2 de novembro de 2025
O que significa “visitante interestelar”? Entenda o termo usado com
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Você pode até ter lido ou escutado em algum podcast sobre o 3I/Atlas ser uma nave espacial, ter tecnologia alienígena, atingir a Terra ou que a NASA ativou um programa de defesa planetária. A maioria dessas teorias foram desmentidas aqui mesmo no Olhar Digital.

Mas, antes que os amantes de teorias da conspiração fiquem frustrados, existe algo muito especial no 3I/Atlas (lê-se “três i atlas”). Esse cometa pertence a uma categoria raríssima na astronomia: a de “visitante interestelar” ou também de “objeto interestelar”.

Mas o que exatamente significa isso? E por que um corpo vindo de fora do nosso Sistema Solar é tão importante para a ciência? A gente explica.

O cometa 3I/Atlas, terceiro visitante interestelar já identificado, fez sua passagem pelo Sol recentemente antes de seguir viagem para fora do Sistema Solar. Imagem: Gemini / Olhar Digital

O que é um visitante interestelar?

Um visitante interestelar é qualquer objeto espacial (como um cometa, asteroide ou fragmento rochoso) que não se formou no nosso Sistema Solar. Em vez de orbitar o Sol, ele vem de outra estrela e cruza o nosso sistema apenas de passagem. Esse tipo de corpo celeste viaja pelo espaço interestelar por milhões (ou bilhões) de anos até um dia entrar na nossa região.

A palavra “visitante” é usada porque ele só está de passagem. Já “interestelar” vem da junção de “inter” (entre) e “estelar” (relacionado à estrela). Portanto, algo interestelar é aquilo que está entre as estrelas, no espaço que separa um sistema estelar de outro. É por isso que chamamos de objeto interestelar tudo o que se origina fora do nosso Sistema Solar e viaja por essas regiões até chegar aqui.

Como sabemos que o 3I/Atlas veio de outro sistema solar?

A principal pista está na órbita. Diferente dos cometas do nosso Sistema Solar, que costumam seguir trajetórias elípticas ao redor do Sol porque a gravidade os puxa de volta, o 3I/Atlas apresenta uma órbita hiperbólica. Esse formato indica que ele chegou com velocidade e ângulo suficientes para não ficar preso pela gravidade solar.

órbita elíptica vs trajetória hiperbólica
Enquanto cometas do Sistema Solar seguem órbitas elípticas ao redor do Sol, visitantes interestelares têm trajetórias hiperbólicas, passando apenas uma vez antes de voltar ao espaço interestelar. Imagem: Layse Ventura via ChatGPT / Olhar Digital

Quando um corpo tem esse tipo de trajetória, significa que ele não se formou aqui. Ele apenas entrou no Sistema Solar, fez uma passagem próxima ao Sol e agora está indo embora. Ou seja, o 3I/Atlas está apenas de visita e, depois de cruzar a nossa região, continuará sua jornada pelo espaço.

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Por que o 3I/Atlas é importante para a ciência?

O 3I/Atlas não é o primeiro visitante interestelar a passar pelo nosso Sistema Solar, mas ele é um dos pouquíssimos que conseguimos detectar e estudar. Antes dele, apenas dois objetos foram registrados com origem confirmada fora do Sistema Solar: o 1I/ʻOumuamua, observado em 2017, e o 2I/Borisov, em 2019.

Vale deixar claro que outros visitantes interestelares podem ter passado por aqui ao longo da história da Terra, mas não tínhamos tecnologia para identificá-los. A diferença agora é que contamos com telescópios e instrumentos capazes de detectar e analisar esses corpos em tempo real.

O que torna o 3I/Atlas tão interessante é que cada novo objeto observado permite comparar suas características com as dos anteriores. Assim, astrônomos conseguem entender melhor como cometas e asteroides se formam em outros sistemas planetários e se eles se parecem ou não com os do nosso Sistema Solar.

A sonda Europa Clipper, da NASA
A sonda Europa Clipper, da NASA, foi projetada para investigar Europa, lua gelada de Júpiter. Com 30 metros de envergadura e equipada com um conjunto avançado de instrumentos científicos, ela pode registrar dados inéditos do visitante interestelar 3I/Atlas durante seu trajeto. Imagem: NASA – JPL-Caltech / Divulgação

Além disso, o 3I/Atlas marca a primeira vez em que sondas espaciais estarão alinhadas para observar um visitante interestelar de perto. A Europa Clipper, da NASA, e a Hera, da ESA (Agência Espacial Europeia), devem cruzar a região onde estará a cauda do cometa, abrindo uma oportunidade rara de registrar dados diretos desse tipo de objeto. Embora ainda não seja garantido que as condições permitam medições completas, essa chance já representa um marco para a exploração espacial.

E dá para saber qual será o próximo visitante interestelar?

Por enquanto, não sabemos qual será o próximo objeto interestelar a passar pelo nosso Sistema Solar. Esses visitantes costumam ser detectados pouco tempo antes de chegarem, porque são muito pequenos, escuros e difíceis de observar quando ainda estão longe.

Diferente de cometas “da casa”, cuja órbita já é conhecida e pode ser prevista com anos ou séculos de antecedência, um objeto interestelar não tem uma rota fixa ao redor do Sol. Ele surge “do nada” na nossa direção e, só depois de observado por alguns dias, os astrônomos conseguem calcular sua trajetória e confirmar se veio de fora do Sistema Solar.

Localizado no Chile, o Vera C. Rubin Observatory será responsável pelo levantamento astronômico LSST, que mapeará o céu repetidamente por 10 anos. Ele deve revolucionar a detecção de asteroides e possíveis objetos interestelares. Imagem: RubinObs/NOIRLab/SLAC/NSF/DOE/AURA

Mesmo assim, a expectativa da comunidade científica é que mais objetos interestelares sejam descobertos nos próximos anos. Isso porque novos telescópios estão prestes a entrar em operação, como o poderoso Observatório Vera C. Rubin, recém-inaugurado no Chile.

Além disso, a ESA tem uma missão chamada “Comet Interceptor”, com lançamento previsto para 2029, que ficará “de prontidão” no espaço esperando um alvo ideal. Se o timing for perfeito, poderá ser a primeira missão da história a encontrar um visitante desses de perto.

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Fonte: https://olhardigital.com.br/2025/11/02/ciencia-e-espaco/o-que-significa-visitante-interestelar-entenda-o-termo-usado-com-o-3i-atlas/