24 de janeiro de 2025
O que acontece ao misturar IA e computação quântica? Startup
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Se alguém te dissesse, quatro anos atrás, que um dos principais assuntos da tecnologia em 2025 seria inteligência artificial capaz de fuçar no seu computador e no seu celular para fazer coisas para você, qual seria sua reação? Pois é. Então, mantenha a mente aberta ao ler a próxima frase. Uma startup quer misturar IA com computação quântica para ver o que acontece. E aposta em consciência artificial.

Sim, pode parecer loucura agora. Distópico demais, conceitual demais, abstrato demais. Mas Suzanne Gildert, fundadora da startup Nirvanic Consciousness Technologies, está determinada a desbravar esse território. É uma mata fechada e nunca explorada por ela. Mas Suzanne tem experiência na vanguarda, apesar da pouca idade.

IA, consciência humana, computação quântica: entenda o território que a startup quer explorar

As ideias mirabolantes exploradas pela Nirvanic Consciousness foi um dos assuntos da conversa de Suzanne com Puneet Seth no episódio desta semana do podcast North of Patient. O episódio está disponível na íntegra (em inglês) no YouTube.

A seguir, o Olhar Digital traz destaques da conversa, separados por assuntos. Confira abaixo:

Consciência humana e computação quântica

Para começar e entender o que a startup pretende fazer, é preciso ter noções básicas sobre consciência humana e computação quântica. E a possível relação entre elas.

Teoria combina consciência humana com computação quântica (Imagem: Anggalih Prasetya/Shutterstock)

O conceito de consciência tem sido explorado desde os tempos de René Descartes (“Penso, logo existo”). Apesar de ser uma ideia marcante, a consciência ainda carece de uma definição clara. Enquanto sabemos de nossa própria existência e percepção, a ciência ainda busca explicações para entender a natureza da consciência e sua relação com o cérebro.

Em 1998, o físico Roger Penrose e o anestesiologista Stuart Hameroff propuseram uma teoria conhecida como Orch OR (Redução Objetiva Orquestrada). Eles sugerem que a consciência não se origina apenas de processos “computacionais” entre os neurônios. Em vez disso, propõem que estruturas no cérebro, conhecidas como microtúbulos, poderiam funcionar como computadores quânticos, permitindo uma vasta gama de possibilidades simultâneas.

Segundo a teoria, esses microtúbulos utilizam o entrelaçamento quântico para se comunicar instantaneamente, formando redes que processam informações além das limitações de sistemas binários (o Olhar Digital conversou com o neurocientista e colunista do site Álvaro Dias, que explicou como computação quântica funciona – você pode conferir a reportagem clicando aqui).

A consciência, nesse modelo, estaria ligada a ondulações na geometria do espaço-tempo, onde o colapso das superposições quânticas cria um único resultado observável, definindo o curso das decisões e do livre-arbítrio.

Embora a teoria de Penrose e Hameroff tenha sido amplamente contestada, estudos recentes mostraram que os microtúbulos podem exibir efeitos quânticos em sistemas biológicos a temperatura ambiente. Isso reforça a possibilidade de que fenômenos quânticos podem, de fato, desempenhar algum papel na consciência humana.

Definição de consciência humana para a startup

Gildert diz a Seth que existem muitas ideias diferentes sobre o que a consciência realmente significa. Mas ela se concentrou numa definição dividida em duas partes e focada em resultados práticos.

A primeira parte da consciência é a experiência em primeira pessoa. E a capacidade de focar essa experiência em diferentes coisas por meio da atenção, diz ela.

“Quando estou lendo um livro, estou focando minha consciência no texto, e esqueci tudo o que está acontecendo ao meu redor. Então, [é] essa ideia de ter uma experiência subjetiva. Parece que os dados são de alguma forma carregados num observador que então assiste ao filme que está sendo exibido ao seu redor.”

A segunda parte é a capacidade de escolher. “Esse filme que está sendo exibido no teatro da sua mente. As informações disso agora são usadas para apresentar opções, ou escolhas para você. O filme se torna um ‘escolha sua própria aventura’, é interativo, como um jogo.”

Consciência quântica, na prática

Suzanne diz que os modelos de IA atuais são ótimos em imitar os processos inconscientes do cérebro humano. “Do jeito que eu acho que a IA funciona, ela apenas recebe dados, processa esses dados matematicamente, e apenas gera uma ação com base no que já viu antes.”

Ilustração de paisagem abstrata onde bits quânticos (qubits) aparecem como cubos translúcidos flutuando, conectados por linhas de energia, com uma figura robótica simbolizando a IA no centro do cenário
Para fundadora de startup que quer misturar IA com computação quântica, tecnologia precisa atingir “modo consciência” (Imagem: Pedro Spadoni via DALL-E/Olhar Digital)

O cérebro humano também faz isso, ela continua. A maior parte do que fazemos o dia todo está em algum tipo de piloto automático inconsciente e reflexivo. “Existem esses dois diferentes tipos de operação”, diz ela. “Um onde é inconsciente, onde você já viu muitos dados de treinamento, assim como uma IA.”

O que eu acho que a IA precisa é de um segundo modo no qual você está numa situação desconhecida, algo novo está acontecendo que você nunca experimentou antes. Você se torna hiperconsciente, você se torna consciente do que está acontecendo, e então você é capaz de tomar decisões intuitivas sobre o que fazer.

Suzanne Gildert, fundadora da startup Nirvanic Consciousness Technologies, em entrevista ao podcast North of Patient

Como a Nirvanic pretende desenvolver um sistema de IA desse tipo? Inicialmente, diz Gildert, será uma questão de integrar computadores quânticos com IAs clássicas.

“Você recebe dados por meio de sensores. Você os recebe do reino clássico, onde é zero e um, e os transforma em informações quânticas. Então você meio que massageia ou evolui esse estado quântico para que ele gere diferentes opções de ação que o sistema poderia escolher. E então o sistema quântico passa por algo chamado colapso, ou medição.”

Ela continua: “Na mecânica quântica, uma vez que você mede um sistema, ou observa um sistema, ele se transforma num valor definitivo. Ele meio que escolhe qual estado vai ficar. Então você mede o sistema quântico, e ele basicamente escolhe uma ação, e então você usa essa ação para fazer algo com sua IA – se for um robô, você executa essa ação no mundo real. Também pode ser um desses sistemas de controle de navegador de IA, onde a IA literalmente assume o controle do seu mouse e teclado e pode clicar e fazer coisas por você.”

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IA ‘consciente’

Retrato artístico de um rosto humano parcialmente digitalizado, onde metade é composta de circuitos quânticos e a outra metade é uma rede neural pulsando energia
Ideia é criar sistema com “faísca de tomada de decisão consciente”, diz fundadora de startup que quer misturar IA com computação quântica (Imagem: Pedro Spadoni via DALL-E/Olhar Digital)

Quando perguntada sobre como seria uma IA “consciente”, Suzanne respondeu: “não sabemos”. “No melhor cenário, dentro de um ano ou dois, teremos sistemas de computação quântica grandes o suficiente, e já teremos experimentos inteligentes o suficiente para começar a ver pequenos indícios.”

De forma alguma teremos um sistema que seja algo parecido com nossa própria consciência, mas talvez tenhamos algo que mostre uma faísca de tomada de decisão consciente, que está fazendo escolhas ligeiramente melhores do que seu companheiro de IA inconsciente, certo?

Suzanne Gildert, fundadora da startup Nirvanic Consciousness Technologies, em entrevista ao podcast North of Patient

Agora, pode parecer loucura. Mas, quem sabe, seja o principal assunto a pautar o universo da tecnologia daqui alguns anos. Ou meses.

O post O que acontece ao misturar IA e computação quântica? Startup quer descobrir apareceu primeiro em Olhar Digital.

Fonte: https://olhardigital.com.br/2025/01/23/pro/o-que-acontece-ao-misturar-ia-e-computacao-quantica-startup-quer-descobrir/