25 de fevereiro de 2025
O impacto crescente dos megaicebergs da Antártida
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A liberação de icebergs gigantes da camada de gelo da Antártida e sua deriva pelos oceanos não é um fenômeno novo. No entanto, as mudanças climáticas estão tornando esse processo mais frequente e intenso, resultando em icebergs cada vez maiores. Atualmente, um bloco colossal de gelo está se dirigindo à ilha de Geórgia do Sul, situada no Atlântico Sul.

Pesquisadores da Universidade de Utrecht estão analisando trajetórias passadas de icebergs durante períodos de grande deterioração das camadas de gelo, como no final das eras glaciais. O objetivo é entender os impactos do degelo sobre os oceanos e suas possíveis consequências para o futuro.

Durante essas investigações, os cientistas também descobriram uma explicação para um enigma antigo: a presença de material antártico em Órcades do Sul, uma ilha a sudoeste de Geórgia do Sul. Esse achado revela a influência do deslocamento de icebergs na distribuição de sedimentos e pode fornecer indícios cruciais sobre as condições climáticas da Terra em diferentes períodos.

Icebergs gigantes próximos à Antártida (Imagem: IODP Expedition 318 science party, 2010)

O processo de desprendimento e a influência climática

  • As camadas de gelo crescem com a acumulação de neve e são deslocadas lentamente em direção ao mar pela gravidade.
  • A perda de volume ocorre por derretimento e pelo desprendimento de icebergs.
  • Quando o crescimento do gelo equilibra a perda, a camada de gelo permanece estável.
  • No entanto, com o aquecimento do ar e dos oceanos ao redor do Polo Sul, os blocos de gelo têm se rompido de maneira acelerada.
  • O derretimento na superfície enfraquece a estrutura do gelo, enquanto as águas mais quentes afinam as plataformas, facilitando o desprendimento de massas gigantes em curtos espaços de tempo.

O corredor dos icebergs e um mistério geológico

A região de Geórgia do Sul está localizada no meio de um corredor marítimo conhecido como Iceberg Alley, uma faixa de oceano repleta de icebergs originários da Antártida. Essas massas de gelo são impulsionadas para o norte pelos ventos e correntes oceânicas, até encontrarem águas mais quentes, onde acabam derretendo completamente.

Uma descoberta intrigante chamou a atenção dos cientistas: fragmentos de detritos originários da Antártida foram encontrados em Órcades do Sul, com datação de 37 milhões de anos. Isso sugere a existência de uma camada de gelo na região 3 milhões de anos antes do congelamento generalizado da Antártida, algo que desafiava as compreensões climáticas anteriores.

O estudante Mark Elbertsen, da Universidade de Utrecht, conseguiu solucionar esse enigma. Por meio de simulações computacionais, ele determinou que a região do Mar de Weddell era fria o suficiente para permitir que icebergs de médio porte chegassem a Órcades do Sul no final do Eoceno. Os fragmentos de rochas encontrados na ilha correspondem às formações rochosas da base da Antártida, reforçando a hipótese de que uma camada de gelo substancial já existia naquele período.

A estrela vermelha indica a posição de South Orkney no final do Eoceno (37 milhões de anos atrás). As regiões azuis mostram onde a Antártida pode ter tido gelo terrestre na época. As linhas cinza e azul-claro no oceano indicam os possíveis caminhos dos icebergs, com os caminhos azul-claro chegando até South Orkney, que estava no Corredor dos Icebergs no final do Eoceno. (Imagem: Elbertsen et al. / EGUsphere)

Impactos do degelo e os desafios futuros

O impacto do aumento de icebergs na Antártida é uma preocupação crescente para os cientistas. O derretimento dessas massas libera grandes volumes de água doce no oceano, o que pode influenciar as correntes oceânicas profundas e a capacidade dos oceanos de absorver carbono.

O programa de pesquisa EMBRACER está abrindo uma posição de doutorado para estudar esses fenômenos, com foco na identificação das quantidades de água doce liberadas e nas consequências desse processo para o clima global.

Se as mudanças climáticas continuarem no ritmo atual, a presença de icebergs gigantes nos oceanos do sul se tornará ainda mais comum. Estudos geológicos serão essenciais para prever os impactos desses eventos e desenvolver estratégias de mitigação.

O super-iceberg A23a e seu destino incerto

Um dos maiores icebergs do mundo, o A23a, se desprendeu da plataforma de gelo Filchner em 1986, mas ficou encalhado no Mar de Weddell por décadas. Em 2020, ele começou a se movimentar e agora segue em direção à costa sul de Geórgia do Sul.

A situação está sendo monitorada de perto por cientistas, pois Geórgia do Sul abriga importantes colônias de pinguins, focas e albatrozes. Caso o A23a colida com a ilha, pode bloquear o acesso desses animais aos locais de reprodução e alimentação. No entanto, especialistas acreditam que isso seja improvável, já que a ilha é cercada por bancos rasos, onde o iceberg provavelmente encalhará antes de atingir a costa.

pinguins na geórgia do sul
Grupo de pinguins na Geórgia do Sul. Ilha é conhecida por sua biodiversidade (Imagem: Wirestock / iStock)

Se isso acontecer, a presença do iceberg pode até beneficiar a fauna local, pois o movimento das correntes ao redor da massa de gelo poderia aumentar a disponibilidade de alimento para diversas espécies marinhas. Outra possibilidade é que as correntes oceânicas desviem o iceberg para longe da ilha, permitindo que ele derreta gradualmente em mar aberto.

A evolução desse fenômeno segue sendo observada pelos cientistas, pois pode fornecer dados valiosos sobre o comportamento futuro dos icebergs na Antártida e seus impactos ambientais.

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Fonte: https://olhardigital.com.br/2025/02/25/ciencia-e-espaco/o-impacto-crescente-dos-megaicebergs-da-antartida/