Por Nelson Leoni, CEO e cofundador da WideLabs
Em 2025, a inteligência artificial deixou de ser promessa tecnológica e passou a ocupar um lugar definitivo na formulação de políticas públicas, na estratégia das organizações e no cotidiano profissional. Foi um ano decisivo, no qual o Brasil não apenas acompanhou a evolução global, mas assumiu uma postura mais assertiva em relação à soberania digital e ao desenvolvimento de uma infraestrutura própria.
De acordo com a terceira edição do Índice Latino-Americano de Inteligência Artificial (ILIA), o Brasil concentra mais de 90% da capacidade de computação de alto desempenho da região. Esse dado revela um ponto fundamental: o país tem condições reais de sustentar uma agenda própria de IA, menos dependente dos grandes centros internacionais. A consolidação dessa infraestrutura modificou profundamente o cenário nacional e abriu novas oportunidades para pesquisa, inovação e competitividade.
Ao longo do ano, modelos generativos mais avançados impulsionaram uma adoção acelerada. Instituições públicas, setor privado e área de saúde passaram a treinar e ajustar suas próprias IAs, incorporando a tecnologia a processos antes inteiramente humanos. A elaboração de documentos, a triagem clínica, a análise de dados e a criação de materiais institucionais se tornaram rotinas automatizadas e, em muitos casos, aprimoradas pelo uso de modelos generativos capazes de aprender e produzir com fluidez cada vez maior.
Paralelamente, o avanço dos chips projetados para processamento intensivo reduziu drasticamente o tempo necessário para treinar modelos, antes restrito a supercomputadores de grande porte. Esse salto permitiu que universidades, startups e empresas competissem em condições mais equilibradas, desenvolvendo IAs próprias adaptadas às realidades brasileiras. O país deixou de atuar apenas como consumidor e começou, de forma mais consistente, a produzir tecnologia.
Economia e tecnologia
O impacto econômico desse movimento tornou-se rapidamente evidente. Surgiram centenas de novos negócios baseados em modelos abertos e em soluções especializadas, enquanto o trabalho passou por uma reconfiguração estrutural: profissionais passaram a interagir com sistemas inteligentes como parceiros cognitivos, e não apenas como ferramentas operacionais.
Ainda assim, o avanço trouxe à tona uma discussão que se tornou central em 2025: a dependência brasileira de tecnologias estrangeiras para sustentar parte significativa da nova economia algorítmica. Mesmo com infraestrutura crescente, componentes essenciais da cadeia de IA ainda vêm de fora do país. No entanto, o ano marcou o início de um movimento concreto em direção à autonomia, com políticas públicas voltadas à formação de profissionais, ao estímulo à inovação local e à construção de capacidades estratégicas.
Nesse contexto, foi publicada a versão final do Plano IA para o Bem de Todos (PBIA), elaborado pelo Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia. O documento estabelece diretrizes para o desenvolvimento ético, seguro e sustentável da IA no Brasil e prevê investimentos de R$ 23 bilhões em quatro anos. Desse total, R$ 1,15 bilhão é destinado à formação e à capacitação em IA preparando especialistas e requalificando trabalhadores. A maior parcela, equivalente a R$ 13,79 bilhões, impulsiona a inovação empresarial e busca estruturar uma cadeia de valor nacional capaz de posicionar o país como polo competitivo.
Ao final de 2025, torna-se claro que a inteligência artificial deixou de ocupar um papel meramente instrumental e passou a atuar como parceira criativa e estratégica dentro das instituições. O Brasil começou a transformar potencial em capacidade concreta, combinando infraestrutura, talento e uma visão clara de futuro digital.
O ano ficará registrado como o ponto em que o país deu passos reais rumo à autonomia tecnológica, estabelecendo as bases para um ecossistema de IA capaz de atender às próprias necessidades e, gradualmente, definir direções que reflitam a realidade e as ambições brasileiras.
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