A crise energética e ambiental em Mumbai, na Índia, ganhou um novo capítulo à medida que a explosão de data centers pressiona ainda mais a já frágil qualidade do ar da cidade. Com a demanda por computação em nuvem disparando, bairros inteiros agora lidam diariamente com os impactos diretos dessa corrida tecnológica.
No centro desse conflito entre inovação e saúde pública está Mahul, uma região marcada pela poluição extrema e cercada por grandes usinas de carvão. E, com o avanço de gigantes como a Amazon, o cenário ficou ainda mais difícil, aponta o The Guardian.
Tecnologia em alta, ar cada vez pior
O crescimento econômico da Índia e a necessidade crescente de energia para enfrentar ondas de calor cada vez mais severas já vinham pressionando o sistema elétrico. Mas uma investigação do SourceMaterial e do The Guardian mostrou que existe outro fator puxando essa demanda: os data centers que sustentam serviços digitais e aplicações de inteligência artificial.
Levantamentos revelam que a Amazon opera muito mais estruturas na região metropolitana de Mumbai do que divulga oficialmente. Enquanto o site registra três “availability zones”, documentos vazados indicam o uso de 16 instalações. Para dar conta dessa operação, a empresa recorre a dezenas de geradores a diesel — um problema sério em uma área que já luta para respirar.
Não me surpreende que [o governo indiano] esteja ficando para trás em seus compromissos de transição verde, especialmente com a demanda crescendo exponencialmente.
Bhaskar Chakravorti, pesquisador do impacto da tecnologia na sociedade na Fletcher School da Universidade Tufts, ao The Guardian.

Mahul vive em estado de alerta permanente
Enquanto a infraestrutura digital avança, os moradores de Mahul enfrentam um cotidiano marcado por problemas de saúde. Kiran Kasbe, que dirige um riquixá pelas ruas tomadas de fumaça, descreve uma realidade que já virou rotina no bairro. “Não somos os únicos enfrentando desafios de saúde na área”, diz ele.
Casos de câncer, problemas respiratórios e doenças ligadas à poluição aparecem com frequência, segundo relatos de vários moradores. Para muitos, a combinação de usinas antigas, refinarias, fábricas químicas e, agora, a pressão adicional dos data centers se tornou insustentável.
Entre os principais agravantes, estão:
- Usinas de carvão com regras de emissão mais antigas.
- Depósitos de cinzas e metais pesados prejudiciais à saúde.
- Geradores a diesel funcionando como backup para datacenters.
- Refinarias e fábricas químicas próximas à área residencial.
- Níveis elevados de partículas PM2.5, associadas a problemas graves.
Segundo o Centro de Pesquisa em Energia e Ar Limpo, uma das plantas da Tata responde por quase um terço da poluição local por PM2.5.

Data centers ocultos intensificam o impacto
Documentos revelam que apenas os data centers em regime de colocation usados pela Amazon consumiram mais de 624 mil megawatt-hora em 2023 — energia suficiente para abastecer centenas de milhares de lares indianos ao longo de um ano.
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A empresa afirma ser uma das maiores investidoras corporativas de energia renovável no país e rejeita qualquer responsabilidade pelos problemas ambientais de Mumbai.
A Amazon é uma das maiores investidoras corporativas em energia renovável na Índia e apoiamos 53 projetos de energia solar e eólica no país, capazes de gerar mais de 4 milhões de megawatts-hora de energia limpa anualmente.
Kylee Yonas, porta-voz da Amazon, ao The Guardian.
Organizações internas, como o Amazon Employees for Climate Justice, contestam essa visão e afirmam que práticas de compensação de carbono acabam mascarando o impacto real.
E, segundo especialistas em poluição e energia, o uso de geradores a diesel pelos data centers tende a piorar ainda mais a já delicada situação ambiental de Mahul.
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