No início de abril, um calor implacável assolou a capital de Mali, Bamako, elevando as temperaturas para além dos 43 °C. A intensidade do calor forçou as pessoas a se refugiarem em suas casas, enquanto o preço do gelo disparava e o já sobrecarregado sistema elétrico falhava repetidas vezes.
Mali, um país de maioria muçulmana, estava no meio do mês sagrado do Ramadã, o que exacerbou os efeitos da onda de calor devido ao jejum durante o dia. Os casos de desidratação e insolação tornaram-se epidêmicos, com relatos de falhas nos rins e fígados, além de inchaço cerebral.
Segundo o The Washington Post, em apenas quatro dias, o principal hospital de Bamako registrou um número de óbitos equivalente ao de um mês inteiro, e os cemitérios locais mal conseguiam acompanhar a demanda.
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Este episódio é apenas a mais recente manifestação de um aumento alarmante nas temperaturas globais, que os cientistas atribuem ao impacto humano no clima, intensificado pela queima descontrolada de combustíveis fósseis e um padrão climático de El Niño que começou em junho passado.
Este ano, o planeta ultrapassou o limiar de aquecimento de 1,5 ºC acima dos níveis pré-industriais, com quase 19 mil estações meteorológicas registrando temperaturas recordes desde 1º de janeiro.
Estamos vivendo uma nova era climática?
Gavin Schmidt, diretor do Instituto Goddard de Estudos Espaciais da NASA, destaca que os próximos meses serão cruciais para determinar se o clima da Terra sofreu uma mudança fundamental, sugerindo uma nova era climática que desafia os modelos existentes e aumenta a frequência de eventos extremos.
As altas temperaturas não são apenas estatísticas; elas têm impactos profundos e diretos sobre as pessoas e os ecossistemas. Por exemplo, o gelo marinho ao redor da Antártica diminuiu para o menor tamanho já registrado e o rio Amazonas atingiu seu nível mais baixo desde que as medições começaram.
Além disso, um evento de branqueamento de corais global, o quarto na história, foi declarado recentemente, sinalizando uma crise acelerada nos oceanos.
Ainda que as temperaturas globais possam retornar a uma trajetória mais previsível com a transição de El Niño para La Niña, prevista para o próximo verão no hemisfério Norte, os efeitos do aquecimento já colocaram o clima em território desconhecido.
Clair Barnes, pesquisadora do Instituto Grantham no Imperial College London, enfatiza que estamos ultrapassando os limites do que seria considerado clima normal ou mesmo viável no passado.
Se as emissões de dióxido de carbono e outros gases de efeito estufa continuarem, o mundo só experimentará um aumento no aquecimento, e eventos extremos como a onda de calor em Mali se tornarão mais frequentes e intensos. Barnes conclui com uma nota sombria: “Esta não é a nova normalidade. Estamos a caminho do desconhecido.”
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