Há alguns dias, um raio extremamente potente atingiu o Mar Adriático, entre a Itália e os Balcãs. A descarga elétrica viajou pela atmosfera e desencadeou dois fenômenos raríssimos sobre Possagno, no norte italiano. O mais surpreendente nisso tudo é que ambos foram registrados na mesma foto.
A imagem foi feita pelo fotógrafo italiano Valter Binotto, conhecido por captar fenômenos atmosféricos difíceis de observar. Segundo o site IFLScience, ele já venceu prêmios de fotografia de vida selvagem e dedica boa parte de seu trabalho a flagras de ocorrências rápidas na alta atmosfera.
Na foto, aparecem um ELVE e quatro sprites – também conhecidos como “duendes vermelhos”. Sigla para “Emissão de Luz e Perturbações de Muito Baixa Frequência devido a Fontes de Pulsos Eletromagnéticos”, o ELVE surge como um grande disco avermelhado, resultado de perturbações luminosas causadas por pulsos eletromagnéticos de um raio excepcionalmente forte. Já os sprites são os clarões vermelhos em forma de água-viva que se formam acima das tempestades e dificilmente são fotografados da Terra.
Esses fenômenos fazem parte do grupo de Eventos Luminosos Transientes, que ocorrem rapidamente na alta atmosfera e ainda são pouco compreendidos justamente por serem raros e difíceis de registrar.
Segundo Binotto, o registro mostra uma formação dupla extremamente incomum. No caso dos ELVEs, o anel vermelho marca o ponto em que o pulso eletromagnético atinge a ionosfera terrestre. A cor de ambos os fenômenos vem da excitação do nitrogênio, algo que também pode deixar a aurora boreal avermelhada, mas por motivos diferentes.
O fotógrafo explica que usa uma câmera modificada para astrofotografia, mais sensível ao infravermelho, o que ajuda a captar fenômenos tão rápidos. Ele já registrou centenas de “duendes vermelhos” ao longo de uma década, mas apenas três ELVEs, contando com o este mais recente.
O fenômeno ELVE só foi descoberto em 1990, durante uma missão do ônibus espacial Discovery. Por serem achatados e se expandirem por centenas de quilômetros, Binotto os compara à nave-mãe do filme Independence Day. Já os sprites, fotografados pela primeira vez em 1989, são descargas elétricas que sobem para a atmosfera, chegando a 80 quilômetros de altitude. Ambos duram milissegundos, o que torna cada registro valioso.
Que novos flagrantes ajudem a revelar mais detalhes desses fenômenos espetaculares e ainda tão misteriosos!
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NASA conta com imagens orbitais e terrestres para estudar o fenômeno
Nos últimos anos, a NASA tem trabalhado no projeto de ciência cidadã “Spritacular”, que solicita ao público contribuições com imagens de avistamentos de TLEs para fornecer à comunidade científica dados que possam ser usados para investigar o fenômeno.
O projeto também conta com as capturas orbitais dos eventos feitas por astronautas a bordo da ISS que adotam a fotografia como uma atividade criativa durante seu tempo na ISS.
Matthew Dominick, da NASA, fotografou um “duende vermelho” em junho do ano passado, seis meses depois de um registro semelhante feito por Andreas Mogensen, da Agência Espacial Europeia (ESA). Recentemente, Nichole Ayers, também da NASA, capturou um red sprite enquanto o laboratório orbital sobrevoava o México e os EUA.
Famoso por suas fotografias espaciais, Don Pettit, que aos 70 anos é o astronauta mais velho em atividade da NASA, também obteve imagens de TLEs. Um vídeo curto compartilhado por ele nas redes sociais em abril mostra sprites azuis acima da bacia amazônica.
OK, this is kind of out there and caters to your inner Uber-Geek. Nadir view of Transient Luminous Events (TLE ) or upper atmospheric lightning. This clip real time is about 6 seconds over the Amazon basin and shows a number of TLE displays from Sprites to blue jets from a… pic.twitter.com/IE0Edtm2Rl
— Don Pettit (@astro_Pettit) April 3, 2025
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