
A Microsoft quer se firmar como o novo império da infraestrutura de inteligência artificial (IA). Numa postagem recente no X/Twitter, o CEO Satya Nadella afirmou que a empresa está “unicamente posicionada” para atender à demanda global de IA. Foi um recado direto a rivais como OpenAI, Google e Amazon, que disputam cada megawatt de poder computacional.
Por trás do discurso, a companhia acelera um plano bilionário para ganhar soberania computacional – isto é, independência na produção e operação da tecnologia que alimenta seus sistemas de IA.
O plano envolve desde o super data center Fairwater, em construção nos Estados Unidos, até o desenvolvimento de chips próprios e contratos de aluguel em larga escala com provedores de nuvem.
Soberania computacional é a nova fase da corrida da IA
A postagem de Nadella reforça a nova fase da corrida pela infraestrutura de IA. Se antes a disputa girava em torno dos modelos mais avançados, agora o foco está em quem controla o poder de processamento que torna esses modelos possíveis.
A Microsoft quer dominar essa base — dos chips aos data centers — para garantir autonomia e vantagem na era da chamada “soberania computacional”.
É uma corrida por escala, eficiência e independência tecnológica que vai muito além do software. E começa, literalmente, no chão dos servidores.
Data centers próprios e chips ‘made in Microsoft’
A base da estratégia da Microsoft é dominar toda a cadeia produtiva da IA. Em vez de depender de fornecedores como Nvidia e AMD, a empresa quer construir seu próprio ecossistema de hardware.
O plano começou a tomar forma em 2023, com o lançamento do Azure Maia AI Accelerator, voltado para cargas de trabalho de IA, e do Cobalt CPU, processador criado para rodar aplicações em servidores de alto desempenho.
Esses chips serão integrados à rede de mais de 300 data centers em 34 países, que já sustentam o serviço de nuvem Azure e produtos como o Copilot.
Segundo Nadella, essa estrutura coloca a Microsoft “unicamente posicionada” para lidar com os sistemas que esticam a fronteira da IA (aqueles modelos tão grandes e complexos que exigem uma infraestrutura de supercomputação).
A meta é atingir autossuficiência computacional, o que traria redução de custos e ganho de liberdade para otimizar o desempenho de suas aplicações.
O CTO da Microsoft, Kevin Scott, resume a ambição: o objetivo é ter controle total “do design do sistema às decisões de resfriamento”, garantindo que cada peça da infraestrutura seja moldada para extrair o máximo da IA.
Fairwater: o super data center da Microsoft
O símbolo mais visível dessa ambição é o projeto Fairwater, em Mount Pleasant, Wisconsin. O complexo está sendo construído no terreno de uma antiga fábrica da Foxconn e deve receber US$ 3,3 bilhões (cerca de R$ 18 bilhões) em investimentos. Quando estiver pronto, será dez vezes mais poderoso que o supercomputador mais rápido em operação.

O Fairwater vai reunir centenas de milhares de GPUs Nvidia GB200, conectadas para funcionar como um único supercomputador. Essa arquitetura permitirá processar mais de 865 mil tokens por segundo, o que vai tornar o data center essencial para o treinamento da nova geração de modelos de linguagem.
Além da potência, o data center busca ser um exemplo de sustentabilidade. A instalação usa resfriamento líquido em circuito fechado, que evita desperdício e evaporação de água — mais de 90% da operação ocorre sob esse modelo.
O projeto, no entanto, chega em meio a questionamentos sobre o impacto energético de centros desse porte, que exigem gigawatts de eletricidade para funcionar.
A fase do aluguel: bilhões em ‘nuvens terceirizadas’
Mesmo com infraestrutura própria, a Microsoft recorre a uma estratégia complementar: alugar poder computacional de terceiros. A tática serve para contornar a escassez global de chips e servidores de IA, que limita a expansão das big techs.

Nos últimos meses, a empresa firmou contratos que somam mais de US$ 33 bilhões (R$ 176 bilhões) com provedores de infraestrutura conhecidos como neoclouds – entre eles, estão: Nebius, Nscale, Lambda e CoreWeave. O maior desses acordos, com a Nebius, vale US$ 19,4 bilhões (R$ 103,7 bilhões) e garante acesso a mais de 100 mil chips Nvidia GB300.
O poder alugado é usado internamente para treinar modelos e desenvolver produtos de IA, o que libera os próprios data centers da Microsoft para atender clientes corporativos. A empresa “não quer ficar limitada em termos de capacidade”, disse Scott Guthrie, chefe da divisão de nuvem.
Segundo ele, a estratégia representa uma “conquista de território no espaço da IA”. Isso porque garante poder de processamento enquanto o mercado global disputa cada servidor disponível.
Independência no discurso, dependência na prática
Apesar do discurso de autossuficiência, a Microsoft ainda depende fortemente da Nvidia para tocar seus projetos mais ambiciosos. Tanto o Fairwater quanto os contratos de aluguel operam com chips da fabricante, que segue dominando o mercado de GPUs de alto desempenho.
A contradição expõe a transição pela qual a empresa passa: enquanto investe em seus próprios chips, ainda precisa do hardware da Nvidia para sustentar a atual geração de modelos de IA. O mesmo ocorre com concorrentes como Amazon e Google. Isso mostra que a autonomia total ainda é uma meta distante.
Para a Microsoft, o desafio é equilibrar velocidade e independência. Ou seja: avançar na construção de uma infraestrutura própria sem perder competitividade numa corrida acirrada.
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A disputa pelo poder no setor da IA
A corrida pelos data centers de IA não é apenas tecnológica. É também uma disputa por influência econômica e política sobre a infraestrutura que sustenta o futuro digital. Controlar o poder de processamento significa definir quem terá acesso aos modelos mais avançados. E a que custo.
Com investimentos bilionários e chips desenvolvidos em casa, a Microsoft tenta se posicionar como arquiteta da nova era da IA, ao invés de apenas uma fornecedora de nuvem.
O sucesso desse plano pode redefinir o equilíbrio de forças entre as big techs. E estabelecer um novo padrão de soberania digital, no qual o verdadeiro poder não está no software, mas na energia e nos servidores que o mantêm “vivo”.
(Essa matéria também usou informações do site TechCrunch.)
O post Microsoft tem ‘posição única’ para liderar a corrida da IA, diz CEO apareceu primeiro em Olhar Digital.
Fonte: https://olhardigital.com.br/2025/10/10/pro/microsoft-tem-posicao-unica-para-liderar-a-corrida-da-ia-diz-ceo/