
Não é de agora que o Brasil testa o método Wolbachia para tentar combater a proliferação do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, Zika e chikungunya. A liberação da bactéria que inibe a reprodução do inseto ocorre há mais de dez anos em municípios do Rio de Janeiro, onde a redução do número de casos da dengue chegou a 69%.
O bom desempenho do projeto chamou atenção de uma gigante da tecnologia: o Google, que acaba de anunciar uma nova etapa da iniciativa. Desta vez, os testes serão realizados em Belo Horizonte, Minas Gerais. Nos próximos meses, a capital mineira vai receber uma tecnologia desenvolvida pela Debug, um projeto do Google em parceria com o World Mosquito Program (WMP) Brasil e a Wolbito do Brasil.
As duas organizações já são responsáveis pela operacionalização do método Wolbachia no país, conduzido pela Fiocruz, com financiamento do Ministério da Saúde.
“O Brasil tem um histórico de inovação e liderança em saúde pública. Essa nossa primeira iniciativa do projeto Debug no país é um reconhecimento dessa expertise e da importância de unir o que há de mais avançado em tecnologia com o conhecimento local. Estamos testando um modelo que pode ser replicado em diversas partes do mundo”, diz Linus Upson, presidente da Debug.
O que tem de novo?
O projeto-piloto vai testar o uso de vans adaptadas com tecnologias criadas para a liberação de mosquitos, substituindo métodos manuais de soltura. Além disso, haverá monitoramento via sistema de GPS, permitindo a cobertura de áreas mais extensas em menor espaço de tempo e abrindo caminhos para novas estratégias de combate às doenças transmitidas por mosquitos, diz o Google.
A Debug usa inteligência artificial para otimizar o processo de criação de mosquitos e selecioná-los com base no sexo. Esse tipo de controle já passou por testes nos Estados Unidos, Austrália e Ilhas Virgens Britânicas. Em Singapura, a tecnologia vem sendo aplicada desde 2018 em parceria com o governo local.
Aqui no Brasil, os ovos serão produzidos pela Wolbito do Brasil, que é também a maior biofábrica de Aedes aegypti com Wolbachia do mundo, com capacidade de entrega de até 100 milhões de ovos por semana.

Além de Belo Horizonte (MG), o método Wolbachia está sendo implementado pelo WMP em Presidente Prudente (SP), Uberlândia (MG) e Natal (RN). Pelo WMP, já foi conduzido em outras seis cidades: parte da cidade do Rio de Janeiro (RJ), Londrina (PR), Foz do Iguaçu (PR), Campo Grande (MS), Joinville (SC) e Petrolina (PE).
Pela Wolbito do Brasil, seis municípios estão com a implementação em andamento: Balneário Camboriú (SC), Blumenau (SC), novas áreas de Joinville (SC), Valparaíso de Goiás e Luziânia, em Goiás, e Brasília (DF). A escolha dos municípios depende do Ministério da Saúde.
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Relembrando a técnica
A bactéria Wolbachia está presente em 60% dos insetos da natureza — mas não no Aedes aegypti. Foi na Austrália que os cientistas descobriram que ela impede a replicação dos vírus transmitidos por mosquitos ao transformar o vetor em aliado. O método é natural e não inclui qualquer modificação genética na bactéria ou no mosquito.

Quando os chamados “Wolbitos” são liberados no meio ambiente, eles se reproduzem com mosquitos locais, transferindo a Wolbachia para as próximas gerações. Assim, conforme o tempo passa, a capacidade de transmissão de doenças vai sendo reduzida de forma autossustentável.
A Organização Mundial da Saúde esclarece que a bactéria Wolbachia não apresenta riscos para os seres humanos, animais ou meio ambiente. Os efeitos são acompanhados por meio de estudos epidemiológicos rigorosos e a eficácia também depende de esforços da comunidade local para evitar criadouros do mosquito.
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