Um pedaço do fundo do oceano Pacífico, a oeste da América do Sul, foi puxado para o manto da Terra há 250 milhões de anos, quando ainda existiam dinossauros. Mas não se dissolveu, como geralmente acontece. E isso pode mudar o que se sabe do interior do planeta. Pelo menos, é o que sugere uma pesquisa publicada na revista Science Advances recentemente.
O que você precisa saber para começar a entender: o fundo do oceano passa por um processo constante de formação, em dorsais meso-oceânicas, e destruição. Isso ocorre em zonas de subducção, onde placas continentais forçam placas oceânicas para dentro do manto da Terra. É lá onde elas eventualmente se dissolvem. Mas existem exceções, aparentemente.
Pedaço do fundo do Pacífico que era para ter se dissolvido há milhões de anos ainda existe
Uma equipe liderada por Jingchuan Wang, da Universidade de Maryland (EUA), usou uma nova técnica sísmica para estudar a estrutura do manto sob o Pacífico oriental. Onde o manto superior e o inferior se encontram, há uma área conhecida como zona de transição do manto.
As ondas refletidas de volta para o grupo mostraram o seguinte:
- Ao largo da América do Sul, há evidências de que a zona de transição é incomumente espessa;
- Essa zona se estende de 410 a 660 quilômetros abaixo do fundo do mar.
Essa área, que fica na Placa de Nazca, é “como se fosse uma impressão digital fossilizada de um antigo pedaço de fundo oceânico”, explicou Wang, em comunicado publicado no site da universidade. Pedaço este que tem 250 milhões de anos, diga-se. “Nos dá um vislumbre do passado da Terra que nunca tivemos antes.”
A equipe utilizou um novo método mais avançado de imagem sísmica para entender o que está acontecendo dentro do manto. “Você pode pensar na imagem sísmica como algo semelhante a uma tomografia computadorizada. Basicamente, nos permitiu ter uma visão em seção transversal do interior do nosso planeta”, explicou Wang.
Pedaço ‘sobrevivente’
A subducção deste pedaço deve ter continuado até aproximadamente 120 milhões de anos atrás. Mas os pesquisadores acreditam que cerca de 14% do volume original do pedaço “sobreviveu” ao processo.
“O material afundava a cerca da metade da velocidade que esperávamos, o que sugere que a zona de transição do manto pode atuar como uma barreira e desacelerar o movimento de material pela Terra”, disse Wang.
O pesquisador foi além: “Nossa descoberta abre novas questões sobre como a Terra profunda influencia o que vemos na superfície em grandes distâncias e escalas de tempo.”
Duas grandes questões surgem a partir da descoberta:
- Quão incomum é esse afundamento lento?
- Quais efeitos ele tem no comportamento das placas acima (que literalmente têm mais impacto na nossa vida)?
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A explicação da equipe para a resistência da zona de transição é que ela é fria de um jeito incomum nessa área. Mas mais pesquisas são necessárias para responder as questões levantadas.
Próximos passos: Wang está confiante de que a imagem sísmica mais avançada mudará como se pesquisa sobre o manto da Terra.
- “Acreditamos que existem muitas outras estruturas antigas esperando para serem descobertas no interior profundo da Terra. Cada uma delas tem o potencial de revelar percepções sobre o complexo passado do nosso planeta – e até mesmo levar a uma melhor compreensão de outros planetas além do nosso.“
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