30 de janeiro de 2025
Flechas envenenadas: evidência de 7.000 anos encontrada
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Arqueólogos fizeram uma descoberta intrigante no sítio arqueológico Kruger Cave, localizado na África do Sul, em 1983. Durante as escavações, encontraram um fêmur de antílope com 7.000 anos que apresentava marcas peculiares. O exame de raios-X revelou três pontas de flechas inseridas com precisão na cavidade do osso. Essa técnica sugeria métodos avançados de caça para a época.

O material permaneceu guardado por quase 40 anos no Departamento de Arqueologia da Universidade de Witwatersrand. Em 2022, novos estudos na caverna das montanhas Magaliesberg reacenderam o interesse dos pesquisadores pelos artefatos.

O Prof. Matthew Sponheimer, da Universidade de Johannesburgo, liderou as novas análises. ‘Suspeitávamos que o osso guardava mais do que sedimentos e medula degradada’, explicou o arqueólogo. Sua equipe havia analisado anteriormente um recipiente medicinal de 500 anos no Cabo Oriental. Eles decidiram aplicar métodos similares ao fêmur da Kruger Cave. Os testes identificaram uma mistura complexa de toxinas: dois compostos de origem vegetal e vestígios de um terceiro componente.

Análise 3D revela receita de veneno em flechas de 7.000 anos

A equipe realizou uma nova análise do fêmur usando microtomografia computadorizada (micro-CT). Essa técnica moderna reconstrói objetos em 3D com alta resolução. As antigas imagens dos anos 1980 não mostravam muitos detalhes, mas o novo exame revelou descobertas surpreendentes. Os pesquisadores identificaram na cavidade medular uma matriz diferente dos depósitos arqueológicos comuns. Esse material estranho sugeriu uma possível relação com o uso das flechas.

Raio-X revela pontas de flechas preservadas dentro do fêmur (Imagem: Dr Aliénor Duhamel, CC BY-NC-ND/Divulgação)

Os cientistas retiraram uma amostra para análises químicas detalhadas. Os testes detectaram dois glicosídeos cardíacos tóxicos: digitoxina e estrofantidina. Essas substâncias afetam o funcionamento do coração e eram usadas como veneno em flechas ao longo da história. A análise também encontrou ácido ricinoleico, um indicador da degradação da ricina, outro composto altamente tóxico.

Os compostos descobertos vêm de plantas diferentes, o que revela um dado importante: os caçadores pré-históricos combinavam várias espécies vegetais para criar seu veneno. Eles dominavam técnicas complexas na preparação de substâncias letais para caça.

Evolução da caça: evidências de venenos pré-históricos no sul da África

A evolução da tecnologia de caça teve um marco importante: o uso de venenos em armas. Caçadores de diferentes partes do mundo aprenderam a extrair compostos tóxicos de plantas e animais. Com essas substâncias, eles tornavam suas armas mais eficazes. No sul da África, grupos pré-históricos se destacaram nessa prática. Eles desenvolveram métodos sofisticados para combinar diferentes toxinas em misturas complexas.

Imagem mostra arqueólogos trabalhando.
Fêmur de 7.000 anos revela o uso de venenos em flechas na pré-história (Imagem: Kostyantyn Skuridin/Shutterstock)

A Border Cave é um exemplo de sítio arqueológico que guarda as evidências mais antigas de veneno na região. Ali, cientistas encontraram uma espátula de madeira de 24.000 anos com traços de ácido ricinoleico. Esse composto vem da degradação da ricina, toxina presente na planta de mamona.

No entanto, tratava-se de um veneno simples, diferente das elaboradas misturas que surgiriam depois. Em Zanzibar, a Kuumbi Cave revelou outro achado importante: pontas de flecha de 13.000 anos com possíveis resquícios de veneno. Porém, ainda não existem testes químicos que confirmem essa hipótese.

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Pesquisas mais recentes na Kruger Cave analisaram uma outra flecha de 1.000 anos. Os compostos encontrados estavam muito degradados, especialmente em comparação com os venenos do fêmur de 7.000 anos. Essa diferença traz uma revelação interessante: a estrutura do osso funcionou como proteção natural. O fêmur preservou os compostos tóxicos, impedindo que agentes biológicos os destruíssem ao longo dos milênios.

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Fonte: https://olhardigital.com.br/2025/01/28/ciencia-e-espaco/flechas-envenenadas-evidencia-de-7-000-anos-encontrada/