
O aumento da temperatura média global está muito perto de superar a marca de 1,5 °C. Este foi o limite estabelecido pelo Acordo de Paris, assinado por dezenas de países há dez anos. É o que aponta um novo estudo publicado na revista Earth System Science Data (ESSD).
A pesquisa trabalha com conceito chamado “orçamento de carbono“. Ou seja, o limite de gases do efeito estufa que pode ser emitido para manter probabilidade de 50% de não passarmos da marca de 1,5 °C de aquecimento em relação aos níveis pré-industriais.
Cenário mundial ante as mudanças climáticas
Saindo da teoria e indo para os números, temos o seguinte cenário:
- O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU estimou, em 2021, que o orçamento de carbono restante para a meta era de 500 bilhões de toneladas de CO₂. O novo estudo aponta que esse número caiu para 130 bilhões de toneladas em 2024;
- Na avaliação de Joeri Rogelj, professor de ciência e política climática no Imperial College London (Inglaterra) e coautor da pesquisa conduzida por mais de 60 cientistas internacionais, o objetivo parece cada vez mais inalcançável;
- A equipe chegou à conclusão de que tanto o nível quanto o ritmo do aquecimento global em 2024 foram inéditos.
Climatologista alerta para o futuro climático do planeta
O Olhar Digital conversou com o climatologista Carlos Nobre, Professor Titular da Cátedra de Clima e Sustentabilidade da Universidade São Paulo (USP) e copresidente do Painel Científico para a Amazônia. Ele reforçou que o tempo para agir está se esgotando.
“O risco futuro é o que a Ciência está indicando agora. A Organização Meteorológica Mundial [OMM] também lançou relatório muito importante, dizendo que a probabilidade de a gente atingir permanentemente 1,5 °C antes de 2030 é muito alta se a gente continuar com as emissões dos gases de efeito estufa”, explicou.
“[O estudo] está indicando que o máximo que a gente pode emitir para ficar abaixo de 1,5 °C seria na ordem de 130 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa. [Hoje] nós estamos emitindo mais de 50 bilhões por ano. Então, em três anos, nós já passaríamos esse limite.”
“Como eu falei, a Ciência está tentando explicar muito como que a gente aumentou a temperatura, de 0,35 °C, de 2022 para 2024. O El Niño desapareceu em abril, mas a temperatura continua muito quente, bateu o recorde em grande parte dos oceanos e, portanto, esse é um gigantesco risco“, frisou Nobre.
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O artigo avaliou dez indicadores das mudanças climáticas e foi divulgado durante a reunião de negociação climática da ONU em Bonn (Alemanha).
Os pesquisadores estimam que a temperatura média global na década que se encerrou em 2024 ficou 1,24 °C acima dos níveis pré-industriais – principalmente por causa do desmatamento e da queima de combustíveis fósseis. Para se ter uma ideia, a taxa de aquecimento global de 2012 a 2024 foi o dobro da registrada nas décadas de 1970 e 1980.
Esse é um cenário que, se não for revertido, levará a uma perda irreparável em diferentes biomas, segundo Carlos Nobre. “Mas, se atingirmos 1,5 °C até 2030 e continuarmos com emissões, mesmo reduzindo as emissões lentamente até 2050, nós, certamente, passaríamos de 2 °C e podemos atingir até 2,5 graus em 2050. Esse é um ecocídio, um suicídio para o planeta“, alertou.

“A Amazônia vai desaparecer”, alerta Nobre
Para encerrar, o climatologista elencou os grandes problemas pelos quais o planeta (e nós) podemos enfrentar se a situação não for revertida:
O solo congelado da Sibéria, Norte do Canadá, Norte do Alasca e o permafrost, até 2100, passando de 2 °C, vai jogar mais de 200 bilhões de toneladas de gás de efeito estufa, principalmente o metano, que absorve muito mais a radiação infravermelha que o gás carbônico.
Nós vamos perder a Amazônia. Nós podemos perder até 70% da Amazônia, se autodegradar para um sistema do oceano aberto, altamente degradado, uma savana super degradada. Nós vamos jogar mais de 250 bilhões de toneladas de gás carbônico [na atmosfera] até 2100.
Nós vamos acelerar o derretimento do manto do gelo da Groenlândia e o nível do mar vai subir muito mais rápido que parte da Antártica. Nós vamos extinguir praticamente até 2100. Nós podemos perder mais de 99% das espécies de recifes de corais, onde mantém 25% da biodiversidade. E também vamos degelar muito do oceano, do mar de gelo do Ártico e lá próximo da Antártica.
Esses são gigantescos riscos que nós estamos vivendo. A COP 30 tem que ser a mais importante das 30 COPs. Nós temos que combater toda emergência climática, senão, o planeta vai para o ecocídio.
Carlos Nobre, Professor Titular da Cátedra de Clima e Sustentabilidade da Universidade São Paulo (USP) e copresidente do Painel Científico para a Amazônia, em entrevista ao Olhar Digital
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Fonte: https://olhardigital.com.br/2025/06/26/ciencia-e-espaco/nos-vamos-perder-a-amazonia-diz-climatologista-sobre-aquecimento-global/