A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou recentemente para dados alarmantes: entre janeiro de 2022 e junho de 2024, quase 100 mil casos de mpox foram registrados em 116 países, resultando em mais de 200 mortes. O Brasil, com mais de 11 mil casos, ocupa a segunda posição no ranking global, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.
Anteriormente conhecida como varíola dos macacos, a mpox é uma infecção viral que causa lesões cutâneas, febre, fadiga e dores, sendo transmitida principalmente por contato pele a pele. A doença, antes confinada a certas regiões da África, ganhou uma dimensão global, levando a OMS a declarar emergência de saúde pública em algumas áreas.
Na entrevista abaixo ao Olhar Digital News, o Dr. Álvaro Furtado, diretor da Sociedade Paulista de Infectologia, esclarece as principais questões sobre a mpox, abordando desde os sintomas e formas de infecção até as estratégias de prevenção e vacinação em vigor no Brasil.
“A mpox é uma doença já antiga, dos anos 70, causada por um Pox vírus, primo do vírus da varíola. Nos últimos dois anos essa doença sai da África e ganha um surto de mais de 90 países, e o Brasil foi o segundo país do mundo em quantidade de casos dessa doença. […] É uma doença de transmissão pele a pele, porque a manifestação dessa doença da mpox são lesões cutâneas, que podem aparecer no genital, na boca, no ânus, em toda a nossa pele. Então como que se transmite essa doença? Usualmente contato pele a pele e um momento mais oportuno para ter essa transmissão é durante a atividade sexual. Então eu posso considerar a mpox como uma infecção sexualmente transmissível.”
O Pox vírus primo da varíola causa lesões na pele. (Imagem: QINQIE99 / Shutterstock.com)
“Neste surto que aconteceu, que começa em 2022, quando a doença sai da África, na clade número 2, [a mpox] afeta fundamentalmente alguns grupos específicos, especialmente pessoas que têm uma atividade sexual mais vulnerável. Então o surto se concentrou muito mais em homens que fazem sexo com homens, em pessoas que vivem com HIV e também usuários de profilaxia pré-exposição a pré-exposição. […] O que é a nossa grande preocupação agora é que tem variações genéticas desse vírus da mpox, o chamado clado 1, esse é muito mais grave, [e antes] estava restrito no Congo, e nos últimos meses, desde janeiro, ele espalhou para países próximos ali, vizinhos do Congo.”
“Olha, no mundo globalizado, qualquer doença pode causar uma pandemia, porque basta a doença ter uma fácil transmissão e as pessoas viajarem, isso aconteceu muito durante a Covid. […] Só que a Covid é uma doença de transmissão respiratória, não que a mpox não seja também, a mpox é muito mais contato pele a pele, então existe o risco de um surto em vários países, sim. Quando a OMS decreta uma emergência global em saúde pública, […] você começa a disparar condutas para tentar conter esse surto, e essas condutas vão desde investimento financeiro, vacinas, estratégias de testagem, isolamento dos doentes.”
“Existe um único produtor, uma única vacina disponível para comercial, o único produtor lá na Noruega que faz essa vacina, então existe uma quantidade de doses insuficiente para o mundo, não é para vacinar todo mundo, [e sim] priorizar as pessoas mais suscetíveis, as mais vulneráveis nessa primeira fase, já que a quantidade de doses é pequena, não só para o Brasil, para o mundo inteiro.”
Vacina contra a mpox não é produzida em escala suficiente para imunização global. (Imagem: Diy13 / iStock)
“No momento, a gente nem consegue fazer [testagem em massa], na Covid a gente tinha como fazer teste, [mas] a mpox nem dá para fazer isso, é lesão de pele, então fica muito difícil, não é momento de fazer isso, não existe um surto na magnitude [da Covid-19]. A questão é fazer diagnóstico precoce desses doentes, esses doentes têm que ficar isolados até as lesões de pele cicatrizarem. […] A preocupação é a variante do Congo, a clade 1, [por isso é necessário] fazer vigilância genômica.”
“[Ainda] não se sabe se essa clade número 1 é coberta por vacina, a priori, sim, tem uma grande chance da vacina cobrir o clade 1, o clade lá do Congo, mas [isso] tem que ser estudado para entender cobertura vacinal contra esse novo clade.”
“[Os] sintomas que o paciente pode ter geralmente [são]: febre, íngua nas virilhas, […] dor no corpo, dor nas costas, e aí começa a pipocar as lesões, que podem começar no genital, no pênis, no ânus, na vagina e podem se espalhar para outros locais do corpo. […] Em pessoas com imunidade mais baixa, essas lesões podem se disseminar para o corpo inteiro, como, por exemplo, pacientes oncológicos, transplantados, pessoas que vivem com HIV que não estão tomando terapia antiretroviral.”
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Entrevista na íntegra com o Dr. Álvaro Furtado
Acompanhe a entrevista completa do Olhar Digital com o Dr. Álvaro Furtado, diretor da Sociedade Paulista de Infectologia, sobre a mpox:
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