26 de agosto de 2025
Novo objeto interestelar tem composição química bizarra
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Descoberto em julho pelo Sistema de Alerta de Impacto Terrestre de Asteroides (ATLAS), o cometa 3I/ATLAS foi observado pelo Telescópio Espacial James Webb (JWST), da NASA, pela primeira vez no dia 6 de agosto. 

Os dados obtidos revelam informações inesperadas sobre o corpo celeste, que é o terceiro e mais rápido objeto interestelar a cruzar o Sistema Solar, depois do asteroide 1I/’Oumuamua, em 2017, e do cometa 2I/Borisov, em 2019.

Em poucas palavras:

  • O cometa 3I/ATLAS foi descoberto em julho;
  • Logo se confirmou se tratar do terceiro objeto interestelar passando pelo Sistema Solar;
  • Ele vem sendo observado por diversos equipamentos no espaço e em solo;
  • O Telescópio James Webb acaba de revelar as mais recentes informações sobre o objeto;
  • Segundo os dados, ele é composto por dióxido de carbono, água e outros gases;
  • A proporção elevada de CO₂ em relação à água é inédita.
Cometa 3I/ATLAS viajando através de um fundo de estrelas, visto pelos telescópios terrestres do Observatório Las Cumbres. Crédito: ESA

Em um artigo apresentado em pré-publicação nesta segunda-feira (25), aguardando revisão de pares, a equipe explica que a investigação de objetos vindos de outros sistemas estelares ajuda a compreender como esses lugares eram nos primórdios. Ao comparar os resultados com os dados conhecidos sobre a formação do nosso Sistema Solar, os cientistas conseguem investigar se os processos foram semelhantes ou se ocorreram sob condições diferentes.

Antes do Webb, o cometa 3I/ATLAS já havia sido observado pelo Telescópio Espacial Hubble e pelo Observatório SPHEREx. Agora, com o poderoso olhar infravermelho do JWST e o uso do instrumento NIRSpec (sigla para Espectrógrafo de Infravermelho Próximo), foi possível analisar com mais precisão o tamanho, a estrutura e, sobretudo, a composição química do objeto. 

O Telescópio Espacial Hubble capturou esta imagem do cometa interestelar 3I/ATLAS em 21 de julho de 2025, quando o objeto estava a 445 milhões de quilômetros da Terra. Crédito: NASA, ESA, David Jewitt (UCLA); Processamento de imagem: Joseph DePasquale (STScI)

James Webb detecta química inusitada no cometa 3I/ATLAS

Quando os cometas se aproximam do Sol, seu núcleo gelado aquece e libera gases. Esse processo, chamado de desgaseificação, é responsável pela formação da cauda e do halo de poeira e gás, conhecidos como coma. No caso do 3I/ATLAS, o Webb detectou dióxido de carbono (CO2), monóxido de carbono, vapor d’água, gelo e até um gás raro chamado sulfeto de carbonila.

O que mais chamou a atenção foi uma proporção muito maior de CO2 em relação à água, algo que nunca havia sido registrado em um cometa. Essa discrepância pode revelar pistas importantes sobre a origem do objeto e as condições do ambiente em que ele foi formado.

Mapa de luz difusa do cometa 3I/ATLAS observado pelo NIRSpec, do JWST, com a localização presumida do núcleo e a emissão de gás. Crédito: Martin Cordiner et. al.

Uma das hipóteses levantadas é que o 3I/ATLAS tenha um núcleo naturalmente rico em CO2. Isso poderia indicar que ele foi exposto a níveis muito altos de radiação, diferentes dos cometas do nosso sistema. Outra possibilidade é que ele tenha se originado na chamada “linha de gelo de dióxido de carbono”, uma região do disco de poeira e gás ao redor de uma jovem estrela onde esse elemento congela com facilidade.

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Objeto interestelar 3I/ATLAS é mais antigo que o Sistema Solar

Outro dado curioso foi a baixa presença de vapor d’água, sugerindo que algo dentro do cometa impede que o calor penetre fundo o suficiente em seu núcleo gelado. Como resultado, a quantidade de água transformada em gás é menor em relação ao dióxido de carbono e ao monóxido de carbono.

Estudos anteriores apontam que o 3I/ATLAS tem cerca de 7 bilhões de anos, ou seja, 3 bilhões a mais que o Sistema Solar. Isso reforça a ideia de que ele veio de uma região antiga da Via Láctea chamada “disco espesso”, conforme noticiado pelo Olhar Digital. É como se esse cometa fosse uma verdadeira cápsula do tempo. 

As observações do objeto vão continuar até que ele deixe o Sistema Solar e volte ao espaço interestelar, com o JWST atuando como um dos principais agentes para desvendar os segredos desse visitante cósmico.

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Fonte: https://olhardigital.com.br/2025/08/26/ciencia-e-espaco/novo-objeto-interestelar-tem-composicao-quimica-bizarra/