
A Microsoft anunciou em fevereiro o chip quântico Majorana 1, que prometia ser um marco na área da computação quântica ao apresentar o primeiro processador quântico do mundo alimentado por qubits topológicos (relembraremos o que isso significa abaixo). No entanto, nos bastidores, cientistas revelaram que a tecnologia não é nada do que diz ser.
Até a pesquisa relacionada ao chip, publicada na prestigiada revista Nature, pode ter informações contraditórias sobre o que a Microsoft realmente conseguiu fazer.
Chip quântico Majorana 1 prometia ser revolucionário
O chip quântico da Microsoft foi apresentado em fevereiro. O Olhar Digital reportou aqui.
Vamos aos destaques da novidade:
- O Majorana 1, como foi batizado, prometeu ser o primeiro processador quântico do mundo alimentado por qubits topológicos, construído com um material inovador chamado topocondutor;
- Isso significa que o chip usa um material inovador que permite observar e controlar partículas de Majorana, cruciais para a criação de qubits mais confiáveis e escaláveis (basicamente, os blocos de construção dos computadores quânticos);
- Na ocasião, a Microsoft até comparou a importância do topocondutor com os semicondutores, que permitem a criação de eletrônicos, como smartphones, e chips de IA;
- Além disso, a tecnologia foi considerada promissora na busca por sistemas quânticos capazes de lidar com problemas complexos em escala industrial e social, e abriria portas para computadores quânticos em escala comercial.

Mas não é bem assim
Já na prática, o Majorana 1 parece não ser tudo que diz. De acordo com uma reportagem do New Scientist, cientistas especialistas em física reagiram negativamente ao chip quântico da Microsoft. As promessas de revolucionar a indústria com uma tecnologia inovadora pareciam não ser verdade.
E piora. No mesmo dia em que anunciou a novidade, a Microsoft publicou um estudo na revista Nature e um comunicado de imprensa sobre o Majorana 1. O problema é que o comunicado dizia que o estudo confirmava que a empresa “não só criou partículas de Majorana, que ajudam a proteger informação quântica de perturbações, como também pode medir de forma confiável essas informações a partir delas”.
Ao mesmo tempo, editores da Nature, que é conhecida por um processo de revisão bastante rígido, deixaram claro que a afirmação da Microsoft está incorreta. Um relatório público sobre o processo de revisão por pares da revista consta que “o time editorial gostaria de salientar que os resultados deste manuscrito não representam evidência da presença de modos zero de Majorana nos dispositivos relatados”.
Traduzindo, a Microsoft disse uma coisa, a Nature disse outra. E as duas são contraditórias entre si.
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E piora
A situação ainda escalou:
- O pesquisador Henry Legg, da Universidade de St Andrews, no Reino Unido, chamou atenção para algo curioso: dois dos quatro revisores do estudo da Microsoft tiveram críticas negativas sobre os resultados, o que, no caso dos critérios da Nature, desqualificaria a publicação;
- Ao final do processo, um dos editores havia mudado de ideia, deixando o placar 3×1 a favor da publicação. No entanto, um desses revisores foi Hao Zhang, da Universidade de Tsinghua, da China, que, segundo Legg, já trabalhou com a Microsoft;
- Zhang negou qualquer envolvimento com a empresa. Ele confirmou que trabalhou com funcionários da big tech, mas na época em que ainda não eram funcionários;
- A Microsoft negou qualquer envolvimento com o processo de revisão.

E como fica o chip quântico da Microsoft?
Estudos e declarações anteriores da Microsoft já haviam provado o quão difícil era chegar no chip quântico ideal. A publicação da Nature não pareceu focar no que o Majorana 1 tinha de fato provado conseguir, mas em seu potencial.
Um porta-voz da empresa deixou claro que, desde que submeteu o estudo para revisão (há um ano), a big tech não apenas conseguiu criar o chip como relatado, mas também o testou.
O representante ainda acrescentou que a Microsoft está ansiosa para compartilhar os resultados da tecnologia, com potencial para tornar a computação quântica uma realidade tangível.
O post Majorana 1: nos bastidores, chip quântico da Microsoft não é nada do que diz apareceu primeiro em Olhar Digital.
Fonte: https://olhardigital.com.br/2025/03/13/pro/majorana-1-nos-bastidores-chip-quantico-da-microsoft-nao-e-nada-do-que-diz/