
*Por Nelson Leoni, CEO da WideLabs
A transformação digital deixou de ser uma opção para os governos latino-americanos: tornou-se uma necessidade urgente. Neste cenário, a inteligência artificial (IA) surge como uma aliada estratégica para enfrentar gargalos históricos, modernizar processos e entregar mais valor ao cidadão.
Investir em tecnologias governamentais, o chamado GovTech, é um passo fundamental para que os órgãos públicos estejam preparados para integrar a IA em suas rotinas. Segundo estudo da McKinsey & Company, os governos que implementam IA em políticas públicas podem reduzir em até 50% o tempo de análise e formulação de projetos de desenvolvimento econômico, além de acelerar a identificação de prioridades locais com base em dados.
A capacitação técnica e o desenvolvimento de competências em IA são essenciais para que os servidores públicos possam não apenas operar essas tecnologias, mas também interpretá-las criticamente, garantindo o princípio do “human in the loop”, em que a tecnologia potencializa a capacidade humana, mas o julgamento final permanece com as pessoas.
Com a IA, o ser humano passa a atuar de forma mais estratégica: o tempo antes consumido com tarefas repetitivas e análises preliminares pode ser redirecionado para decisões complexas e sensíveis. Trata-se de um novo paradigma de eficiência, onde as ferramentas inteligentes realizam o trabalho automatizado e o profissional público foca no que realmente importa.
É uma oportunidade histórica para países em desenvolvimento darem um salto de qualidade, com uma matemática só possível por meio da IA: serviços mais ágeis, políticas públicas mais eficazes e, ao mesmo tempo, significativa economia para os cofres públicos.
Além disso, o setor público possui uma vantagem competitiva única: sua capacidade de identificar problemas em grande escala e com clareza. Com a IA, é possível acelerar a análise e a resolução desses problemas, aumentando a qualidade dos serviços oferecidos à população. Um relatório da Deloitte destaca que o uso de IA generativa e algoritmos avançados em governos pode economizar até 1,2 bilhão de horas de trabalho humano por ano, liberando recursos para tarefas mais estratégicas e melhorando a experiência do cidadão.
Soluções baseadas em inteligência artificial possibilitam a criação de painéis analíticos interativos e relatórios automatizados em tempo real, promovendo transparência e monitoramento contínuo das políticas públicas. Em países da América Latina, a adoção dessas soluções já tem gerado economias substanciais, reduzindo a burocracia e melhorando a alocação de recursos.
Uma das maiores promessas da IA no setor público está na redução da corrupção. Processos claros, auditáveis e baseados em dados reduzem a subjetividade e dificultam fraudes, contribuindo para um ambiente administrativo mais ético e confiável.
Um estudo da Open Knowledge Brasil revelou que, entre as 26 capitais brasileiras, 21 estão na faixa mais baixa de abertura de dados públicos, com índices entre 0% e 20%. Apenas São Paulo e Belo Horizonte superaram os 45%, ainda longe do ideal.
Esses dados evidenciam a urgência de investimentos em tecnologias que automatizem a transparência, facilitando o acesso da população às informações públicas e contribuindo para uma gestão mais democrática. Segundo a Transparência Internacional, ferramentas digitais com foco em transparência ativa e acesso público aos dados são essenciais para prevenir a corrupção em serviços públicos.
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Outro ponto crítico para a consolidação dessa revolução é a soberania da inteligência artificial. No contexto do setor público, é imprescindível que todas as informações e todos os serviços processados por IA ocorram 100% em território nacional, seja por meio de nuvem soberana ou infraestrutura própria.
O processamento em instâncias nacionais garante independência tecnológica, segurança de dados e controle institucional — pilares fundamentais para proteger o interesse público em um cenário de crescente complexidade geopolítica e tecnológica.

Embora a implementação da IA apresente inúmeras oportunidades, também impõe desafios éticos, de privacidade e de inclusão digital. O uso responsável da IA deve ser guiado por marcos regulatórios sólidos, garantindo a proteção dos dados dos cidadãos e a equidade no acesso às soluções.
O futuro pertence a governos digitais, ágeis e orientados por dados — nos quais a inteligência artificial será pilar essencial para a construção de sociedades mais justas, resilientes e sustentáveis.
A IA tem o poder de redefinir o papel do Estado na vida das pessoas: tornando-o mais transparente, eficaz e próximo do cidadão.
Para que essa transformação ocorra com segurança, é indispensável investir em capacitação, assegurar a soberania tecnológica e fomentar o uso ético e inclusivo das novas ferramentas.
Na América Latina, essa não é apenas uma oportunidade. É uma urgência histórica.
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