*Cynthia Pereira, diretora de R&D da NotCo Brasil
É indiscutível que a Inteligência Artificial (IA) é a tecnologia do momento. Vários segmentos diferentes têm apostado em soluções que utilizam o recurso para tomar decisões assertivas e rápidas, considerando uma gama muito maior de variáveis do que o humano é capaz. Uma grande prova disso é a indústria alimentícia, que vem impulsionando experiências alimentares com benefícios sensoriais e funcionais nunca antes alcançados.
Hoje, já vemos marcas do setor usando a tecnologia de diversas maneiras, como é o caso, principalmente, da exploração inteligente e eficiente de matérias-primas. A ferramenta abre portas para que as companhias deste mercado analisem receitas e estruturas moleculares de ingredientes variados, melhorando os seus portfólios e criando produtos totalmente diferenciados.
Ou seja, essa avaliação proporcionada pela IA permite que as soluções criadas pelas empresas possam ir além de simplesmente novos lançamentos, sendo alternativas que atendem às demandas alimentares específicas dos consumidores. Cada aspecto do alimento, seja ele doce, salgado, quente ou frio, é levado em consideração e trabalhado à risca, eliminando algumas dores clássicas do segmento.
Um grande exemplo disso é a categoria de leites. Este é um dos ingredientes mais amados da cozinha brasileira e que, muitas vezes, pode trazer desconforto, inchaço e refluxo. Nesse sentido, a IA já passou a ser utilizada por algumas organizações para viabilizar a criação de opções para aqueles que possuem alergias e intolerâncias aos componentes da bebida, sem comprometer as experiências dessas pessoas em relação ao consumo desse clássico da culinária nacional.
Preparo em constante evolução
Ainda vale destacar que a IA é uma tecnologia recente, então, há melhorias e aprimoramentos realizados em suas capacidades a todo momento. Na indústria alimentícia, vemos isso com a otimização de experimentos orientadas pelo Machine Learning, reduzindo a necessidade de ensaios laboratoriais e garantindo eficiência na criação dos novos produtos.
Ou seja, ao englobar múltiplos sistemas e bases de dados volumosas, a ferramenta pode se especializar em fases distintas dos processos criativos das marcas. Da simulação de sabores e texturas de alimentos complexos à melhora da colaboração entre os fabricantes e os criadores de aromas, as suas novas funcionalidades permitem cada vez mais que as nuances de produto sejam perfeitamente capturadas e renovadas.
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Intervenção humana
Assim como no caso de qualquer outra tecnologia, a IA não atinge o seu potencial máximo sem a ação humana. Todas as aplicações das suas capacidades dependem dos conhecimentos de profissionais especializados e responsáveis, que entendem quais são as necessidades reais do público.
Na indústria alimentícia, estamos falando, principalmente, dos times de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) e chefs. Esses especialistas trazem feedbacks ricos e contínuos sobre a ferramenta, indicando maneiras de escalar novos produtos sem cair em clichês ou questões que comprometam padrões éticos.
Se pararmos para observar, já existem IAs que conseguem oferecer sugestões de combinações de ingredientes fazendo pesquisas aprofundadas em artigos científicos, conectando essas informações com a base de dados da respectiva marca. Contudo, os testes ainda estão nas mãos do time humano, que precisa interagir com a tecnologia para originar inovações.
Pensemos como exemplo em uma empresa que queira criar um grande lançamento para o Natal. A IA não consegue ter o nível de aprofundamento emocional característico do período sem o direcionamento de um ser humano que vive e sente essa época todos os anos. Portanto, apenas esse indivíduo pode usar a ferramenta para selecionar os ingredientes mais eficientes e seguros para criar um lançamento que condense afetividade, sabor e um bom desempenho.
Ter uma pessoa que experimenta e produz receitas diariamente é fundamental para que a tecnologia realmente abra espaço para a inovação alimentar, porque a comida está totalmente relacionada a sentimentos e histórias reais. Do almoço com os pais a uma noite inesquecível em um restaurante, cada uma dessas experiências só pode ser rememorada, aprimorada e elevada com os seres humanos sendo protagonistas nesta jornada.
Esse tipo de particularidade da indústria alimentícia, na verdade, é o que precisamos ver como uma referência para o uso correto da IA. Se utilizarmos a ferramenta como aliada, podemos transformar vidas inteiras e solucionar os mais diversos e complexos desafios do mercado tradicional.
*Cynthia Pereira é Diretora de R&D da NotCo Brasil, referência em inovação de alimentos e empresa de tecnologia de produtos plant-based com crescimento mais rápido na América Latina.
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