEB) atesta que a sul-coreana possui um acordo de prestação de serviços de retribuição ao Estado com o Governo Brasileiro, abrindo brecha para que as próximas tentativas ocorram ainda em 2026 no Brasil.

O que aconteceu com o foguete que foi lançado na Base de Alcântara?

O voo — transmitido ao vivo pelo Olhar Digital — foi interrompido poucos segundos após o lançamento.

É possível ver, nas imagens oficiais da transmissão, que há uma explosão e, logo na sequência, uma mensagem padrão informou que o foguete teve problemas. A seguir, a transmissão foi encerrada. Não havia tripulantes.

Em nota enviada ao Olhar Digital ainda na noite de segunda-feira (22), a Força Aérea Brasileira (FAB) confirmou uma anomalia que provocou um choque da espaçonave com o solo. Confira a nota completa:

“A Força Aérea Brasileira (FAB) informa que, nesta segunda-feira (22/12), no contexto da Operação Spaceward, o foguete HANBIT-Nano, da empresa sul-coreana Innospace, foi lançado às 22h13 (horário de Brasília) a partir do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão (MA). 

Na ocasião, após a saída da plataforma, o veículo iniciou sua trajetória vertical conforme previsto. No entanto, houve uma anomalia no veículo que o fez colidir com o solo.

Uma equipe da FAB e do Corpo de Bombeiros do CLA já foi enviada ao local para análise dos destroços e da área de colisão. Todas as ações sob responsabilidade da FAB para coordenação da operação, que envolvem segurança, rastreio e coleta de dados foram cumpridas exatamente conforme planejado, garantindo um lançamento controlado e dentro dos parâmetros internacionais do setor espacial.

As equipes técnicas da Innospace seguem atuando na análise dos dados e na apuração das causas do ocorrido, em conjunto com a FAB e com os demais órgãos e instituições envolvidos na operação.

Demais informações serão divulgadas oportunamente, à medida que as avaliações avancem.”

Vale ressaltar: até o momento, não foi divulgado o que causou a explosão. Contudo, o CEO afirmou que a anomalia foi detectada 30 segundos após o lançamento, optando por derrubar a espaçonave dentro da zona de segurança terrestre, algo previsto no protocolo de segurança da Innospace.

Antes, o foguete teve outras duas janelas de lançamento: entre 17 e 22 de dezembro, nas quais o foguete nem saiu do chão, pois foram encontradas anomalias em sistemas, troca de componentes e verificações extras.

Durante esta terça-feira (23), mesmo com a carta de Soo-jon, as ações da Innospace chegaram a despencar quase 29% em Seul (Coreia do Sul), conforme informações da Reuters.

A companhia espacial, que abriu capital em julho de 2024, jamais tinha enfrentado uma queda tão brusca em seus papéis.

Foguete na base de lançamento
Foguete HANBIT-Nano, da Innospace, posicionado na plataforma antes do lançamento em 22 de dezembro de 2025 (Imagem: Reprodução/X/Innospace)

Leia mais:

  • Como a IA pode turbinar a nova era da exploração espacial
  • 10 curiosidades sobre a Base de Alcântara
  • Como funciona o lançamento de um foguete

Carta completa do CEO

A seguir, leia a carta completa divulgada pela Innospace:

Aos estimados acionistas da Innospace,
Olá, aqui é Kim Soo-jong, CEO da Innospace.

Informamos que, no dia 22 de dezembro, às 22h13 (horário do Brasil) — correspondente a 23 de dezembro, às 10h13 (horário da Coreia) — realizamos, no Centro Espacial de Alcântara, no Brasil, a primeira missão comercial de lançamento SPACEWARD do foguete de dois estágios HANBIT-Nano.

O HANBIT-Nano decolou normalmente da base de lançamento e iniciou, conforme o planejado, uma trajetória de voo vertical. O motor híbrido do primeiro estágio, com empuxo de 25 toneladas, foi acionado normalmente e voou dentro do perfil de voo previsto. No entanto, cerca de 30 segundos após a decolagem, ocorreu uma anomalia no veículo por causas ainda não identificadas. Em razão disso, o foguete caiu dentro da área de segurança terrestre previamente estabelecida.

Durante esse processo, não houve danos externos, nem a pessoas, nem a embarcações, nem a instalações em solo. Todos os procedimentos e controles de segurança para o lançamento foram executados conforme o planejado, dentro de um sistema de segurança projetado de acordo com os padrões internacionais, incluindo os estabelecidos pela Força Aérea Brasileira e demais órgãos competentes.

Atualmente, em cooperação com as autoridades relacionadas, estamos realizando uma análise abrangente dos dados de rastreamento de voo e conduzindo uma avaliação técnica sobre as circunstâncias que levaram ao encerramento da missão. Neste momento, não estamos antecipando causas específicas nem conclusões definitivas. Estamos focados em verificar objetivamente os fenômenos observados no ambiente real de voo e em validá-los de forma sistemática. Os resultados da análise serão compartilhados de maneira transparente assim que forem consolidados.

Embora este lançamento não tenha alcançado o resultado final planejado, consideramos um resultado extremamente importante o fato de termos conseguido coletar com sucesso dados reais de voo, propulsão e operação em um ambiente de voo real. Esses dados representam um ativo essencial, pois são difíceis de obter apenas por meio de testes em solo ou simulações, e serão utilizados diretamente para aprimorar o projeto do veículo lançador, bem como a estabilidade e a confiabilidade operacional.

Com base nos dados e análises obtidos neste lançamento, a empresa dará início rapidamente às correções técnicas necessárias e a verificações adicionais, passando por um processo adequado de melhorias. Nosso objetivo é retomar os lançamentos comerciais no primeiro semestre do próximo ano. Assim como ocorreu com outras grandes empresas globais de lançadores, que aumentaram a maturidade tecnológica acumulando dados reais nas fases iniciais de seus lançamentos comerciais, acreditamos que esta experiência será uma base fundamental para elevar a probabilidade de sucesso dos próximos lançamentos.

Acima de tudo, lamentamos profundamente não termos correspondido às expectativas dos acionistas que apoiaram esta primeira missão comercial. Ainda assim, agradecemos sinceramente pela confiança contínua e pelo apoio inabalável demonstrados ao longo desse processo desafiador. A Innospace utilizará esta experiência como um trampolim para elevar ainda mais sua maturidade tecnológica e se empenhará ao máximo para apresentar resultados mais estáveis e significativos no futuro.

Continuaremos compartilhando de forma transparente o andamento da análise das causas e os planos para os próximos lançamentos. Contamos com o interesse e o apoio contínuos de todos. Muito obrigado.

23 de dezembro de 2025
Kim Soo-jong
CEO da Innospace

Projeto espacial do Brasil deve sofrer adiamentos

O lançamento do HANBIT-Nano a partir da base do Maranhão era simbólico: seria o primeiro foguete comercial lançado a partir do Brasil. Mesmo assim, ele sofreu uma série de adiamentos, que atrasaram a decolagem em cinco dias.

Há mais de duas décadas, em 2003, outro lançamento já tinha fracassado em Alcântara, quando um foguete carregando um satélite explodiu na plataforma de lançamento e matou 21 pessoas. Segundo a Reuters, isso adiou o programa espacial brasileiro em uma geração.

Foguete HANBIT-Nano, da Innospace, na Base de Alcântara
Foguete explodiu em sua terceira tentativa de lançamento (Imagem: Sgt. Vanessa Sonaly/FAB)

Primeiro voo comercial lançado de Alcântara é uma parceria com a AEB 

  • Denominada Operação Spaceward, a missão é resultado de uma cooperação entre a FAB e a Innospace;
  • Aproximadamente 400 profissionais participaram da operação, incluindo militares, técnicos civis e engenheiros da Coreia do Sul;
  • O trabalho conjunto exigiu coordenação logística, integração de sistemas e cumprimento rigoroso de protocolos de segurança;
  • Segundo a administração do CLA, um voo bem-sucedido demonstra que Alcântara reúne condições técnicas para receber lançamentos comerciais;
  • A expectativa é que o sucesso da operação ajude a atrair novas empresas e investimentos para a região.

O que o foguete ia levar à órbita?

O Hanbit-Nano é um foguete de pequeno porte, com 21,8 metros de altura e cerca de 20 toneladas. O veículo utiliza um sistema de propulsão híbrido, que combina combustível sólido e líquido. Ele deve colocar um total de oito cargas úteis na órbita baixa da Terra, a cerca de 300 km de altitude.

Entre os equipamentos transportados estão cinco pequenos satélites destinados a operações em órbita e três dispositivos experimentais. Esse tipo de carga é comum em missões voltadas ao mercado de nanosatélites, usados em áreas como observação da Terra, comunicações e pesquisa científica.

O post Empresa de foguete que explodiu em Alcântara dá prazo para retomar voos apareceu primeiro em Olhar Digital.

Fonte: https://olhardigital.com.br/2025/12/23/ciencia-e-espaco/empresa-de-foguete-que-explodiu-em-alcantara-da-prazo-para-retomar-voos/