Em maio de 2022, o então presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, anunciou uma parceria com a empresa Starlink, de Elon Musk, para levar internet a áreas remotas da Amazônia.
A promessa, à época, era conectar 19 mil escolas na região, além de monitorar o crescente desmatamento da floresta. Segundo informa o atual presidente da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Carlos Baigorri, porém, isso não aconteceu. Nem uma coisa nem outra. Ele deu a declaração em entrevista ao jornal americano The New York Times.
Leia mais
- SpaceX faz chamada de vídeo ao vivo via satélites Starlink
- Anatel avalia expansão da Starlink no Brasil após críticas de Musk ao STF
- Grande predador da Amazônia caça de tudo (até humanos)
O próprio Times informa, em outra reportagem, que a internet via satélite da Starlink chegou sim à região, mas não foi para as escolas nem para o monitoramento ambiental. A internet chegou para tribos indígenas. Até mesmo para algumas isoladas, ou seja, que não tinham contato com o “homem branco”.
Uma equipe do jornal americano viajou para as profundezas da floresta amazônica e presenciou como a chegada da web afetou o povo Marubo – positiva e negativamente.
Os mesmos problemas
Os Marubos vivem há muito tempo em malocas espalhadas por centenas de quilômetros ao longo do rio Ituí. Para chegar lá, os americanos tiveram que fazer uma viagem de 7 dias.
Os Marubos falam sua própria língua, tomam chá de ayahuasca para se conectar com os espíritos da floresta e mantém macacos-aranha como animais de estimação. Esses são costumes que a tribo adota há séculos, mas que estão perdendo força entre as novas gerações, por causa da internet.
O serviço de alta velocidade da Starlink chegou ao local em setembro de 2023. Em 9 meses, os indígenas passaram a conviver com desafios muito parecidos com os da nossa sociedade:
- adolescentes colados aos telefones;
- bate-papos em grupo cheios de fofocas;
- redes sociais viciantes;
- estranhos online;
- videogames violentos;
- fraudes;
- desinformação;
- e menores assistindo pornografia.
Não que tudo listado acima seja um problema. Mas virou para os indígenas, como explica Tsainama Marubo, de 73 anos:
“Os jovens ficaram preguiçosos por causa da internet. Eles estão aprendendo os costumes dos brancos.”
Ela disse que os mais novos não estão mais interessados em seguir as tradições da tribo, como fazer tinturas e joias. Alguns deixaram até mesmo de caçar e pescar. Eles também estão menos concentrados e perdendo o foco facilmente.
Tá ruim, mas tá bom
Apesar das críticas, a mesma Tsainama Marubo disse que não abre mão da internet. De jeito nenhum. A tecnologia trouxe outros tantos benefícios à aldeia.
Os indígenas conseguem conversar agora com pessoas à distância, com entes queridos, conseguem enviar pedidos de ajuda em caso de emergências e ainda têm acesso mais fácil à informação.
Vale destacar que os Marubos não são considerados uma tribo isolada há muitas décadas. Eles eram até a chegada dos seringueiros à região. Apesar disso, eles mantiveram os mesmos costumes e tradições – que começaram a derreter agora, com apenas 9 meses de acesso à internet.
Assim como já aconteceu conosco, os indígenas estão descobrindo agora o dilema fundamental da grande rede global de computadores: ela se tornou essencial, mas tem um custo. Agora, cabe a eles debater maneiras de conciliar a modernidade com a sua própria identidade e cultura.
Isso se eles quiserem. A decisão deve ser dos Marubos e de mais ninguém.
O fenômeno Starlink
- A empresa de Elon Musk dominou rapidamente o mercado mundial de Internet via satélite, fornecendo o serviço a áreas remotas, antes quase inalcançáveis.
- A SpaceX fez isso lançando 6.000 satélites Starlink em órbita baixa.
- Isso permite à empresa fornecer uma velocidade mais rápida do que muitas conexões domésticas de Internet para praticamente qualquer lugar da Terra, incluindo o Saara, as pastagens da Mongólia e pequenas ilhas do Pacífico.
- Além dessas comunidades amazônicas, existem registros de que os satélites estão sendo usados por tropas na Ucrânia, forças paramilitares no Sudão, rebeldes Houthi no Iêmen, um hospital em Gaza e equipes de emergência em todo o mundo.
- Diante dessa expansão, os negócios estão em alta.
- Musk anunciou recentemente que a Starlink ultrapassou três milhões de clientes em 99 países.
- Os analistas estimam que as vendas anuais aumentaram cerca de 80% em relação ao ano passado, para cerca de US$ 6,6 bilhões.
As informações são do jornal The New York Times.
O post Indígenas na Amazônia recebem internet da Starlink apareceu primeiro em Olhar Digital.
Fonte: https://olhardigital.com.br/2024/06/06/internet-e-redes-sociais/indigenas-na-amazonia-recebem-internet-da-starlink/