
Uma nuvem gigante de gás e poeira cósmica conhecida como Onda Radcliffe já encontrou e engoliu o Sistema Solar. Segundo um estudo, isso ocorreu há 14 milhões de anos e diminuiu a visão do céu estrelado a partir da Terra. De acordo com os autores, o evento pode ter deixado traços na história geológica terrestre.
Em 2024, cientistas descobriram ondas galácticas enormes feitas de estrelas, gás e poeira na Via Láctea. Uma das mais próximas e evidentes é a Onda Radcliffe, com 9 mil anos-luz de largura e a cerca de 500 anos-luz de distância do Sistema Solar.
Pesquisadores da Universidade de Viena, na Áustria, descobriram que essa onda já esteve mais próxima da Terra. Ela cruzou com a órbita solar e seus planetas entre 11 e 18 milhões de anos atrás, segundo a pesquisa.
A equipe usou dados coletados pelo Telescópio Gaia, da Agência Espacial Europeia (ESA), responsável por mapear milhares de estrelas na Via Láctea. O foco do estudo foi identificar grupos recém formados de estrelas dentro de Radcliffe com as nuvens de poeira e gás das quais elas foram feitas.
Por meio dessas informações, eles puderam compreender como a onda se move. A partir dessa análise, mapearam as órbitas das nuvens de gás no decorrer do tempo e conseguiram revelar suas diferentes localizações pela história do Universo.
Onda cósmica já engoliu o Sistema Solar
“A descoberta de novas estruturas galácticas, como a onda de Radcliffe, levanta a questão de se o Sol encontrou alguma delas”, dizem os pesquisadores.
Em busca da resposta, o grupo calculou o passado da Via Láctea, voltando aos eventos dos últimos 30 milhões de anos. Ao regredirem, descobriram que o Sol e Radcliffe fizeram uma aproximação entre cerca de 15 e 12 milhões de anos atrás. Eles estimam que o Sistema Solar estava dentro da onda há 14 milhões de anos.

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Esse evento teria tornado a visão do céu noturno a partir da Terra mais escuro do que parece hoje. O contraste ocorreria principalmente pelo planeta estar numa área relativamente vazia do espaço.
“Se estivermos em uma região mais densa do meio interestelar, isso significaria que a luz vinda das estrelas para você seria diminuída. É como estar em um dia de neblina”, diz Efrem Maconi, principal autor do estudo.
Evento pode ter deixado rastros
O encontro entre os corpos galácticos pode ter deixado evidências na história natural da Terra, observadas no depósito de isótopos na crosta. Porém, os autores explicam que isso é difícil de mensurar devido ao passado distante quando aconteceu.
A Terra passava por um período de esfriamento, chamado de Mioceno Médio, quando a onda provavelmente atravessou o Sistema Solar. Há a possibilidade de que os dois eventos estejam ligados, porém, isso seria muito complicado de se provar, de acordo com Maconi.
Para Ralph Schoenrich, professor de física climática da Universidade de Londres, uma regra geral na história terrestre é que a geologia supera qualquer influência cósmica.
“Se você deslocar continentes ou interromper correntes oceânicas, você terá mudanças climáticas a partir disso, então sou muito cético de que você precise de algo adicional”, conclui o físico.
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Fonte: https://olhardigital.com.br/2025/03/12/ciencia-e-espaco/onda-galactica-de-gas-e-poeira-engoliu-o-sistema-solar-ha-14-milhoes-de-anos/