O cometa C/2023 A3 (Tsuchinshan-ATLAS) está se aproximando do Sol e da Terra, e tem gerado grande expectativa entre os entusiastas da astronomia. Muitos o consideram um candidato ao título de “O Cometa do Século”, prometendo um deslumbrante espetáculo celeste de tirar o fôlego. Mas será que este cometa tem mesmo potencial para conquistar esse título? Infelizmente, isso é pouco provável. A história nos mostra que esses viajantes gelados do espaço são imprevisíveis e podem nos surpreender, ou nos frustrar. Só que o problema para o Tsuchinshan-ATLAS é que a concorrência é pesada.
E para entender o que esperar do C/2023 A3, vamos relembrar os três cometas mais brilhantes que cruzaram os nossos céus desde o início do século. Só assim, teremos uma boa ideia de quais as chances que o Tsuchinshan-ATLAS tem de surpreender e se tornar o cometa do século.
1. Cometa NEOWISE (C/2020 F3): O Cometa da Pandemia
Em 2020, em meio à pandemia que assolava o mundo, o cometa C/2020 F3 NEOWISE, descoberto pelo telescópio espacial NEOWISE da NASA, trouxe um pouco de beleza e esperança para os céus noturnos. Ele atingiu magnitude zero, o que é tão brilhante quanto as estrelas Canopus e Vega, tornando-se visível a olho nu por várias semanas, o NEOWISE encantou observadores do Hemisfério Norte com sua cauda longa e brilhante.
Cometas brilham porque são compostos de gases congelados, gelo de água e poeira, e ao se aproximarem do Sol, esse material volátil acaba evaporando e formando uma bolha de gás em torno deles. Sob ação dos ventos solares, esses gases são ionizados e brilham como uma lâmpada. Além disso, os mesmos ventos solares arrastam parte desses gases e também da poeira ejetada do cometa, formando uma bela cauda, que pode atingir vários milhões de quilômetros.
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Quando foi descoberto, em março de 2020, não havia grandes expectativas para o NEOWISE. Na época, todas as atenções estavam voltadas para o Cometa C/2019 Y4 (ATLAS), que esperava-se que desse um espetáculo no céu. Entretanto, o ATLAS frustrou as expectativas, se desintegrando em sua aproximação do Sol. O show ficou por conta do NEOWISE, que surpreendeu os astrônomos, proporcionando imagens memoráveis e que foram um verdadeiro alento cósmico em meio a tempos tão difíceis.
Além de terem sido descobertos pelo mesmo programa de busca, uma semelhança entre o Cometa ATLAS e o Tsuchinshan-ATLAS, é que ambos se aproximam (no caso do ATLAS, se aproximaria) bastante do Sol em seu periélio. Isso acabou sendo fatal para o ATLAS e pode frustrar nossas expectativas em relação ao Tsuchinshan-ATLAS. Mas em 2011, uma aproximação ainda maior acabou proporcionando um espetáculo surpreendente.
2. Cometa Lovejoy (C/2011 W3): O Sobrevivente Solar
Naquele ano, o cometa C/2011 W3 Lovejoy, descoberto pelo astrônomo amador Terry Lovejoy, desafiou todas as probabilidades ao sobreviver a um encontro rasante com o Sol! Em dezembro de 2011, ele, literalmente, tomou um banho de Sol, mergulhando na coroa solar e, resistindo a temperatura de milhões de graus célsius para um surpreendente e exuberante retorno do inferno.
Não havia nenhuma expectativa que o Lovejoy sobrevivesse a este mergulho no Sol. Mas, ao invés de desintegrar o cometa, essa aproximação intensificou sua atividade, lançando no espaço milhões de toneladas de gases e poeira, criando uma cauda absolutamente fenomenal, e proporcionando um espetáculo celestial, que pode ser contemplado do Hemisfério Sul do planeta e também, a partir da Estação Espacial Internacional.
No final daquele ano, o Lovejoy atingiu magnitude -3.5, se aproximando ao brilho de Vênus, o astro mais luminoso do céu noturno depois da Lua. Bater o Lovejoy não será uma tarefa simples para o Tsuchinshan-ATLAS, mas nada que se compare ao desafio épico de superar o grande cometa de 2007, que é o nosso medalhista de ouro desta lista.
3. Cometa McNaught (C/2006 P1): O Grande Cometa de 2007
Em 2007, o cometa C/2006 P1 McNaught, descoberto pelo astrônomo Robert McNaught, roubou a cena nos céus do Hemisfério Sul, deixando os amantes da astronomia extasiados! O Cometa McNaught atingiu magnitude 5.5, um brilho 3 vezes mais intenso que o de Vênus, se tornando visível até mesmo durante à luz do dia. Além disso, sua aproximação do Sol criou uma cauda excepcional, que se estendia por mais de 35 graus no céu. Um espetáculo magnífico, que fez do McNaught, o maior cometa já observado desde o Ikea Seki de 1965.
Desde sua descoberta, esperava-se que o McNaught se tornasse visível a olho nu, mas ninguém imaginava que ele fosse proporcionar aquele espetáculo. Cometas costumam ser surpreendentes porque muitos deles vem dos confins do sistema solar e levam milhares de anos para se aproximar do Sol. Então, a cada aparição, os astrônomos têm que lidar com objetos completamente desconhecidos e, por sua natureza volátil, podem apresentar um comportamento imprevisível ao se aproximar do Sol.
O McNaught, assim como o Tsuchinshan-ATLAS, teve origem nas profundezas do Sistema Solar e estava em sua primeira visita às proximidades do Sol. O McNaught superou todas as previsões, inclusive as mais otimistas, tornando-se um dos cometas mais brilhantes das últimas décadas e que é, até hoje, o Cometa do Século. Será que o Tsuchinshan-ATLAS conseguirá superar o brilho do McNaught e se tornar o cometa mais brilhante do século 21?
O Tsuchinshan-ATLAS pode se tornar mais brilhante que o McNaught?
Parece pouco provável. Mas há algo comum entre esses 3 cometas que apresentamos aqui: todos eles superaram nossas expectativas. Então, a melhor forma de saber se este será ou não “O Cometa do Século” é observá-lo. Observar e torcer para que o cometa C/2023 A3 Tsuchinshan-ATLAS seja surpreendente como o NEOWISE, resistente como o Lovejoy e espetacular como o McNaught. E que ele nos mostre, mais uma vez, que a imprevisibilidade é o melhor defeito dos cometas.
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Fonte: https://olhardigital.com.br/2024/09/16/colunistas/os-cometas-mais-brilhantes-deste-seculo/