Do que você seria capaz para defender seus pensamentos? Em um momento da história em que dogmas religiosos e crenças tradicionais eram incontestáveis, Giordano Bruno teve a coragem de defender a ideia de um Universo infinito, com a Terra girando em torno do Sol, desafiando a visão geocêntrica que dominava o pensamento da época. Mas suas convicções eram tão profundas que ele preferiu enfrentar a morte na fogueira da Inquisição a renunciar às suas ideias revolucionárias. Hoje, nós vamos falar do Bruno!
Giordano Bruno foi um filósofo, astrônomo e teólogo italiano que viveu na segunda metade do século 16. Ele nasceu em Nola, no Reino de Nápoles, e se tornou uma figura controversa, tanto na ciência quanto na religião, mas que tem um papel incontestável na defesa da liberdade de ideias.
Certa vez, em um momento de reflexão, Bruno sonhou que acordava em um mundo limitado por uma cúpula onde estavam fixadas as estrelas. Essa era a visão do Cosmos aceita naquela época: a Terra como o centro do Universo, cercada por esferas de cristal por onde a Lua, o Sol, os planetas e as estrelas se moviam, todos governados por Deus, que operava na esfera mais alta.
No sonho, Bruno caminhou até o limite da Terra e, ao tocar as estrelas, percebeu que algo estava errado. Ao levantar o manto da noite, ele vislumbrou um Universo infinito, onde a Terra girava em torno do Sol, que era apenas mais uma estrela entre muitas outras. As estrelas, eram sóis distantes que poderiam ter seus próprios planetas girando em torno delas. Nenhuma dessas ideias foram concebidas por Giordano Bruno, mas depois de ler a obra de muitos dos grandes pensadores da humanidade, aquela visão do Cosmos lhe parecia tão clara, tão consistente, que ele estava determinado a compartilhá-la com o resto do mundo, mesmo que para isso precisasse desafiar os dogmas do seu tempo.
Bem antes disso, quando tinha apenas 15 anos, ingressou na ordem Dominicana, onde adotou o nome Giordano, no lugar de Filippo, seu nome de nascença. Lá a principal ocupação de Bruno era o estudo. Passava grande parte de seus dias lendo e aprendendo sobre os mais diversos temas e, inclusive, teve acesso a alguns livros “proibidos” pela igreja. Foi dessa forma que ele teve contato com a teoria heliocêntrica de Copérnico e com a ideia de infinitos mundos proposta 15 séculos antes, pelo filósofo romano Lucrécio.
Giordano Bruno sempre foi muito religioso, e sempre procurou, em seus estudos, buscar uma relação entre a ciência e a religião, o que acabou contrariando muitos dogmas da época. Do hermetismo, Bruno incorporou a ideia de que a Terra era ser vivo, o que explicaria seus movimentos em torno do Sol e de si mesma. Ele acreditava que todos os astros, todas as plantas, animais e todas as coisas tinham vida, e eram partes derivadas de Deus, ou seja, Bruno acreditava que tudo é divino, tudo é maravilhoso.
Na sua opinião, a infinitude do Universo só provava que o poder de Deus também era infinito. Mas aquele pensamento era muito revolucionário para a época, e não demorou muito para as ideias de Bruno começarem a incomodar a igreja. Em 1576 ele foi acusado de heresia e levado para ser julgado em Roma. Bruno foi excomungado da Igreja católica e acabou fugindo de Roma 3 anos depois.
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A partir daí, ele iniciou um período de peregrinação pela Europa, onde ele conseguiu fazer inimigos por toda parte e suas ideias foram rejeitadas em várias línguas distintas. Bruno “pediu música no Fantástico” depois que conseguiu a proeza de ser excomungado da igreja protestante calvinista e também da luterana. Mas nada disso abalou o ousado pensador. Giordano Bruno foi autor de quase quarenta livros abordando suas visões filosóficas e cosmológicas sobre a vida, o Universo e tudo mais. Alguns deles falavam sobre a arte da memória, algo que Bruno realmente dominava e que, no fim, acabou levando Bruno à morte.
Giovanni Mocenigo, de uma família ilustre de Veneza, encontrou Bruno em Frankfurt em 1590 e o convidou para lhe ensinar a arte de desenvolver a memória em Veneza, na Itália. Na época, Bruno já estava na lista da Inquisição, por suas doutrinas subversivas, mas Veneza era conhecida por proteger tais foragidos, o acabou encorajando o filósofo a retornar à Itália. Quando percebeu que Mocenigo queria fazer uso das artes da memória para ganhar dinheiro, Bruno se negou a prosseguir com as aulas. Inconformado, Mocenigo trancou-o em um quarto e chamou os agentes da Inquisição para que levassem Bruno preso, acusado de heresia.
Em Roma, o julgamento de Bruno durou oito anos. Não eram poucas as acusações que pesavam contra ele. As principais incluíam “sustentar opiniões contrárias à fé católica” e aos seus maiores dogmas, reivindicar a existência de uma pluralidade de mundos e suas eternidades; acreditar em reencarnação e envolvimento com magia e adivinhação. Resumidamente, Bruno foi julgado por pensar e acreditar em algo diferente daquilo que era permitido pela fé católica.
Durante esse tempo, Bruno sempre teve a opção de “se arrepender de seus pecados” e renegar aos seus pensamentos contrários à fé, o que lhe garantiria uma pena mais branda. Mas Giordano Bruno tinha tanta convicção sobre suas ideias que entendia que renegá-las seria um castigo ainda pior que morrer na fogueira da Inquisição.
No dia 8 de fevereiro de 1600, no último interrogatório do seu julgamento, Bruno se negou mais uma vez a abjurar de suas ideias, e por isso, foi condenado. Seus livros foram adicionados à lista de obras proibidas da Igreja Católica e Giordano Bruno, sentenciado à morte na fogueira. Após ouvir sua sentença de joelhos, Bruno teria respondido: “Talvez sintam maior temor ao pronunciar esta sentença do que eu ao ouvi-la”.
O destino de Bruno foi cumprido uma semana depois, no dia 17 de fevereiro. Condenado por suas ideias, ele entrou para a história como mártir do livre pensamento. Menos de uma década depois, Galileu Galilei apontou seu telescópio para o céu e, assim como Giordano Bruno em seu sonho, Galileu ergueu o manto da noite e enxergou além. Viu com seus próprios olhos que os planetas eram outros mundos, com outras luas. E que haviam incontáveis estrelas em um Universo infinito. Giordano Bruno estava certo.
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