Uma estrela localizada a 471 anos-luz de distância, na constelação de Touro, está prestes a passar por um fenômeno fascinante: desaparecer do céu por até um século. Isso acontecerá porque um disco denso de gás e poeira vai bloquear sua luz da perspectiva da Terra.
Denominada T Tauri, essa não é uma estrela comum. Na verdade, trata-se de um tipo de protoestrela, ou seja, uma estrela em formação que ainda não iniciou a fusão nuclear em seu núcleo. Seu brilho vem da energia gerada pela contração gravitacional enquanto acumula gás ao seu redor.
Essa estrela, inclusive, deu nome a uma classe de protoestrelas conhecidas como “estrelas T Tauri”, caracterizadas por variações imprevisíveis de brilho.
O sistema T Tauri é formado por três estrelas. A principal, chamada T Tauri Norte, é visível através de telescópios ópticos. As outras duas, T Tauri Sul A e B, estão envoltas em um disco espesso de gás e poeira, só podendo ser detectadas por luz infravermelha.
Por que a estrela T Tauri Norte vai escurecer?
T Tauri Norte está sendo progressivamente encoberta pelo disco que circunda suas companheiras no sistema binário T Tauri Sul. Esse disco, que está formando planetas, é tão denso que bloqueia a luz estelar de forma significativa.
Em 2016 e entre 2022 e 2023, astrônomos notaram uma redução no brilho da estrela, chegando a magnitude 12 (quase invisível para telescópios amadores). Isso marcou o início de um processo que pode culminar em seu desaparecimento completo.
De acordo com a astrônoma Tracy Beck, do Instituto de Ciência de Telescópios Espaciais (STScI), o movimento do disco em frente à estrela levará a um período de escurecimento que pode durar cerca de 100 anos.
Oportunidade única para a ciência
Embora o desaparecimento de T Tauri Norte possa parecer um evento negativo, ele traz grandes oportunidades para a ciência. À medida que a luz da estrela passa pelo disco de gás e poeira, ela é filtrada, criando marcas no espectro visível. Essas marcas revelam informações sobre os elementos químicos presentes no disco, como tipos de moléculas e partículas de poeira.
Esse estudo é essencial para entender melhor a formação de planetas, já que o disco que obscurecerá T Tauri Norte é semelhante à região do Cinturão de Kuiper em nosso sistema solar, onde corpos gelados, como Plutão, residem. Isso pode ajudar os cientistas a explorar a composição química e física de sistemas planetários em formação.
A observação desse fenômeno não depende apenas de telescópios profissionais. Astrônomos amadores desempenham um papel crucial no monitoramento de estrelas variáveis como T Tauri. Equipados com telescópios caseiros, esses observadores são muitas vezes os primeiros a registrar mudanças de brilho significativas.
A Associação Americana de Observadores de Estrelas Variáveis (AAVSO) oferece suporte e orientação para quem deseja participar desse esforço coletivo. Qualquer pessoa interessada pode acompanhar as mudanças no brilho de T Tauri e contribuir para a compreensão desse evento histórico (saiba mais aqui).
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O que esperar nos próximos anos?
Enquanto o disco continua a se mover diante de T Tauri Norte, o fenômeno deve se intensificar, tornando o sistema estelar ainda mais intrigante para os cientistas. Além de potencialmente desaparecer da vista, a estrela será uma janela para desvendar os mistérios da formação estelar e planetária.
“Será emocionante e fascinante observar como o sistema T Tauri evoluirá nas próximas décadas”, disse Beck, que é autora de um artigo aceito para publicação pelo The Astronomical Journal, que oferece detalhes técnicos sobre esse evento extraordinário.
Seja você um cientista, astrônomo amador ou apenas um curioso, o escurecimento de T Tauri promete ser um dos capítulos mais interessantes da astronomia moderna. Acompanhar esse processo será, sem dúvida, uma oportunidade única para aprender mais sobre o Universo em que vivemos.
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