25 de novembro de 2024
Katherine Johnson e o papel de mulheres negras na era
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No Brasil, o Dia da Consciência Negra nos convida a refletir sobre as lutas e conquistas de pessoas negras ao longo da história, celebrando sua resistência e legado em diferentes áreas. Mas enquanto no Brasil, o racismo se manifesta tanto de forma estrutural quanto em atitudes veladas, os Estados Unidos dos anos 60 era um país onde a segregação racial era abertamente institucionalizada. E foi neste cenário que uma mulher negra desafiou barreiras que pareciam intransponíveis para se tornar uma figura central na era espacial. Quando o mundo não podia se dar ao luxo de ignorar seus maiores talentos, a ciência encontrou entre aqueles desprezados pela sociedade algumas de suas mentes mais brilhantes, e Katherine Johnson se destacou como uma das mais notáveis.

Katherine Johnson era física, cientista espacial e uma das mais talentosas matemáticas da NASA, em uma época em que computadores ocupavam salas inteiras e o sonho de chegar até a Lua dividia as mentes americanas com um sonho bem mais simples, mas bem mais distante que o solo lunar: aquele sonho de Martin Luther King, de igualdade entre os homens. Naquela época conturbada, Katherine desafiou os preconceitos raciais através das leis da física, calculando, com precisão, as trajetórias que levariam o homem à Lua, impulsionando o gigantesco salto da humanidade e inspirando toda uma geração na busca por uma sociedade mais justa. 

[ Katherine Johnson trabalhando no Departamento de Controle de Espaçonaves da NASA em 1966 – Imagem: wikimedia.org ]

Katherine Johnson nasceu em 1918 numa pequena cidade da Virgínia Ocidental nos Estados Unidos. Sua paixão pela matemática floresceu desde cedo, impulsionando-a a superar as barreiras da segregação racial e da desigualdade de gênero nos Estados Unidos dos anos 1950 e 60. Ela concluiu o ensino médio aos 14 anos e aos 18, concluiu sua graduação em Matemática. Em uma época onde a presença de mulheres e minorias nas áreas da Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática era mínima e que muitas universidades simplesmente não aceitavam negros, Katherine e suas colegas provaram que o talento e a dedicação não têm cor nem gênero.

Em 1953, a habilidade com os números levou Katherine a ingressar na NACA (que viria a se tornar a NASA) para trabalhar como “computador humano”, calculando manualmente as complexas equações que descreviam as trajetórias das missões espaciais. Mesmo entre os desafios de se trabalhar em lugar onde os negros tinham um tratamento diferenciado, banheiros separados, e até mesmo o café era segregado, Katherine cresceu e conquistou o respeito de seus colegas, se tornando tão importante que, aos poucos, as barreiras da segregação foram derrubadas. 

Sua precisão e sua habilidade matemática eram lendárias. Tanto que, em 1962, quando John Glenn se preparava para se tornar o primeiro americano a orbitar a Terra, ele solicitou pessoalmente que Katherine revisasse os cálculos gerados pelos novos computadores eletrônicos. “Se a Katherine disse que os cálculos estão certos, então estou pronto para partir!”, declarou Glenn, demonstrando não apenas que confiaria sua vida às habilidades extraordinárias de Katherine, mas também que estava disposto a romper as  barreiras sociais e raciais da época.

[ Lançamento da Missão Friendship 7, levando John Glenn para se tornar o primeiro americano a orbitar a Terra. Glenn só voou depois de ter os cálculos da missão revisados por Katherine – Créditos: NASA ]

E ela estava certa! Seus cálculos foram fundamentais, não era apenas para o voo de Glenn, mas também para o sucesso dos Programas Mercury e Apollo. As trajetórias calculadas por Katherine Johnson levariam os astronautas à Lua e de volta à Terra em segurança. Junto com suas colegas, Dorothy Vaughan e Mary Jackson, Katherine fazia parte de um grupo de mulheres negras que ficaram conhecidas como as “computadoras humanas” da NASA. Elas enfrentaram juntas os desafios de uma época marcada pela discriminação, mas abriram caminho para futuras gerações de mulheres e minorias na ciência.

O trabalho de Katherine Johnson e suas colegas teve um impacto profundo na luta por igualdade de gênero e raça nos campos científicos. Elas provaram que a diversidade não é apenas uma questão de justiça social, mas também um motor para a inovação e o progresso científico. Afinal, as melhores soluções surgem quando diferentes perspectivas e talentos se unem em busca de um objetivo comum.

Entre as diversas honrarias recebidas por Katherine por seu trabalho magnífico na NASA, está a Medalha Presidencial da Liberdade, entregue por Barack Obama em 2015, e em 2016, foi incluída na lista das 100 mulheres mais inspiradoras e influentes do mundo pela BBC. Duas importantes instalações da NASA também foram nomeadas em honra a Katherine Johnson, entre elas, as Instalações de Pesquisa Computacional. Além disso, as histórias de Katherine, Dorothy e Mary Jackson na NASA, que inspiraram toda uma geração, foram contadas no emocionante filme “Estrelas Além do Tempo”, que eu recomendo. 

[ Katherine Johnson após receber a Medalha Presidencial da Liberdade em 2015 – Créditos: Bill Ingalls / wikimedia.org ]

A trajetória desta mulher extraordinária nos ensina que a busca pelo conhecimento não tem barreiras. As estrelas que observamos no céu noturno nos lembram que somos todos parte de um mesmo universo, e que a diversidade e a inclusão são essenciais para desvendar seus mistérios. O talento e a dedicação de Katherine Johnson e suas colegas brilham como uma luz, iluminando o caminho para um futuro onde a ciência e a exploração espacial sejam acessíveis a todos, independentemente de sua cor, gênero ou origem.

A jornada de Katherine neste mundo se encerrou em 2020 após mais de 100 anos de resistência. Mas ela segue inspirando cada um de nós a perseguir nossos sonhos, superando as barreiras do preconceito para construir um futuro mais justo e igualitário para todos. Com seus cálculos precisos, Katherine Johnson levou o homem à Lua, e com sua coragem e perseverança, ajudou a transformar esse feito incrível em uma conquista de toda a humanidade.

O post Katherine Johnson e o papel de mulheres negras na era espacial apareceu primeiro em Olhar Digital.

Fonte: https://olhardigital.com.br/2024/11/25/colunistas/katherine-johnson-e-o-papel-de-mulheres-negras-na-era-espacial/