Um sítio paleontológico em Torotoro (Bolívia) preserva um número sem precedentes de pegadas, marcas de cauda e arranhões de garras deixados por centenas, possivelmente milhares, de dinossauros na margem de um antigo lago. Já foram identificadas 16,6 mil pegadas — o maior volume já registrado em um único local — além de recordes para quantidade de trilhas, marcas de cauda e “rotas contínuas de nado”.
A área, conhecida como Carreras Pampa, ocupa 7.485 m² e data do fim do período Cretáceo. Segundo a equipe liderada por Raúl Esperante, do Geoscience Research Institute, o sítio contabiliza 1.321 trilhas (sequências de duas ou mais pegadas de um mesmo indivíduo) e 289 pegadas isoladas, em um estudo descrito em um artigo de 125 páginas publicado na PLOS ONE.
“É incrível trabalhar aqui, porque, para onde quer que se olhe, o chão está coberto de pegadas de dinossauros”, disseram os autores em comunicado.
O que as pegadas revelam
- As marcas variam de menos de dez centímetros a mais de 30 centímetros de comprimento, sugerindo a presença de diversas espécies durante a breve janela em que o sedimento permitiu a preservação;
- Todas as pegadas registradas até agora são de terópodes ou aves, majoritariamente tridáctilas, sem registros locais de saurópodes ou ornitísquios — ainda que trilhas de saurópodes existam em outras áreas do Parque Nacional Torotoro;
- A grande maioria dos animais era pequena: poucas pegadas ultrapassam 30 centímetros e raros indivíduos teriam mais de 1,25 m de altura. Apenas uma trilha foi atribuída a um animal com provável massa superior a uma tonelada;
- As velocidades estimadas indicam deslocamentos entre 5,5 e 7,5 km/h, acima da média, mas ainda em ritmo tranquilo — sem evidências de perseguições ou fugas. Há exceções, com algumas trilhas sugerindo velocidades próximas de 20 km/h;
- A preservação é tão nítida que mais de 30 trilhas apresentam marcas de cauda, o primeiro registro desse tipo para dinossauros em toda a América do Sul — e o primeiro de caudas de terópodes em todo o Hemisfério Sul.

Os pesquisadores também identificaram numerosos arranhões de garras que interpretam como as mais extensas rotas de nado contínuo já registradas: seriam marcas deixadas quando dinossauros nadavam em água rasa e raspavam o fundo lodoso. Trilhas que sugerem dinossauros caminhando ou nadando parcialmente submersos têm sido tema de debate recente e Carreras Pampa deve alimentar novas discussões.
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Conservação e próximas etapas
As pegadas já documentadas estão distribuídas em nove áreas do sítio, que somam cerca de dois terços da superfície total. Em vários pontos, trilhas parecem começar nas bordas expostas, sugerindo que sequências mais longas ainda estejam soterradas. Em outros, o trajeto de um mesmo indivíduo reaparece sobre bancos de sedimentos diferentes.
A exposição do sítio ao tempo é recente, o que explica as poucas zonas de erosão acentuada. As pegadas tornaram-se atração turística e o controle por guias e guardas-parque tem evitado danos causados por visitantes empolgados.
“Este sítio é uma janela impressionante para o passado da região — não apenas sobre quantos dinossauros passaram por aqui, mas também o que faziam enquanto se deslocavam”, afirmaram os autores.

Outros sítios
A maioria dos sítios fossilíferos preserva pegadas de poucos indivíduos. Lark Quarry, na Austrália, por exemplo, ficou famoso por cerca de 3,3 mil pegadas atribuídas a três espécies.
A Europa possui a mais longa trilha contínua conhecida do continente, no Reino Unido, com centenas de pegadas de saurópodes de 166 milhões de anos. O recorde mundial anterior de trilha contínua, por sua vez, ficava no Colorado, Estados Unidos. Carreras Pampa, porém, opera em outra escala, tanto em área, quanto em variedade e quantidade de marcas.
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