21 de dezembro de 2025
Núcleo de gelo pode explicar geleiras que não derretem
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Um cilindro de gelo com 105 metros de comprimento pode ajudar cientistas a entender um dos fenômenos mais incomuns ligados às mudanças climáticas atuais: o fato de algumas geleiras no Tajiquistão não apenas resistirem ao derretimento acelerado, como também apresentarem leve crescimento. O material foi extraído de uma região montanhosa remota e agora é analisado por uma equipe internacional liderada por pesquisadores japoneses.

A investigação tenta esclarecer por que essas geleiras seguem um caminho diferente da maioria das formações de gelo do planeta, que vêm diminuindo rapidamente nas últimas décadas. A expectativa dos cientistas é que as respostas estejam registradas nas camadas internas do gelo, capazes de revelar informações climáticas de centenas ou até milhares de anos. As informações são da Agence France-Presse (AFP).

Enquanto a maioria das geleiras do mundo vem diminuindo, algumas se mantêm – e ainda aumentam (Imagem: Bernhard Staehli / Shutterstock.com)

Uma missão científica em altitude extrema

O núcleo de gelo analisado faz parte de uma expedição realizada no início de 2025 à calota de gelo Kon-Chukurbashi, nas montanhas Pamir, a uma altitude de 5.810 metros. O local integra a única região montanhosa do mundo onde as geleiras não seguiram a tendência global de retração, fenômeno conhecido como “anomalia Pamir-Karakoram”.

Durante a missão, os pesquisadores perfuraram a geleira e retiraram duas colunas de gelo com cerca de 105 metros de profundidade. Uma delas foi enviada para um santuário subterrâneo na Antártida, mantido pela Ice Memory Foundation, enquanto a outra seguiu para o Instituto de Ciência de Baixas Temperaturas da Universidade de Hokkaido, no Japão.

Por que essas geleiras não estão derretendo?

No laboratório em Sapporo, a equipe liderada pelo professor Yoshinori Iizuka tenta identificar as razões do aumento da precipitação na região ao longo do último século e entender como isso contribuiu para a resistência das geleiras ao aquecimento global.

Há hipóteses que relacionam o fenômeno ao clima naturalmente frio da área ou até ao uso intensivo de água agrícola no Paquistão, que poderia aumentar a quantidade de vapor na atmosfera. No entanto, segundo os pesquisadores, os núcleos de gelo representam a primeira oportunidade de analisar cientificamente essas teorias.

O que o gelo revela sobre o passado?

Cada camada do gelo funciona como um registro histórico. Camadas transparentes indicam períodos mais quentes, quando houve derretimento seguido de recongelamento. Já camadas menos densas apontam para acúmulo de neve, ajudando a estimar os níveis de precipitação ao longo do tempo.

A presença de rachaduras, por sua vez, sugere episódios de neve sobre gelo parcialmente derretido. Outros elementos também servem como pistas importantes: materiais de origem vulcânica, como íons de sulfato, funcionam como marcadores temporais, enquanto isótopos da água ajudam a estimar temperaturas do passado.

As condições dos blocos removidos do núcleo do gelo dizem muito sobre a história das geleiras (Imagem: Stone36 / Shutterstock)

A busca por gelo com milhares de anos

Os cientistas esperam encontrar amostras com até 10 mil anos de idade, embora parte da geleira tenha derretido durante um período mais quente ocorrido há cerca de 6 mil anos. Caso o chamado “gelo antigo” esteja preservado, ele pode ajudar a responder perguntas sobre o tipo de neve que caía na região durante a última era do gelo e quais partículas estavam presentes na atmosfera naquele período.

Para os pesquisadores, essas informações são fundamentais para compreender como o clima evoluiu ao longo do tempo e como a geleira conseguiu crescer mesmo em um cenário global de aquecimento.

Análises cuidadosas e próximos passos

Desde que as amostras chegaram ao Japão, em novembro, o trabalho avança lentamente. Em ambientes com temperaturas próximas de −20 °C, os cientistas analisam densidade, estrutura e composição química do gelo, em um processo descrito como minucioso e delicado.

Segundo a equipe, os primeiros resultados devem ser publicados no próximo ano. Parte das amostras armazenadas na Antártida também poderá ser usada em estudos futuros, incluindo pesquisas sobre impactos históricos de atividades humanas, como a mineração, na qualidade do ar e no regime de chuvas da região.

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Fonte: https://olhardigital.com.br/2025/12/21/ciencia-e-espaco/nucleo-de-gelo-pode-explicar-geleiras-que-nao-derretem/