
A energia escura é um dos componentes do Universo que intriga a comunidade científica há décadas, sendo um dos responsáveis pela expansão do cosmos. Uma nova pesquisa realizada por uma equipe do Arizona, mostrou que o Universo pode ser diferente do que se pensava e a misteriosa energia tem uma função essencial nesse novo modelo.
O episódio do Olhar Espacial da última sexta-feira (28) – que você confere aqui – falou sobre os mistérios da matéria escura e como dados inéditos do Dark Energy Spectroscopic Instrument (DESI) no Observatório Nacional de Kitt Peak, no Arizona (EUA), podem mudar o que a ciência sabe sobre a expansão universal.
O programa contou com a presença do físico Roberto Pena. Em um bate-papo com o apresentador Marcelo Zurita, o convidado explicou como os cientistas modelam o cosmos, qual a importância do James Webb no estudo da energia escura e como as novas informações do DESI impactam a astronomia.
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Constante cosmológica pode não ser uma constante
O DESI fez uma varredura que abrange, aproximadamente, 15 milhões de galáxias e outros objetos celestes, mapeando 11 bilhões de anos de história cósmica e construiu um mapa em 3D. Com isso, os cientistas puderam medir a distância entre as galáxias e descobrir mais sobre como os espaços vazios e a origem do Universo estão ligados.
Após o Big Bang, o cosmos tinha uma energia muito concentrada e as partículas se chocavam em alta velocidade. Esse cenário gerava um movimento acústico, em que as ondas sonoras reverberaram. Onde as ondulações se juntavam, a matéria se concentrava e onde se anulavam, havia baixa densidade de matéria.
“Se você bater num tambor e colocar grãos de areia por cima, naturalmente esses grãos vão ficar concentrados em alguns pontos do instrumento”, explica Pena.

Esse momento ficou conhecido como a Era da Recombinação. A partir dela, a matéria se formou e então as nebulosas, estrelas, planetas e todos os astros.
Nos mapas feitos na década de 1980 da radiação cosmológica de fundo já era possível observar que a posição das galáxias retrata essas flutuações das ondas. Porém, com o novo mapeamento do DESI, os astrônomos se surpreenderam ao constatar que a taxa de expansão do Universo, mostrada pela posição dos astros, pode não ser constante.
“A gente tava com o modelo Lambda-CDM, Big Bang, tudo bem encaixadinho. E agora a gente tá tendo que mexer os nossos primeiros fiozinhos”, comenta o físico.
Energia Escura está enfraquecendo? Universo pode colapsar!
Desde a descoberta da energia escura, ela tem sido considerada o fator constante que impulsiona o afastamento cada vez mais acelerado das galáxias. Ela é essencial para se entender a taxa em que o cosmos se expande.
Esse alargamento poderia resultar em um futuro onde o Universo se expandiria eternamente. Isso causaria o seu esfriamento e geraria um final conhecido como “big freeze”, em que as estrelas deixariam de se formar e as atuais morreriam aos poucos.
Contudo, os novos dados do DESI sugerem uma realidade alternativa: a energia escura pode ter atingido seu pico quando o Universo tinha cerca de 70% da sua idade atual e, desde então, vem perdendo força — atualmente, cerca de 10% mais fraca.
Após observarem o novo mapa do DESI, os cientistas constataram que é possível a constante cosmológica ser, na verdade, variável. Isso faria do Universo mais dinâmico e complexo do que o imaginado.
Essa descoberta também levanta a possibilidade de que, num futuro distante, a aceleração possa cessar, estabilizando a expansão ou até a revertendo, em um colapso final conhecido como “big crunch”.
“Se a variável virar negativa, o Universo pode se juntar e colapsar”, diz Pena.
Novo modelo ainda precisa de análises profundas
Zurita e Pena comentam que a descoberta ainda passará pela revisão da comunidade cientifica. Outras equipes de pesquisa ainda terão que fazer observações para a novidade se consolidar.
“Por enquanto a gente ainda tá muito no começo. Não dá para dizer que vai zerar ou diminuir, só estamos vendo que a constante não é mais constante”, explica o físico.
Eles comentam que até mesmo Einstein foi questionado sobre seu modelo cosmológico. O grupo do DESI passará pelas mesmas suspeitas e seu trabalho poderá ser mais uma hipótese ou uma grande descoberta capaz de mudar a astronomia.
“Para mim, é uma pesquisa incrível, que mostra que ainda temos muita coisa para descobrir”, conclui Pena.
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