Um dos maiores mistérios da astronomia maia pode finalmente ter sido resolvido. Um novo estudo explica, pela primeira vez de forma convincente, como especialistas da civilização maia utilizavam o Dresden Codex — um dos poucos manuscritos pré-colombianos preservados — para prever os eclipses solares visíveis no território maia entre 350 e 1150 d.C. A descoberta revela o vínculo entre matemática, astronomia e práticas rituais que marcavam a sociedade maia, cuja vida política e religiosa era profundamente guiada pelos ciclos celestes.
O Dresden Codex, escrito entre os séculos 11 e 12, é um manuscrito de 78 páginas feito em papel de casca de árvore e repleto de ilustrações coloridas sobre ciclos lunares, astrologia, medicina e fenômenos astronômicos. Entre suas seções, uma tabela de 405 meses lunares (11.960 dias) sempre intrigou estudiosos por supostamente permitir a previsão de eclipses — mas a forma correta de utilizá-la permanecia incerta.
Como o Dresden Codex ajudava os maias a antecipar cada eclipse
Um eclipse solar tinha enorme peso espiritual entre os maias. Quando o Sol era coberto pela Lua e o dia escurecia, membros da nobreza realizavam rituais de sangue para fortalecer o deus Sol e garantir a continuidade dos ciclos de destruição e renascimento. Por isso, prever esses eventos era essencial.
Segundo Kimberley Breuer, historiadora da Universidade do Texas, conhecer os padrões celestes permitia aos governantes preparar cerimônias específicas e tomar decisões consideradas cruciais para o destino da comunidade.
A nova interpretação, proposta pelo linguista John Justeson e pelo arqueólogo Justin Lowry, rejeita a suposição histórica de que a tabela funcionava como um ciclo contínuo — reiniciando no mês 1 após atingir o mês 405. Os pesquisadores mostram que esse método não prevê eclipses corretamente e acumula erros rapidamente.
A solução encontrada por eles é surpreendentemente simples: a cada ciclo, a nova tabela deveria começar no mês 358 da anterior. E, ocasionalmente, para corrigir desvios acumulados, a primeira data de uma tabela sucessora seria iniciada no mês 223. Esse ajuste fino garante precisão ao longo dos séculos.

O método maia e sua precisão impressionante
Ao comparar os cálculos do codex com dados astronômicos modernos, os pesquisadores concluíram que o sistema:
- Previa todos os eclipses solares visíveis na região por cerca de 800 anos;
- Acumulava erros inferiores a 2 horas e 20 minutos na maioria das previsões;
- Mantinha precisão com desvios abaixo de 51 minutos ao longo de 134 anos;
- Permanecia funcional indefinidamente graças às correções nos meses 358 ou 223.
A descoberta reforça o papel dos “daykeepers” — especialistas responsáveis por acompanhar e registrar os ciclos astronômicos. A sofisticação matemática envolvida mostra como a cosmologia maia integrava ciência, religião e política, permitindo previsões que, segundo o estudo, rivalizam com modelos desenvolvidos séculos depois no Ocidente.
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A pesquisa foi publicada na revista Science Advances e oferece um novo olhar sobre o conhecimento astronômico de uma das civilizações mais enigmáticas das Américas.
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