São chamados de lixo espacial todos os objetos de construção humana que estão em órbita ao redor da Terra, mas que já não cumprem mais nenhuma função útil. Entre eles estão restos de foguetes deixados para trás após lançamentos ou satélites desativados – como o que esteve recentemente em rota de colisão com a Estação Espacial Internacional (ISS), exigindo uma manobra para desviar do detrito.
Conforme noticiado pelo Olhar Digital, a NASA informou que uma nave de carga russa Progress acoplada à ISS precisou disparar seus propulsores por pouco mais de cinco minutos no último dia 19, uma terça-feira, às 17h09 (horário de Brasília), para reajustar a órbita da estação. De acordo com a agência, o objetivo era garantir que o laboratório orbital fosse desviado de um fragmento de lixo espacial que representava um risco de impacto.
Denominada “Manobra de Prevenção de Detritos Pré-determinada” (PDAM), a operação foi conduzida em coordenação com a NASA, Roscosmos e outros parceiros da estação espacial. O fragmento em questão pertencia a um satélite meteorológico de defesa, desativado em 2015.
Aquela foi a 39ª vez que a ISS precisou passar por esse procedimento – e a primeira neste ano. Segundo um especialista consultado pelo site Live Science, embora tenha havido uma queda de registros anuais desde 2020, isso vai se tornar cada vez mais constante, devido a uma série de circunstâncias.
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Fatores que aumentam o risco de colisão da ISS com lixo espacial
Um detrito é considerado uma ameaça potencial para a estação se as previsões indicarem que ele pode se aproximar até uma distância de 50 km. A frequência com que isso ocorre depende de diferentes fatores.
Atividade solar
A atividade solar, que inclui ejeções de massa coronal, explosões solares e ventos de alta velocidade, é um deles. Esse comportamento segue um ciclo de 11 anos e atinge o ápice durante o máximo solar, que está já está em andamento.
Durante o máximo solar, o Sol libera uma quantidade significativa de energia que é absorvida pela atmosfera terrestre, fazendo com que ela se expanda. Esse fenômeno aumenta o arrasto em objetos que estão em órbitas de até 2.000 km de altitude, puxando-os em direção à Terra mais rapidamente do que em outros períodos.
Hugh Lewis, professor de astronáutica e especialista em lixo espacial da Universidade de Southampton, no Reino Unido, compara a dinâmica a uma chuva. “Durante o máximo solar, a chuva se intensifica, tornando mais provável que fragmentos de detritos cruzem a órbita baixa da ISS”, explica. Por isso, segundo ele, é esperado que a estação precise realizar mais manobras evasivas nesse período.
Apesar dessa lógica, a intensa atividade solar registrada ao longo de 2024 não parece ter elevado significativamente o risco de colisões com a ISS, já que até agora foi necessário realizar apenas uma manobra preventiva (PDAM) neste ano.
Testes antissatélites (ASAT)
Lewis alerta que testes antissatélites (ASAT), em que países destroem suas espaçonaves inoperantes em órbita, geram grandes quantidades de detritos espaciais, que podem permanecer por anos. Em 2022, os EUA e outras nações se comprometeram a não realizar esses testes, mas China, Rússia e Índia não aderiram ao acordo.
Em 15 de novembro de 2021, um ASAT russo destruiu o satélite Cosmos-1408, lançado em 1982, e foi responsável por quase metade das manobras de desvio da ISS nos últimos três anos.
Outro teste antissatélite, conduzido pela China em 2007, atingiu o satélite Fengyun-1C a 800 km de altitude, muito acima da órbita do Cosmos-1408, que estava a 480 km. Em agosto do ano passado, a ISS precisou ser deslocada para desviar de fragmentos do satélite chinês.
Segundo Lewis, detritos em órbitas mais altas sofrem menos resistência atmosférica, permanecendo por mais tempo. Assim, enquanto o Fengyun-1C ainda oferece risco, os fragmentos do Cosmos-1408 já começaram a se dissipar.
Nuvens de detritos
Nuvens de detrito também representam um grave risco. Em junho, fragmentos de outro satélite russo, que se partiu em órbita há dois anos, forçaram os astronautas a se abrigarem em uma cápsula acoplada à ISS. Com mais de 100 pedaços de lixo espacial próximos à estação, não houve tempo para ajustar a órbita. “Essas manobras precisam ser planejadas”, explicou Lewis.
O laboratório orbital escapou ileso do episódio, mas, caso fosse atingido, os detritos poderiam ter atravessado sua blindagem e causado despressurização. Objetos de apenas 10 centímetros, como destaca a Agência Espacial Europeia (ESA), podem destruir espaçonaves inteiras. Detritos em órbita viajam a 29 mil km/h, o que faz até uma lasca de tinta ser perigosa.
Atualmente, 29 mil fragmentos com mais de 10 cm e 170 milhões de detritos menores que isso orbitam a Terra. Só os satélites Starlink, segundo Lewis, já realizaram em torno de 75 mil manobras entre 2023 e 2024 para evitar colisões com lixo espacial.
Como solucionar o problema
Para Lewis, a melhor estratégia para combater esse problema é remover satélites da órbita da Terra ao final de suas missões, evitando que se tornem ameaças de colisões – como será feito com a ISS com a ajuda da SpaceX.
Segundo ele, muitas agências espaciais e empresas reconhecem a necessidade de um comportamento responsável em órbita, e a regulamentação adequada é essencial para garantir altos padrões. “Um ambiente limpo beneficia todos, pois reduz a necessidade de manobras evasivas e evita a perda de satélites, garantindo a continuidade e segurança das missões espaciais”.
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Fonte: https://olhardigital.com.br/2024/11/27/ciencia-e-espaco/iss-precisara-de-mais-manobras-contra-lixo-espacial/