21 de dezembro de 2024
Espelhamento da vida: a tecnologia que pode destruir o mundo
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Um grupo de cientistas, incluindo vencedores do Prêmio Nobel, fez apelo global para serem suspensas todas as pesquisas relacionadas à criação de “micróbios espelhados“. Segundo eles, esses organismos representam risco sem precedentes à vida no planeta.

O perigo do espelhamento da vida

  • As bactérias-espelho, descritas em artigo publicado na Science, são criadas a partir da imagem espelhada de moléculas naturais;
  • Em teoria, esses micróbios poderiam estabelecer-se no meio ambiente e evoluir de forma imprevisível, ameaçando seres humanos, animais e plantas;
  • O estudo destaca que os principais riscos envolvem a possibilidade de infecções letais;
  • Os pesquisadores alertam: “A menos que evidências convincentes demonstrem que a vida espelhada não oferece danos sérios, todas as pesquisas desse tipo devem ser interrompidas imediatamente”;
  • Apesar da preocupação, os cientistas apontam que ainda há tempo para um debate ético e para a realização de pesquisas responsáveis, desde que seja comprovado que tais organismos não representam perigo à saúde humana e ambiental.
Embora a tecnologia necessária para criar um micróbio-espelho ainda não exista, especialistas acreditam que tal avanço será teoricamente possível em uma década (Imagem: Rovena Rosa/Agência Brasil)

“Esse artigo acendeu um alerta vermelho na comunidade científica, especialmente na biologia molecular e na farmacologia/medicina”, disse, ao Olhar Digital, o Dr. Alvaro Machado Dias, neurocientista, futurista e colunista do Olhar Digital News.

“Por razões misteriosas, que, provavelmente, têm a ver com a maneira como o campo magnético da Terra interage com as moléculas, os aminoácidos, elementos constitutivos das proteínas, são organizados nessas de maneira homoquiral [em uma só direção]. Você tem um primeiro aminoácido e uma organização que puxa para a esquerda”, explica Dias.

“E, dado que a estrutura de uma proteína e seus elementos moleculares, atômicos e subatômicos, na estrutura constitucional da mesma, vão determinar o que essa proteína faz, se eu simplesmente espelhar as ligações e fizer uma proteína que, ao invés de puxar para a esquerda, ela puxa para a direita, ou vice-versa, ela vai funcionar da mesma maneira”, descreve o neurocientista.

Organismos são estruturados em cima de proteínas. Hoje, a gente tem linha de pesquisa grande na criação da vida. Nesse sentido, imagina que a gente está tentando fabricar uma bactéria sintética.

Se crio uma bactéria sintética, que ela é quiral à esquerda, ela é como todas as outras. Ela vai invadir o organismo e o organismo vai identificar aquilo, a partir das suas sentinelas, de seu sistema imunológico, como um perigo e vai atacá-la. E o organismo vai ficar numa boa.

Agora, imagina que eu crio essa mesma bactéria artificial, esse mesmo clone, só que ele é quiral à direita. Ele é igual em todos os aspectos, exceto nesse.

Dr. Alvaro Machado Dias, neurocientista, futurista e colunista do Olhar Digital News

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Ainda de acordo com o futurista, “nossas células de defesa não vão reconhecer aquilo como uma bactéria, porque a vida é reconhecida a partir dessa quiralidade, ou homoquiralidade [propriedade da vida que ainda não tem origem bem explicada], à esquerda, e a bactéria, consequentemente, vai poder passar pelo nosso sistema imunológico numa boa. Aí está o risco“.

Apelo pretende não apenas suspender os trabalhos em andamento, mas, também, desencorajar o financiamento desses projetos por mecenas e instituições (Imagem: Lightspring/Shutterstock)

Ciência avança, mas os riscos permanecem

Embora a tecnologia necessária para criar um micróbio-espelho ainda não exista, especialistas acreditam que tal avanço será teoricamente possível em uma década. Alguns pesquisadores já começaram a explorar essa possibilidade, o que gerou a preocupação do grupo de 38 cientistas signatários do alerta.

O apelo pretende não apenas suspender os trabalhos em andamento, mas, também, desencorajar o financiamento desses projetos por mecenas e instituições.

Risco de “cenário de ficção científica”

Os pesquisadores destacam ainda que o temor de um erro laboratorial com consequências catastróficas, como a criação de um patógeno capaz de dizimar populações, não se limita à ficção científica. Esse risco, embora improvável, é real e suficiente para justificar medidas preventivas imediatas.

Dado o caminho da ciência, essa é uma bandeira vermelha seríssima, e um dos motivos pelos quais a gente vem discutindo aqui a tese de que patógenos sintéticos podem representar a maior ameaça para o declínio civilizatório entre todas, talvez até mais, que a segunda e eminente, que é o aquecimento global.

Dr. Alvaro Machado Dias, neurocientista, futurista e colunista do Olhar Digital News

O pedido reforça a necessidade de cautela e responsabilidade no avanço das fronteiras científicas, colocando, em foco, o equilíbrio entre inovação e segurança global.

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Fonte: https://olhardigital.com.br/2024/12/21/ciencia-e-espaco/espelhamento-da-vida-a-tecnologia-que-pode-destruir-o-mundo/